Editorial

A ESTUPIDEZ … NÃO TEM LIMITES!
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Pablo

Pablo Mendaña Alija

Médico

 

O meu amigo Evaristo anda chateado, indignado, desgostoso, desiludido (ainda mais do que é habitual) e incrédulo com muitas das notícias que tem aparecido, ao longo dos dias, relativas a vários temas, mas há um em especial que o tem deixado à beira de um ataque de nervos: o relacionado com o coronavírus. E também com a religiosidade das pessoas (melhor dito, a falta dela). Vamos por partes.

 

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

1º. Coronavirus: Ao longo dos últimos meses temos ouvido e lido uma série de notícias que, como mínimo, nos tem deixado dubitativos e, até certo ponto, incrédulos:

– tvi24, 22/06/2020: Estado de calamidade prolongado, multas e ajuntamentos só até dez pessoas, nas medidas para Lisboa.

– tvi24, 22/06/2020: Covid-19: Portugal com 2º pior rácio de novos casos entre top-10 europeu.

– jn, 19/06/2020: PSP interrompe festa com mil pessoas em Carcavelos.

 

Em vários médios de comunicação (jornais, TV, internet), temos lido as proibições para as entradas das pessoas em recintos desportivos, cinemas, teatros. As limitações no número de pessoas que podem estar em simultâneo em lojas, supermercados, restaurantes, etc, etc, etc.

Não discutimos, e inclusive assumimos, a maioria de nós, que estas medidas são indicadas e oportunas para tentar evitar a evolução da pandemia, e pensamos que são de necessário cumprimento por todos. TODOS! Imaginem o que acontece quando sabemos que foi autorizada, só para umas 15.000 pessoas, a festa do Avante. ??? Poderia por 100.000 interrogações seguidas que ainda ficaria a perguntar-me como é possível que fosse permitida e autorizada semelhante aberração (porque não tem outro nome). Sim, é uma autêntica aberração e um insulto e falta de respeito para os restantes não sei quantos milhões de portugueses que nem sequer estão autorizados –  e bem – a fazer ajuntamentos de mais de 10 pessoas (podem ser multados).

Quando os políticos, aqueles seres escolhidos pelo povo para dirigir-nos, fazem este tipo de distinções, que mais podemos esperar desses seres? Como poderemos confiar em seja o que for que eles digam? Que credibilidade, se ainda tinham alguma, passam a ter entre a população portuguesa? Resumindo, como podemos fiar-nos das suas palavras e não pensar, como muitos já fazem, que estão a mentir-nos descaradamente e a enganar-nos com uma pinta do caraças? Um destes é o meu amigo Evaristo, que só vê na classe política um bando de mentirosos, de oportunistas, de corruptos e de escravos do poder o do dinheiro!

Esquecia-me: o meu amigo Evaristo é … comunista! E, em tempos, até esteve filiado nesse partido. Ficou tão desiludido que abandonou a militância e passou a criticá-los.

A gota que encheu o copo do meu amigo Evaristo, contava-me ontem, foi a notícia que leu no telejornal da RTP1, logo de manhã, que dizia “Na Assembleia da República, hoje começa a ser avaliada a temperatura à entrada”. Só no dia 12/10/2020 é que começam a avaliar a temperatura na Assembleia da República? O meu amigo Evaristo é defensor de que seja avaliada a temperatura à entrada de qualquer recinto fechado no qual possam juntar-se pessoas! Os nossos “representantes” só começaram agora porque já apareceu algum caso positivo lá dentro, e até agora o que andavam a fazer?

A dizer umas coisas e a fazer outras bem diferentes! E depois pretendem que o povo acredite nas suas palavras e realize aquilo que eles falam (não deveriam ficar como o exemplo?). O que hoje escrevi são as palavras que o meu amigo Evaristo me diz nas conversas que tenho tido com ele ao longo destes últimos meses, e que eu apoio e assino por baixo, ele que é um defensor do sistema democrático e um comunista convencido. Se ele pensa assim e está revoltado com o que vê e o que ouve, o que acontece com aqueles que não acreditam nas Instituições e/ou nas pessoas que nelas “trabalham”?

 

2º. Religiosidade (ou, melhor dito, a falta dela). Teresa é uma prima da minha esposa que é catequista na freguesia donde mora (pertence ao concelho da Maia, a poucos quilómetros do Porto). Já é catequista há muitos anos e diz-nos que nunca se tinha confrontado com nada como o que lhe está a acontecer nos últimos meses. Por causa do coronavírus, as aulas de catequese estão suspensas desde há meses e, por conseguinte, não podem ser realizadas as comunhões dos miúdos.

Independentemente da falta de aulas e da falta da formação cristã para a catequese, os próprios pais deveriam evitar e parar as festas das comunhões por causa da atual pandemia. Pois não, acontece todo o contrário! Os pais, numa reunião recente que tiveram com o padre da paróquia e com os catequistas, protestavam porque não sabiam se haveria ou não comunhões neste ano, e protestavam não pela falta do acto religioso e sim porque já tinham reservado o restaurante para a celebração e não podiam perder o dinheiro que tinham dado de entrada! Viva a religiosidade do povo!

A experiência vivida por mim recentemente em relação a comunhão foi a seguinte: o meu filho fez a primeira comunhão há dois anos, quando ainda vivíamos noutra localidade e ele frequentava outro colégio e pertencíamos a outra paróquia. Era no próprio colégio que tinha as aulas de catequese e aos domingos íamos à igreja a que pertencia aquele colégio.

Nos domingos, digamos normais, em que não havia qualquer acto especial, íamos pouquíssimos pais e filhos à missa, a maioria dos assistentes eram pessoas idosas e havia muitos lugares vagos nos bancos da igreja . Agora, nos domingos em que se celebrava algum acto especial (por exemplo, o Dia da Criança, o Dia da catequese ou o Dia da Família), a lotação da igreja rebentava pelos quatro costados. Eram filhos, pais, avós, tios e outros familiares a aparecerem na igreja para figurarem, bem engalanados, e a demonstrar aos outros, iguais a eles, que cumpriam com os ditados da Santa Madre Igreja católica! Banda de hipócritas, fariseus! Só aparecem para as festas, com as melhores roupas, porque a seguir à missa, havia comida familiar para celebrar seja o que for! O importante é comer, o resto é paisagem! Repito, bando de hipócritas!

Se não frequentas a Igreja com a regularidade que devias (pelo menos aos domingos e dias especiais); se não promoves no teu dia a dia uma vida minimamente cristã; se não participas em nenhuma atividade ligada a Igreja; se não vives como um cristão, porque ‘carga de água queres que o teu filho, que faz exatamente o que tu fazes, realize a comunhão cristã? Para figurar? Para “demonstrar” aos outros que és um bom cristão? Para a paparoca que há a seguir? Repito: bando de hipócritas!

Defendi, defendo e sempre defenderei a coerência, e não me parece digno de pessoas que se querem denominar assim a eles próprias, que se afirmem deste modo estúpido! Isso só o faz a gente, não as pessoas! Se no teu dia a dia não fazes nada que te identifique como cristão (nada), porque se continua a fazer os baptizados, as comunhões, os casamentos? Repito: bando de hipócritas e estúpidos!

Também não desculpo aos padres, claro que não! Se sabem que esses miúdos e os pais não frequentam as missas, porque lhes permitem fazer a comunhão? Eu, simplesmente, punha-os fora porque esses não são cristãos, nem são pessoas íntegras! Se querem fazer festas e comidas com a família, desde logo não será por ter feito o seu filho, ou filha, a primeira comunhão. Poderão fazer a festa, mas terão que mudar-lhe o nome.

Estas incoerências (dos “nossos” políticos, da “nossa” Igreja e outras) levam-me a concluir com a frase que dá título a este artigo: “A estupidez … não tem limites!” Por desgraça…

Como sempre, o que pretendo é acordar as consciências, mobilizar as mentes e suscitar o debate. Acredito que é assim (poderão existir outras formas) que se aprende, se amadurece e se evolui. Por isso, defendo o debate em qualquer tema, pois ouvindo diferentes opiniões, discutindo e analisando, chegaremos à conclusão que aquilo que nós pensamos está errado. Aí poderemos mudar e começar a ver as coisas desde outro ponto de vista. Resumindo: poderemos aprender e continuar a nossa evolução!

Continuemos a luta contra a pandemia, sem esquecer que a única arma que ainda existe para fazer, neste momento, é … o ISOLAMENTO FÍSICO!

Mas parece que as vacinas já estão quase prontas. Só falta um bocadinho!

 

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