Editorial

DEFENDER O PATRIMÓNIO NÃO É APENAS UM DIREITO, É UM DEVER!
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Redação

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Manuel Monteiro

Professor Universitário

  1. Defender o património, nomeadamente o urbanístico, significa também proteger as populações da voracidade construtiva que, em nome de um muito duvidoso desenvolvimento, não olha a meios para descaracterizar o que ajuda a definir a identidade própria de aldeias, vilas e cidades. Aliada tantas vezes à insensibilidade autárquica e à complacência de outras instituições e outros organismos públicos, essa voracidade construtiva nunca se preocupou nem com a tradição, nem com a preservação.

Tendo como único intuito o lucro a qualquer preço, apresentando-se portadores da bandeira do modernismo, que não é exactamente o mesmo que modernidade, os sôfregos construtores jamais se inquietaram com a destruição da natureza ou com a degradação de monumentos, bairros ou edifícios, que são o testemunho vivo de uma história que não pode ser desprezada ou negada. Sabendo ter como dilectos defensores aqueles que na sua superior sabedoria sempre entenderam a afirmação do que é novo através do esquecimento do que é antigo, estes neo-colonizadores do betão foram progredindo à custa da conivência, umas vezes tão bem-intencionada quanto ignorante, outras objectivamente interessada, de muitos responsáveis políticos locais.

A doutrina do fazer obra, e do fazer obra para deixar uma qualquer marca, foi nestes termos implantada, substituindo o princípio de que a construção, qualquer construção, não pode deixar de estar associada a uma ideia de Cidade e que essa ideia deve sempre procurar conciliar o que queremos ser, com aquilo que somos e com aquilo que fomos. É afinal essa associação que também nos ajuda a distinguir e que contribui para o que é e deve ser diferente, não seja transformado em igual. Cidades diferentes são cidades com alma e com identidade, cidades iguais são dormitórios incaracterísticos e simplesmente despersonalizados.

 

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2        Parece ser em nome das ideias que acabo de expor, que surge a vontade de demolir um prédio – conhecido como prédio Coutinho – na cidade de Viana do Castelo. Um prédio, repita-se à exaustão, construído pouco tempo antes da revolução de Abril e, ao que sei, com todas as autorizações legais para o efeito. Diz-se que, não obstante já lá estar há mais de quarenta anos, que estraga e “corrói” o centro histórico onde está implantado. E há também quem considere, e com total legitimidade de opinião, que a sua demolição constituirá uma clara mensagem às gerações vindouras para o respeito a que devem estar obrigadas pelas zonas históricas das cidades. Sucede, porém, que o centro histórico da cidade de Viana do Castelo não corresponde apenas à parte edificada pelo homem, ele tem também de incluir a sua contígua zona ribeirinha na qual, na minha também legítima opinião, têm sido cometidos autênticos atentados ao enquadramento histórico-natural da cidade, se preferirmos do seu centro.

 

Surpreende-me, pois, que os diligentes defensores da destruição do referido prédio, não ergam as suas vozes para reivindicar igual destino aos barracões de cimento que destoam com a beleza de um estuário digno de qualquer cidade portuguesa ou estrangeira. Barracões de edificação bem mais recente que o prédio Coutinho e cuja demolição não afectaria de igual modo a tranquilidade de quem, de forma legal e transparente, um dia decidiu adquirir uma habitação para simplesmente viver e que o fez acreditando na verdade e na legalidade de quem o permitiu construir.

 

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