Editorial

DISCRETO E CONCRETO
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Jorge VER de Melo

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Jorge V.E.R. de Melo

Consultor de Comunicação

“Discreto e concreto” era o lema deste gestor diferente. Alguém que criou emprego para dezenas de milhares de pessoas fora e dentro do nosso país.

Seria incorreto e até injusto não lembrar aqui o engenheiro Belmiro de Azevedo que faleceu, com 79 anos, no passado dia 29 de Novembro.

Infelizmente somos capazes de gastar o nosso tempo de antena com questões que não têm nenhuma importância nas nossas vidas e passamos rapidamente por aqueles assuntos que foram e são fundamentais para o bem-estar do país, de todos nós.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Por pensarmos que as sociedades vivem e progridem com a experiencia da sua história, achamos que devemos apontar a vida de Belmiro de Azevedo, com o que possui de bom e de mau, como um exemplo a estudar.

Teve uma origem bastante modesta. Reprovado na primeira classe, logo no ano seguinte, com a mudança de professor, ele veio a transformar-se num aluno excecional. Esta situação é muito identificativa do tipo de ensino antes de 1974 onde existia pouca preparação pedagógica dos professores no ensino primário e um certo racismo em relação ao status familiar.

Pensamos que nesta altura ele terá passado pelas primeiras grandes dificuldades existenciais.

Depois, com o apoio do padrinho, Sr.º Belmiro, prosseguiu os estudos até se licenciar em engenharia química.

Entrou para a EFANOR como primeiro emprego mas onde realmente se salientou foi na SONAE. Admitido em 1965 conseguiu transformar, como engenheiro químico, a produção falida e inconstante em altamente produtiva e eficiente.

Anos depois, tudo isso foi reconhecido e o banqueiro Pinto de Magalhães com a sua administração resolveram atribuir-lhe regalias para o prender à organização. Foi então, em 1975, especializar-se em gestão de empresas na Universidade de Harvard (EUA) e mais tarde, em 1985, também em Stanford.

Logo na primeira especialização foi criada a GIC (Gestão Industrial e Comercial), talvez das primeiras empresas em Portugal que se preocuparam com a informatização da gestão.

Como em 1974, no momento da revolução, o banqueiro Afonso Pinto de Magalhães se encontrava no Brasil e não podia regressar devido ao PREC, pediu ao eng. Belmiro que assumisse o comando da empresa.

Com a nova gestão e a ajuda da situação política, alargaram-se as vertentes de negócio. Deu-se o “Boom” na evolução comercial e industrial.

É aqui que ele demonstra as suas superiores qualidades como gestor. Em pouco tempo transforma um grupo com quarenta e poucas empresas noutro com mais de duzentas.

Era realmente fora do vulgar, sem ser perfeito!

Por experiência própria posso afirmar-lhes que em reunião semanal coordenada por ele, na presença de representantes de mais de vinte empresas, ouvia tudo o que era discutido, sem apontamentos, dava diretrizes e na semana seguinte perguntava um a um, tratando-os pelo nome, tudo sobre as ocorrências da semana anterior e se tinham resolvido, como previsto,  os problemas em causa.

Ainda me lembro quando um dia lhe pergunto, em 1985:

– Qual é a razão para tanto empenho com o supermercado “Continente” quando o “Modelo” só deu prejuízos? Ele respondeu-me que eu não fazia a mais pequena ideia da agitação provocada nos banqueiros pelo interesse nos cerca de dez mil contos que entravam diariamente nas caixas desse supermercado. Estava explicado!   

Reparem que se tratava de um indivíduo com uma experiência de vida evolutiva, onde nada lhe foi oferecido e cujos bons resultados surgiram sempre com o fruto do seu trabalho e da sua competência.

Embora a família se tenha preocupado em tornar o funeral discreto como era seu apanágio, nós entendemos que os órgãos de informação se deveriam preocupar mais em divulgar o bom exemplo de gestor.

Este empreendedor sempre se distanciou da política não autorizando os seus colaboradores à prática de qualquer ilegalidade sob pena de despedimento.

O lema “discreto e concreto” era realmente o seu procedimento natural.

 

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