Editorial

AS FÉRIAS SINDICAIS NA PSP
Joaquim Letria

Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

 

Dirigir a PSP nunca seria fácil, mas com a falta de efectivos e com o número de dirigentes sindicais, coitados dos intendentes, superintendentes e comissários que têm de governar aquele barco.

É verdade que os polícias ganham mal, não lhes pagam as horas extra, têm de comprar o fardamento, devem-lhe os serviços gratificados, trabalham em esquadras vergonhosas que os obrigam a ir urinar ao café e muito pouca gente reconhece o papel importantíssimo que desempenham no apoio à população e na segurança pública. Mas hoje já têm um comando de profissionais bem preparados e já não têm de se sujeitar aos desmandos duma boa parte de oficiais lateiros do exército que iam para a Polícia para ganhar mais. Logo, os polícias poderiam organizar-se melhor num ou dois sindicatos fortes.

 

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Em vez disso, a PSP tem 16 sindicatos que, segundo a Direcção Nacional da PSP, ocupam legalmente o total de 3680 dirigentes e delegados que por direito expresso na lei goza mais de 36 mil dias de folgas sindicais num só ano, como aconteceu em 2017. Cada um tem direito a uma folga sindical por semana, que redunda em mais 32 dias de férias por ano, e por isso há sindicatos (como o dos polícias do Porto) que têm 24 associados, todos eles dirigentes e mais 12 delegados que deste modo usufruem deste turismo sindical. O Sindicato Livre tem 74% de associados que são dirigentes e a OSP tem 70 %. A primeira organização sindical dos polícias – ainda hoje respeitada – é a ASPP que conta com 7392 associados e existe desde 2002. Mas hoje é apenas mais um no meio de outros 15 sindicatos.

A ASPP lamenta que ao fim de 20 anos de luta, polícias e políticos estejam a destruir o sindicalismo da PSP que começou por ser proibido e se prestigiou com actividade e reivindicações muito difíceis de conseguir.

A ASPP atribui a esta proliferação de turismo sindical que infesta a PSP a causa das dificuldades de administrar os seus recursos humanos. Mas, principalmente, responsabiliza os políticos em geral e o PS e PSD em particular por manifestarem um desinteresse inadmissível que se arrasta há anos. A alteração da lei que permite esta rebaldaria necessita de dois terços do parlamento e em São Bento, como sabemos, aquela gente anda ocupada demais para se dedicar a este assunto.

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