A formulação edípica.
Quem foi Édipo?
Para construir o conceito de ‘Complexo de Édipo’, Freud utilizou-se da mitologia grega, mais especificamente do teatro, escrito por Sófocles para uma peça chamada “Rei Édipo”.
O mito conta a história de Laio, rei de Tebas, que teria sido avisado por um Oráculo sobre o seu futuro maldito: ele seria assassinado por seu próprio filho que se casaria com sua mulher, ou seja, com a própria mãe.
Para evitar que isso se concretizasse, Laio decide abandonar a criança num lugar distante, mandando colocar-lhe pregos nos pés, para que morresse. Um pastor encontra a criança ainda viva e dá-lhe o nome de Edipodos (pés-furados). Essa criança, mais tarde é adoptada pelo rei de Corinto.
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Ao consultar o Oráculo, Édipo recebe deste a mesma mensagem que seu pai, Laio, recebera anos antes, mas, acreditando que se tratava dos seus pais adoptivos, Édipo foge de Corinto. Em sua fuga, Édipo depara-se com um bando de negociantes e acaba por matá-los todos, tal como ao seu líder sem saber que esse líder era Laio, seu pai.
Ao chegar a Tebas, Édipo livra a cidade das suas ameaças, e assim recebe o titulo de rei e a mão da rainha Jocasta, sua mãe, agora viúva. Os dois casam-se e têm quatro filhos.
Gustavo Gasparani e Eliane Giardini na tragédia Rei Édipo (Foto – Murilo Meirelles)
Anos depois, quando uma peste chega à cidade, Édipo e Jocasta consultam juntos o Oráculo para tentar resolver essa questão e acabam por descobrir que são mãe e filho. Jocasta suicida-se e Édipo fura os próprios olhos como punição por não ter reconhecido a própria mãe.
Freud e a mitologia grega
Tomando como base o mito de Édipo, Freud assume a convicção de que existe na relação da tríade (pai-mãe-criança) um desejo incestuoso da criança pela mãe e a interferência odiada do pai nessa relação. Esta figura paterna, inicialmente entendida como ‘mero obstáculo à realização dos desejos’, é, aos poucos, introjetada.
O que é o ‘Complexo de Édipo’, segundo Freud
Segundo este psicanalista, o ‘Complexo de Édipo’ é uma formulação usada para explicar o desenvolvimento sexual infantil. Esse conceito foi trabalhado diversas vezes durante a construção da teoria freudiana e posteriormente por seguidores da psicanálise, tornando-se uma formulação ainda em construção à qual se dedicam inúmeros autores ao redor do mundo.
Uma das características marcantes da evolução do conceito de ‘Complexo de Édipo’ é a atribuição, cada vez maior, valorizando a fantasia. Isso porque a formulação edípica foi justamente a saída de Freud ao decidir abandonar a ‘Teoria do Trauma’, que colocava no plano do real a origem da neurose. Para entender melhor, vamos refazer resumidamente esse caminho percorrido por Freud…
Inicialmente, baseado nos relatos clínicos, Freud chegou a acreditar que a neurose adulta era decorrente de um trauma sexual, ocorrido na infância, que retornava anos mais tarde, na puberdade. Essa teorização, todavia, foi sendo desconstruída à medida que Freud passa a considerar que as experiências de seus pacientes se tratavam não de traumas reais, mas de fantasias. A mudança na teoria freudiana a partir disso é significativa: atribui-se grande valor ao conflito psíquico e admite-se a ambivalência de sentimentos das crianças na relação com seus pais.
Segundo Freud, a resolução do Complexo de Édipo é responsável pela inserção da criança na realidade, pela quebra das relações simbióticas, através do reconhecimento das interdições, ou seja, pelo reconhecimento do pai na relação.
O complexo de Édipo é, portanto, estruturante da personalidade, e a dificuldade em ultrapassar a identificação com a figura paterna pode ser a explicação de muitos comportamentos de dependência e imaturidade de muitos indivíduos adultos.
A inserção da figura paterna depende, em muito, da postura da mãe em relação ao pai. Não se pode falar numa idade exacta para que o complexo de Édipo se manifeste, ou mesmo despareça. Freud falava numa fase entre os três e os seis anos de idade. No entanto, para outros psicanalistas como Melanie Klein, a introjeção da figura paterna acontece bem antes, logo nos primeiros anos de vida.
(Fonte: um artigo de Juliana S. Ferrari)
Imagem:
Gustavo Gasparani e Eliane Giardini na tragédia Rei Édipo
(Foto: Murilo Meirelles)
Édipo…
A trágica lembrança
do amor maculado.
Por: Isabel Rosete (2008)
As mãos manchadas do sangue
do mesmo sangue,
por uma traição não premeditada.
A memória
de um pecado capital,
não mais compreendido
não mais perdoado.
Um amor proibido,
castrado
pelas teias da moralidade;
Um amor
pela Polis punido,
que as leis dos deuses
não respeita mais.
Édipo…
A vileza inconsciente
de uma alma apaixonada,
condenada
aos degredos da dilaceração,
de uma morte não anunciada.
Uma alma repleta de dor,
que os olhos cega,
para não mais avistar…
Isabel Rosete nasceu em 1965, em Aveiro (Portugal).
É licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa.