Doentes juntos em Ponte de Lima no Dia Nacional da Hemocromatose

No próximo dia 1, domingo, pelas 10,00 horas, há a concentração para uma caminhada, sendo o local de concentração no areal, em frente à antiga Cadeia, em Ponte de Lima. Posteriormente,pelas 13 horas, no Hotel Vila Galé, em Freixo, vai decorrer um almoço de convívio, aberto a doentes e ao público em geral, iniciativas estas que pretendem sensibilizar e  chamar a atenção sobre a doença da Hemocromatose.

A 7 de junho celebra-se o Dia Nacional da Hemocromatose. e de 1 a 8 de junho decorre a Semana Mundial da Hemocromatose.

A hemocromatose associada ao gene HFE (HH-HFE) é uma doença genética que se caracteriza pela acumulação progressiva de ferro no organismo. Se não for diagnosticada e tratada precocemente, pode levar a danos nos tecidos e ao desenvolvimento de doenças em diversos órgãos, sendo mais comum afetar o fígado, pâncreas, hipófise e articulações. Entre as complicações mais graves, com risco de mortalidade precoce, destacam-se a diabetes, a cirrose hepática e o cancro do fígado. No entanto, estas manifestações clínicas podem ser prevenidas com um tratamento precoce de remoção da sobrecarga de ferro, por meio de flebotomias (sangrias) programadas. O tratamento é simples, eficaz e bem tolerado pelos doentes.

PUB

A grande maioria dos indivíduos com hemocromatose (mais de 80%) é homozigótica para a mutação C282Y no gene HFE (i.e. tem 2 cópias do gene alterado). Em Portugal, estima-se que entre 4% e 10% da população seja portadora dessa mutação (com uma prevalência maior no norte do país). Isso implica que 1 em cada 500 portugueses pode ser homozigótico para a mutação e, assim, estar em risco de desenvolver a doença. Sendo assim, seria de esperar um elevado número de diagnósticos. Mas isso não é o que se observa na prática clínica. Esta aparente discrepância deve-se a uma baixa expressão das manifestações clínicas, por razões ainda não bem esclarecidas, mas pode também dever-se a subdiagnóstico, o que levanta várias questões sobre a melhor forma de intervenção nesta doença, no sentido de alertar e prevenir as suas consequências mais graves.

Os sintomas da HH-HFE são, muitas vezes, inespecíficos e podem incluir fadiga, dores abdominais, ausência de menstruação, diminuição da libido e hiperpigmentação da pele. A doença deve ser considerada especialmente em casos de diabetes tipo 1 em adultos (não em diabetes tipo 2) ou em situações de doença hepática sem explicação clara.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Devido à falta de sintomas específicos nas fases iniciais, a suspeita de HH-HFE deve ser baseada em análises bioquímicas de sobrecarga de ferro, como a saturação da transferrina e os níveis de ferritina sérica. Um aumento persistente da saturação da transferrina (>50%), sem outras causas conhecidas para a sobrecarga de ferro, é um indicativo forte de HH-HFE e justifica a realização de um teste genético confirmatório.

O facto de mais de 80% dos doentes com hemocromatose hereditária serem homozigóticos para a mutação C282Y do gene HFE permite um diagnóstico genético específico na maioria dos casos. A realização de rastreios genéticos em familiares de primeiro grau de indivíduos homozigóticos é uma estratégia eficaz e é recomendada. No entanto, esse rastreio deve ser feito dentro do contexto de um aconselhamento genético adequado, para garantir que a informação fornecida seja clara, evitando causar angústias desnecessárias ou falsas expectativas. Embora a mutação C282Y seja responsável por mais de 80% dos casos, formas raras de hemocromatose, geralmente mais graves e ocorrendo em jovens, associadas a mutações em outros genes, também podem ocorrer. Caso haja suspeita dessas formas raras, é recomendado encaminhar o paciente para um centro especializado em diagnóstico molecular.

PUB

O diagnóstico da HH-HFE envolve, além da confirmação genética, a avaliação da sobrecarga de ferro no fígado, que é o principal critério para iniciar o tratamento. A utilização de métodos de imagem, como a ressonância magnética, permite uma avaliação mais precisa dessa sobrecarga. Uma vez diagnosticada a sobrecarga de ferro, o tratamento consiste em flebotomias regulares. O tratamento é dividido em duas fases: uma fase inicial intensiva (geralmente semanal), com o objetivo de reduzir os níveis de ferritina sérica, e uma fase de manutenção (geralmente trimestral, mas adaptada a cada paciente), para evitar a reacumulação de ferro. O sangue retirado durante o tratamento pode ser utilizado para transfusões em outros pacientes, desde que não haja contraindicações médicas para a doação.

A Unidade de Hemocromatose e Metabolismo do Ferro do Hospital de Santo António tem uma consulta especializada em hemocromatose, e realiza o diagnóstico molecular de hemocromatose em parceria com o Centro de Genética Preditiva e Preventiva (CGPP/IBMC). A Consulta de Hemocromatose tem como objetivos gerais a assistência no diagnóstico diferencial de doentes com alterações do metabolismo do ferro, o estudo e seguimento de doentes com Hemocromatose Hereditária, a promoção do rastreio e prevenção da hemocromatose. Integra a EuroBloodNet, a Rede Europeia para Doenças Raras Hematológicas. A consulta tem também responsabilidades na formação pré e pós-graduada nas áreas de hemocromatose, metabolismo do ferro e anemias congénitas, e participa ativamente em projetos de investigação em articulação com o grupo BCRIB (Basic and Clinical Research on Iron Biology) do I3S e com o Departamento de Patologia e Imunologia Molecular do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Tem também fortes ligações internacionais, não só a nível da assistência e investigação, mas também como parceiro das Associações nacionais e internacionais de Doentes com Hemocromatose.

Por isso, na semana de 1 a 8 de junho celebra-se internacionalmente a semana da Hemocromatose e a Associação Portuguesa de Hemocromatose junta-se a esta iniciativa celebrando o Dia Nacional da Hemocromatose, estando este ano as celebrações centradas em Ponte de Lima.

PUB

Qual exame fazer para saber se tem hemocromatose?

Diagnóstico de hemocromatose
  1. Exames de sangue.
  2. Exames genéticos.
  3. Às vezes, biópsia hepática ou RM do fígado.
PUB
  Partilhar este artigo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PUB

Junte-se a nós todas as semanas