Ensino / carreiras profissionais / mercado de trabalho

Jorge Melo

Mais uma vez o Ministério da Educação não fez o trabalho de casa a tempo e horas. O próximo ano letivo vai começar entre 15 e 21 de Setembro, com o atraso de uma semana em relação ao que tem sido habitual nos últimos anos. Esquecem-se de que estão a prejudicar milhares de pessoas. São os Encarregados de Educação que querem ir trabalhar e não sabem o que fazer com os filhos, os alunos que ficam com menos tempo para adquirirem os conteúdos obrigatórios e os profissionais do ensino que  não sabem o que vai acontecer à sua vida, além disso, os Professores vão ter que gerir o processo ensino/aprendizagem com  menos tempo. Esquecem-se também que acima de tudo estão mais uma vez a desrespeitar o cidadão que trabalha, paga os seus impostos e tem uma carreira para gerir.

Tiveram 365 dias para planear o novo ano letivo, mas em vez disso, perderam tempo com mordomias como: fustigar o juízo de quem trabalha inventando avaliações e exames a quem já os fez com a aprovação do próprio Ministério. Na minha opinião, deveriam por a funcionar uma equipe de inspetores que saibam distinguir quem produz cidadãos competentes. 

É que quando se escolhe uma profissão, imagina-se por consequência, uma carreira premiada pelo empenho e honestidade na procura permanente da competência sempre atualizada.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Esta é a forma de pensar do vulgar e honesto cidadão comum.

Para lá chegar o Estado gasta imenso dinheiro, por exemplo, a despesa total consolidada do programa do Ensino Básico e secundário e Administração Escolar em 2014 foi de 5.775,8 milhões de euros, menos 7,6 por cento do que em 2013.

Assim, podemos entender que para obtermos bons cidadãos, bons profissionais, tem que permanecer um grande investimento na informação, na cultura e na formação.

Até aqui tudo parece vulgar, básico, fundamental, mas não é!

Acontece que, por muito que qualquer Governo invista nesta área, existem regras que devem ser respeitadas para que o cidadão comum, depois de todo este investimento, (sem considerar o ensino superior e a investigação), não resolva emigrar.

Para isso, parece-me importante que todos os nossos governantes, gestores, diretores e administradores recordem que o ser humano, porque é um animal de hábitos, esquece com imensa facilidade que a competência que aquele trabalhador demonstra diariamente é importantíssima para a “mais-valia“  da instituição.

Por isso me parece fundamental que todos os gestores recordem com alguma permanência as “teoria da hierarquia das necessidades“ de Abraham Maslow.

  • Necessidades fisiológicas: fome, sede, sexo;

  • Necessidades de segurança: seguro em casa, no emprego, na religião, nas descobertas científicas e noutras;

  • Necessidades de amor, afeição, sentimentos de pertença como afeto e carinho.

  • Necessidades de estima, tais como, reconhecimento das nossas capacidades pessoais mas também pelos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos.

  • Necessidade de autorrealização. “Wat humans can be, they must be: they must be true to their own naturel“.

Quando este ciclo motivacional não é respeitado então surgem as frustrações que assumem determinadas atitudes:

  • Comportamento ilógico ou anormal;

  • Agressividade por não poder extravasar a insatisfação contida;

  • Nervosismo, insónia, distúrbios circulatório-digestivos;

  • Falta de interesse pelas tarefas ou objetivos;

  • Passividade, moral baixo, má vontade, pessimismo, resistência às modificações, insegurança, não colaboração, etc.

Este psicólogo de Brooklyn  e autor da “Introdução à Psicologia do Ser“, preocupava-se com a satisfação das necessidades do ser humano porque daí resulta o comportamento motivacional que desenvolve uma melhor criatividade e dinâmica na ação e na reação.

Se estas regras não forem cumpridas, não significa que o indivíduo permaneça eternamente frustrado, mas acaba por transferir a motivação e por consequência a criatividade para outros objetivos noutros locais onde seja compensado.

Penso humildemente que a situação atual do nosso pais poderá evoluir positivamente e sem tantos sacrificados se os dirigentes tentarem seguir estas regras que não são mais do que a humanização da atividade produtiva do cidadão.

No fundo são as necessidades de todos nós:

Necessidades de: auto realização, status, estima, estabilidade social, afeto, segurança, capacidade de sobrevivência e equilíbrio.

Trata-se da busca da proteção contra as ameaças da privação e do perigo. A procura do companheirismo, do amor, do afeto e da amizade. As pessoas têm que ser estimadas para possuírem auto estima e auto confiança. Só assim atingirão autonomia para a auto realização que eleva o potencial do ser humano e o projeta para um desenvolvimento permanente.

Temos que acabar com as mordomias, passar a respeitar as carreiras e a experiência de vida que carrega a antiguidade de um profissional.

Não há justificação política que autorize qualquer desconsideração ao bom profissional, nem problema financeiro que autorize o desrespeito pelas carreiras de quem estudou e continua a estudar para se manter no topo da competência.

Os senhores políticos se querem voltar a desfrutar de algum respeito, têm que mudar radicalmente as atitudes perante quem produz a verdadeira riqueza, ou seja, quem tem capacidade de trabalho com competência e criatividade.

Estimem os poucos que ainda produzem, porque se não o fizerem, arriscam-se a acabar com a democracia.

 

jorge.melo@minhodigital.pt
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