Fazendo Limpeza

Momento de poesia.

Não precisava de limpar,

precisamente hoje,

na secretária do meu escritório.

 

Gaveta a gaveta,

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

apareceram pastas

e envelopes gastos pela passagem do tempo.

Livros e notas breves,

com anotações sucintas

pelos meus humildes poemas.

 

Tudo salvo da queima

de tanto traslado incruento

e que a desidia do tempo

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estava a encurralar,

sem penanem glória.

 

Vida árdua e cansativa

de ilusões fátuas

que murcharam

e que hoje dormem

sobre papéis amassados,

no fundo das gavetas.

 

Papéis que viajaram comigo

como pombos-correio

de outros tempos

inquietos e jovens

para um hoje mais prosaico

e menos dado à poesia,

e a escrever poemas.

 

“Cartões de crédito, Bizooms,

Redes Sociais, Twitter,

Instagram, WhatsApp,

áudios e mensagens”

 

Abraços e beijos de papel

que permaneceram inalteráveis

em algumas folhas “A4”

com o anagrama de um hotel,

dobrado em duas metades.

 

De repente,

afundei.

 

Um envelope amarelo datado

em mil novecentos e setenta e quatro,

com uma carta dentro

onde você confessou seu amor por mim

e seus desejos juvenis de pecar comigo

naqueles tempos

onde a miséria reinava

e tudo nos foi proibido.

 

E depois a vida passou-nos ao lado,

como uma rajada de vento “Nordés”,

voando sobre as cristas brancas

das ondas verdes

que muitas vezes dançam na Ria.

 

Ilusões vãs, que se espremem,

dançando ao som lento de um bolero,

que é a Vida de si mesmo. A própria Vida.

A cata de um copo de bom vinho.

 

A vida,

a vida e o destino.

 

“Água passada não move moinho”

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