Na minha idade, encontro cada vez mais casais que se divorciaram. Pessoas na casa dos cinquenta, que cresceram a acreditar que o casamento era uma linha contínua de felicidade, até que a morte os separasse. Afinal, descobriram — muitas vezes da forma mais dura — que essa linha era tudo menos reta: repleta de curvas tão apertadas quanto insuportáveis, desvios irrespiráveis e becos sem saída. E a separação acabou por ser o único caminho possível.
Muitas dessas mulheres casaram-se não porque se apaixonaram, apesar de acreditarem que sim. Casaram-se porque os pais assim quiseram ou para corresponder às expectativas da família, porque o futuro marido tinha condições para lhes oferecer uma vida “boa”. O estatuto social falava mais alto do que o coração, que não era tido nem achado no assunto.
Anos depois, estão divorciadas. E renascidas.
Os homens, esses, reaparecem de forma mais aprumada. Sapatinho de vela a condizer com o cinto, lencinho no bolso do casaco igual ao padrão da camisa, e um entusiasmo juvenil que os faz parecer transpirar vinte anos de idade. De repente, descobrem o ginásio, novas capacidades, talentos improváveis — e muitas vezes incomprováveis — como se tivessem acordado de uma longa pausa existencial, quase sempre acompanhada de uma incontinência verbal.
As mulheres, por sua vez, andam em grupo. Como na adolescência, quando iam juntas à casa de banho, agora andam juntas em todo o lado: no café, no cinema, nas noitadas de petiscos e licores, nas escapadelas de fim de semana.
Não andam de mão dada, mas há nelas uma cumplicidade silenciosa. Quase tribal.
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Maquilhadas com várias demãos, saltos vertiginosamente altos, decotes ousados. Na estica. Quase a parecer que têm vinte anos. Ou, mais importante ainda, que finalmente os estão a viver.
Cansadas da mentira em que viveram, da sua enganosa condição de casadas-felizes, querem aproveitar ao máximo o que deixaram para trás, agora em modo DIV. DIV de divorciadas, DIV de divas, DIV de divertidas — pela primeira vez em muito tempo!
Desta vez, sem preconceitos, sem receio do comentário alheio e, sobretudo, sem a aprovação de quem, em muitos casos, as empurrou para o casamento. E bem, finalmente. A pobreza mental dos outros não deve nunca ditar a vida de ninguém. Já basta a pobre vida deles.
Na verdade, durante anos, ouviram que tinham tudo: casa, filhos, estabilidade. Mas faltava-lhes o essencial — e que julgavam ter vivido: a paixão.
Seduzidas pelo capital social de alguns, algumas o que perderam não foi pouco, desde logo, uma juventude mal-empregue. E o melhor que agora perderam foi a ilusão.
Segundo a Bíblia, não é bom estar sozinho e daí: “crescei e multiplicai-vos”. Neste caso, e nesta idade, pode ser tudo menos “multiplicai-vos”. Que tal: “divirtam-se, despidas de preconceitos (e não só)”!