Não estou confortável neste modo, não fui talhada para levar e trazer mas abro uma excepção porque uma senhora integrada no tal grupo de “ peste grisalha “ me pediu ajuda.

Acha que escreve de maneira que nem todos entendem, que não está à vontade na arte de brincar com as letras, desculpas de mau pagador, acho eu. Vou ajudá-la.

“Conheço-te há muitos anos. Quando a minha mãe me contava a tua história quase que partilhava o bafo do burrinho, da vaca quando eram a única fonte de calor a aquecer o teu corpinho franzino e nu. Aventurei-me contigo a caminho da sinagoga onde deixaste os sacerdotes boquiabertos, furiosos, ao ouvirem-te doutrinar. E como soubeste pôs os pontos nos ís aos teus pais quando te ralharam por teres saído do seu controlo! Uma tarde tentei responder aos meus e o resultado foi uma estalada que me fez ver estrelas.

Quando, já na catequese, a Senhora Ema nos contou que quando cresceste eras muito amigo das crianças e até dizias aos teus seguidores “ Deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o reino dos céus “, a minha admiração por ti cresceu mais e mais. Era de valor levar todos os meninos para um reino onde havia pão com fartura, sol quentinho, animais amigos, enfim o paraíso! Mas e agora, o que é que te deu para levares os velhinhos não se sabe para onde , mas sabemos que as pernas doentes não os vão deixar brincar com animais ( imagina-os às corridas de compita com cavalos, até com burros lazarentos! )

Por isso pedi a esta minha amiga que te escrevesse como se fosse uma moção de censura à mesa, não sei se é assim que as coisas funcionam no teu reino… Mas discutam os prós e os contras desta leva desastrada de velhinhos e velhinhas que se calhar ainda fazem falta aos netos que gostam de ouvir histórias. Vamos a ver se consegues pôr fim a esta sangria  grisalha. “

E deste modo, mesmo contrariada, fiz a vontade à velha senhora e tentei pôr no papel o que me ia dizendo com o ar mais convincente deste mundo. Até quase me convenceu também.