Eugénio de Sá, um pouco da minha história

Para mim, a escrita não é só uma forma mais ou menos engenhosa de juntar palavras, ela vale pelas raízes que for capaz de estender ao encontro de outras sensibilidades.

 Em Portugal, onde nasci e vivi até Fevereiro de 2007, desde os primeiros anos escolares eram administradas aos alunos noções de moral e, através dela, de ética humana. Também a língua portuguesa era, ao tempo, considerada matéria básica na formação de um aluno e, desde cedo, os textos de Camões e de outros grandes prosadores e poetas lusos, eram lidos e interpretados, à exaustão.

Considero a intuição dos aludidos princípios, valores e conhecimentos, indispensáveis a quem, como eu, veio a consagrar parte importante da vida a transmitir aos outros, pela escrita, a sua análise crítica dos movimentos da sociedade em que se insere.

 Na realidade, desde os anos sessenta, concluído o serviço militar, a comunicação preencheu uma boa parte da minha vida de trabalho, quer na direção comercial de jornais e revistas de grande tiragem e distribuição nacional, quer posteriormente na direção de contas de clientes de uma grande Agência de Publicidade franco-portuguesa, onde a criatividade da comunicação é determinante, como se sabe.

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O poeta, o escritor…

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GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Desde os anos setenta, mercê da minha atividade quotidiana na imprensa e o meu gosto pelo trato da língua, o meu espírito crítico impeliu-me a escrever e publicar, regularmente, crónicas e outros textos. Vez por outra, lá me decidia por um conto ou por um texto de investigação temática, como foi o caso da “História da Azulejaria Portuguesa”, a titulo de exemplo.

Despontava o ano de 2003 quando, embalado pelo mar, ao largo do Cabo da Rocha, me decidi a escrever o meu primeiro poema. De há muito que devorava poesia, mas nunca havia pensado escrevê-la, e muito menos vir um dia a publicar vários livros virtuais, como viria a acontecer.

Se tivesse que explicar as influências da minha poesia, escolheria, sem dúvida, como fonte maior de inspiração, a segunda metade do chamado período barroco ( meados do século XVII – fins do século XVIII ), sem esquecer os vastos, e sempre presentes, recursos do arcadismo – que lhe foi sucedâneo no tempo – mormente tudo o que li do grande Bocage. Admito, todavia, que no século XIX, romantismo dentro, se escreveu muito bem o lirismo amoroso, que em mim e em muito do que escrevo, encontra também expressivo eco.

Sem querer aqui deixar uma exaustiva lista de citações, mencionarei, somente, alguns poetas que me habituei a ler, com admiração e respeito: do período Barroco e Árcade, certamente os portugueses Marquesa d’Alorna e o citado Bocage, e alguns brasileiros, entre eles; Tomás António Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa. Além destes, e ainda neste período, a narrativa poética do francês Jean-Jacques Rousseau e de outros escritores e filósofos notáveis, constituem, na minha biblioteca, documentos de consulta regular.

Já no período dito parnasiano, largamente recorrente de citações das três mitologias, só posso ser coerente comigo citando os grandes poetas brasileiros Olavo Bilac, Machado de Assis e Raimundo Correia.

Sem preocupações cronológicas, citarei outros poetas do meu país que sempre me encantam: Antero de Quental, António Nobre, Cesário Verde, Florbela Espanca… e os contemporâneos; Eugénio de Andrade, David Mourão Ferreira, Alexandre O’Neil,  José Carlos Ary dos Santos e o popular José (Zeca) Afonso. E ainda os brasileiros:  Fagundes Varela, Álvares de Azevedo, Castro Alves e o grande comunicador Vinicius de Moraes, sem menosprezar tantos outros, como o inglês oitocentista Robert Burns, cuja obra – até pelas minhas funções de editor de Poesia & Literatura em dois grande sites do país irmão – tenho lido, apreciado, e editado.

No meu deambular pelo âmago dos sentimentos humanos – sem, naturalmente, ter a veleidade de os tentar explicar – sempre procurei denunciar as minhas preocupações existenciais tão comuns aos poetas do meu tempo que transitaram de um século de grandes e aceleradas transformações, também sociais; o século XX, para o sequente e actual, pleno de ameaças e de retrocessos, em boa parte resultantes dos exageros e das desregras deste nosso tempo.

Sou, como me têm caracterizado alguns poetas que admiro e respeito; “um poeta versátil”, baseando-se certamente  na profusão temática da minha poesia.

Sirvo-me, para isso, de alguma cultura geral adquirida pela leitura e pela atenta e intensa vivência destas minhas seis décadas de existência.

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O jornalismo e a literatura habituaram-me a ser um analista; a estar atento, a separar o insólito do comum, a qualidade do que lhe é inferior, a avaliar, enfim, as situações e os homens. O sentido humanista da minha formação ensinou-me a ser justo e equilibrado nos meus julgamentos. A filosofia  ajudou-me a pensar melhor, a racionalizar. A poesia, decididamente, revelou-se o lado lúdico da minha existência. Leio-a e escrevo-a diariamente, e confesso-me apaixonado ao afirmar, com sinceridade, que já não saberia viver sem ela.

Bastas vezes me tenho indagado do porquê do meu fascínio pela dialética poética que mais me influencia a cada estrofe, e que acima caracterizei. E a resposta só pode ser uma: a nostalgia de um tempo que não vivi. – Ou que terei vivido, mas esses registos – a existirem – só poderão ter guarida do meu inconsciente, a imensa parte submersa desse “iceberg” mental que todos possuímos, onde habita o conhecimento acumulado, nomeadamente (a eventual) informação sobre vidas passadas. Que me seja perdoado o ficcionismo, porque ainda não foi dada ao ser humano a chave dessa porta. Espreitamos pelas frestas, mas é tudo!

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E. Sá

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 O “MEU ESTILO”

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Se ao romantismo vou buscar o tom

Do tanto do que escrevo nos meus versos

Sem que me cuide a sorte dos sucessos

Outras correntes há a que me dou;

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Aqui, uma pitada pré-moderna

Além, um fino toque parnasiano

E de Barroco visto o desengano

Pois do conflito a escrita é subalterna.

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Outra tendência ainda se revela

À minha inquietação na poesia;

O realismo exposto da procela.

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E quando o sonho ou a fantasia

A esta pena mais se lhe afivela

Subordino-lhe o estilo à… extasia!

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