“Terrorismo de Estado” faz várias vítimas em Viana do Castelo

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Familiares dos moradores queixam-se pelo “despejo selvagem”!

“Terrorismo de Estado”, é assim que os familiares dos moradores do Prédio Coutinho já classificam a intervenção da empresa pública VianaPolis e da Câmara Municipal de Viana do Castelo, classificando como “despejo selvagem” o corte de água, gás e eletricidade em quatro dias, enquanto os responsáveis pela iniciativa invocam a “legalidade” dos atos e a PSP se vê no meio de um conflito que extravasa as suas competências, enquanto alguns agentes policiais também se terão excedido em relação às suas ordens superiores internas.

O facto de um agente da PSP de Viana do Castelo ter tentado que o filho de um homem de 88 anos lhe lançasse comida por uma corda, esta quinta-feira, à hora do almoço, vai já ser participado à Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI), segundo familiares de moradores do Prédio Coutinho, mas a Polícia  de Segurança Pública tem mantido desde sempre oficialmente uma versão que apenas está no local “para manter a ordem pública”.

Mas certos comentários de alguns agentes policiais defendendo a tese da VianaPolis e da Câmara Municipal de Viana do Castelo não terão passado em claro e haverá mesmo uma série de registos nesse sentido, de acordo com testemunhas oculares, que colocaram em causa a alegada “equidistância” da PSP de Viana do Castelo, ao longo de toda a semana.

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Por ironias do destino, é um antigo comandante distrital da Polícia de Segurança Pública de Viana do Castelo, Coronel Santos, um dos moradores resistentes, com a esposa e um filho, a queixar-se da intervenção policial, já que logo no primeiro dia desceu as escadas e disse “exigir” respeito, recordando que além do mais trata-se de um Capitão de Abril, o que não terá surtido qualquer efeito, apesar da indignação daquele oficial superior outrora ao serviço, entre outras unidades, do Batalhão de Caçadores 9, sito em Viana do Castelo.

Perante a indiferença da sociedade civil, este drama humano que se vive, começa a ocupar espaço em órgãos de comunicação social estrangeiros, sendo os jornalistas, especialmente dos canais televisivos, os “guardiões” do regime, que sem querer, mas com a sua simples presença têm evitado mais desmandos vitimando os onze residentes no Prédio Coutinho.

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A VianaPolis anunciou esta quinta-feira à tarde que a demolição do edifício habitacional, na sequência da última sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga, começará a qualquer momento, mesmo estando ocupados seis apartamentos do Prédio Coutinho, já que alega desobediência dos moradores a uma “decisão judicial legítima”, tendo entrado com processos criminais contra todos os residentes que se recusam a abandonar as casas.

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O médico Costa e Silva visitou todos os residentes, a meio desta semana, afirmando aos jornalistas “tratar-se de um problema de saúde pública” o que se passa no Prédio Coutinho e que “o estado geral dos moradores é de ansiedade, de incerteza e medo do futuro, há também razões de fundo para se sentirem desconfortáveis, há um problema de saúde pública, que é o facto de cortarem a água”, alertando para “a dificuldade que é as pessoas não poderem cozinhar ou até fazerem a sua higiene”, referindo ainda “o problema muito sério de uma senhora que depende de uma máquina de respiração, porque poderá ter crises em que necessita de apoio respiratório e se cortarem [como cortaram] a luz pode ser fatal”.

 

O médico referia-se a Maria José, espanhola, que padece de problemas asmáticos e apneia de sono, tendo desmaiado e rachado a cabeça, na quinta-feira, ao final da tarde, valendo a intervenção dos Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo, numa ambulância Posto de Emergência Médica do INEM, que a trataram no local, na sequência de uma crise que a vitimou, quando tentava entregar o seu cachorro a uma senhora para o passear no jardim.

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Maria José, que também sofre de problemas cardíacos, já tinha anunciado que iria entrar em greve de fome, o que não chegou a concretizar, dado o seu débil e precário estado de saúde, que se tem vindo a agravar desde segunda-feira de manhã, aquando da tentativa de despejo, por parte da VianaPolis e da Câmara Municipal de Viana do Castelo e da Polícia de Segurança Pública, que se tem mantido 24 horas por dia na portaria do prédio e vindo desde então a alargar o chamado “perímetro” de segurança, à medida que os dias passam.

Agostinho Correia, de 88 anos, está preso na sua própria casa, com a mulher, um ano mais nova, internada no Hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo, mas que foi obrigado a deixar de poder visitar, desde que os seguranças da empresa Zafezone disseram que se, tal como todos os outros moradores, saírem do Prédio Coutinho, não podem entrar mais, que significa serem despejados imediatamente, pelo que está a ser alimentado pelos filhos através de uma corda, desde que ficou sem água, gás e eletricidade, não tendo assim como tomar banho ou limpar as casas de banho, nem ainda descarregar as instalações sanitárias.

A mulher, por sua vez, esperava pela visita do marido, mas sabe que se Agostinho Correia sair de casa, fica na rua, manifestando a sua preocupação pela situação que ele vive, com o apoio dos filhos, destroçados com a situação, enquanto se teme o pior a todo o momento.

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Por isso mesmo, o advogado Magalhães Sant’Ana, em nome dos moradores do Prédio Coutinho admite processar criminalmente os autarcas de Viana do Castelo e a VianaPolis, se acontecer algum problema irreversível de saúde entre os clientes, com avançada idade.

O advogado equaciona ir ainda ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, agora que foi cortada a luz, após ter sido interrompido o fornecimento de a água para todo o prédio.

Magalhães Sant’Ana referiu ainda esta semana que “ninguém ignora estando uma casa às escuras, com pessoas de oitenta e muitos anos que têm dificuldades de locomoção, podem sofrer uma queda, por isso eu nem queria acreditar que alguém se decidisse cortar a luz”.

“Um eventual corte de eletricidade seria uma situação muito gravosa, eu diria até dolosa, porque o risco que isso pressupõe para os moradores é tremendo, insisto que uma pessoa às escuras, com dificuldades de locomoção pode ter um acidente com muita facilidade”, afirmou o advogado Magalhães Sant’Ana, afirmando igualmente “haver pessoas a sofrer de problemas respiratórios que têm aparelhos de auxílio à respiração que são alimentados a eletricidade, se nós chegamos agora a esse ponto há, sem dúvida, uma responsabilização criminal por qualquer coisa grave que possa acontecer com os moradores deste edifício”.

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