Nadir Faria
Cooperante
Em Cabo Verde fazem-se iogurtes em casa.
Em Portugal, quando era criança também fazíamos. Tínhamos uma iogurteira que ligávamos à eletricidade.
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Misturando leite e iogurte natural, e esperando umas horas, obtínhamos vários iogurtes. Às vezes, misturávamos “Nesquik” e conseguíamos iogurte de chocolate. A iogurteira ainda existe mas alguns copos foram-se quebrando e fomos deixando de fazer iogurtes em casa, salvo algumas exceções.
Em Cabo Verde a temperatura é suficiente para as bactérias se multiplicarem e cumprirem a sua função, sem se recorrer à eletricidade. No fundo, a eletricidade e a máquina “apenas” servem para se chegar a uma temperatura boa para o desenvolvimento das bactérias que ajudam na fermentação e das que dão a cremosidade e o cheiro característico dos iogurtes.
Os iogurtes são, para muitas mães cabo-verdianas, fonte de rendimento. Elas fazem-nos em casa e, depois, vendem-nos na rua.
Resolvi também fazer iogurtes em casa. Porque gosto do sabor, porque são mais sustentáveis, mais económicos… e lembrei-me da minha anterior estadia aqui.
Estava em S. Vicente. Tinha chegado há cerca de uma semana e fiz notar que ainda não tinha tomado um banho de mar. Combinámos fazê-lo nesse dia, na Praia de S. Pedro. Combinámos, antes, tomar o pequeno-almoço fora – para apanharmos uma “barrigada” com uma cachupa [1] refogada. Eu comi meia dose com ovo estrelado. Meia dose é bem generosa para quem não está habituada a “barrigadas” matinais. Cumprida a “barrigada”, dirigimo-nos para a Praça da Estrela onde se apanha o transporte público. No caminho veio-me à memória, entre as coisas “a fazer”, que também não tinha comido iogurte natural – imaginei-o delicioso com uma colher generosa de compota de papaia. Partilhei o meu pensamento. Diz quem comigo convive que falo muito de comida… Em minha defesa, apenas da boa!
Encontrada a “HIACE” que nos iria transportar, sentamo-nos nos lugares livres. Veio uma senhora com um cesto de iogurtes para vender. Pensei: não tenho espaço mas veio ter comigo! Comprei um e imaginei-me a degustá-lo sentada no areal de S. Pedro – com a minha colher de bambu, que me acompanha sempre, e sem a compota de papaia… Lá, já haveria algum espaço.
Fiz a viagem com o copo do iogurte na mão. Como me sentei mais perto do condutor, a certa altura, fui incumbida de o informar de que sairíamos na entrada da estrada para o Farol. Saímos. Começámos a andar. Continuámos a andar. Eu mais atrás. Perguntei, com o meu copo de iogurte na mão: onde vamos?
Vamos ao Farol!
Farol, qual Farol? Não vejo nenhum Farol (é o que acontece quando não nos informámos bem sobre o sítio onde estamos!).
O Farol que existe em S. Vicente – Farol de D. Amélia.
E eu com o meu copo de iogurte na mão, com um calçado desconfortável para caminhar e a ver-nos a afastarmo-nos do areal que me esperava – a mim e ao meu iogurte.
Quarenta e cinco minutos depois (depois de me dizerem que achavam que era uma pessoa que gosta de caminhar, de eu confirmar que sim mas quando estou preparada e o calçado ajuda), chegámos. A maior parte do caminho faz-se pela linha da costa da ilha. É um percurso bem bonito. Estava sol. Ele fazia a água do mar brilhar.
Não fosse o calçado, a vontade de estar na água e o iogurte na mão…
O iogurte foi saboreado à porta do Farol. O D. Amélia estava em obras.
O mergulho foi dado após o percurso inverso. Ventava muito, o que o tornou frio! Foi mais ou menos semelhante ao iogurte sem papaia…
1- Prato tradicional com milho, feijão, carne ou peixe (ou ambos) estufados e vários legumes.