Fé em S. Bento de Ermelo (Arcos de Valdevez) esbate diferenças de estrato

Interior da Igreja

A tradição cumpriu-se outra vez. A romagem a S. Bentinho de Ermelo, no Dia do Concelho (11 de julho), é um culto secular que o tempo não faz esboroar. O “santuário” que dá fama ao lugar recebeu, como de costume, largas centenas de romeiros, devotos ou não, vindos de várias localidades do Alto Minho. Mas, em relação a anos anteriores, a “receita” de esmolas baixou.

Como em tempos idos, desde a meia-noite, vários grupos de peregrinos, galvanizados pelo triunfo de Portugal no Europeu de futebol (muitos “vivas” com os cachecóis ao alto), fizeram-se à estrada, alguns dos quais munidos de lanternas e de coletes retrorrefletores, atravessando a pé as serpenteantes estradas até chegarem ao recuperado templo de Ermelo, antes de o sol raiar, ou não fosse esta a “romaria sem sol”, por entre o verde Minho que sobressai nos vales cortados ao meio pelo rio Lima.

Certos grupos, com muitos jovens atraídos pelo entretenimento, iam seguindo em animadas conversas (sobre futebol, claro…) até “estacionarem” em Gração, onde a música pimba convida a uma pausa na caminhada. Entretanto, outros, sem distinção de género e estrato, de terço na mão ou “carregando” amuletos, transportam, passo a passo, até Ermelo, uma fé inabalável no santo padroeiro do concelho de Arcos de Valdevez. E os restantes, Fernando Cerqueira e Miguel Rodas incluídos, peregrinam pela amizade.

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“Há 32 anos que faço a romagem a Ermelo”, diz João Baptista, de Prozelo, antes de cumprir promessa, em completo recolhimento, cerimonial que este devoto segue à risca. Na sua 14.ª peregrinação, Tiago Rodrigues, de Souto, cumpriu promessa em “lembrança de um primo que não anda nem fala.” Já o jovem José Bento Araújo, de Rio Frio, deu três voltas ao santuário para “pedir melhoras nos pés chatos [ausência do arco na planta dos pés]”. Tem 18 anos e “há cerca de cinco” que faz a peregrinação a Ermelo, fenómeno transversal a todas as classes sociais.

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É no altar de S. Bento que são largadas as oferendas. Cravos brancos ou vermelhos, ovos, sal, peças de cera e moedas, tudo serve para agradecer uma graça, um “milagre”, uma cura ou pedir saúde, que está acima de tudo. Mas o ritual só fica completo com a bênção e a colocação da cartola na cabeça de S. Bento, com as rezas e com a missa. A eucaristia das 6.00, a primeira da alvorada, no sobrelotado espaço sagrado, serviu para consolar, após espinhosas caminhadas, os devotos. As missas seguintes tiveram menos fiéis. “E muito menos merendeiros à volta da igreja”, constatou Teresa Carlos.

Nos grupos que vão chegando depois das 7.30 reina a diversão. Os jovens – quase todos – fazem a romagem pelo convívio. Diogo Lopes, de 20 anos, explica. “Vim para me divertir, depois de ter festejado a vitória de Portugal”. Os amigos, de Ponte da Barca, também. Nenhum deles assistiu às cerimónias religiosas.

Entretanto, pelo tempo fora, foram chegando mais fiéis e os que ficaram participaram na missa da festa e na procissão, que percorreu o itinerário habitual.

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Quer os devotos, quer os festivaleiros, é certo, voltarão, em 2017, ao templo para os rituais de sempre…

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