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Fixar pessoas à volta do turismo e dos produtos locais só com políticas de diferenciação

Há cerca de cinquenta anos, o concelho de Arcos de Valdevez tinha perto de 39 mil habitantes. Hoje, tem menos de 22 mil habitantes (em dezembro de 2014, a população arcuense era de 21 885 indivíduos). É apenas um dos muitos exemplos do despovoamento galopante que aflige o Alto Minho, fenómeno comum a todo o interior de Portugal. Mas há propostas e novas janelas de oportunidade para fixar pessoas. Resta saber se serão suficientes para contrariar o destino deste território de baixa densidade.

A desertificação, neste concelho, atingiu uma situação tão grave que existe entre os eleitos locais um consenso mais ou menos alargado quanto às soluções a adotar. De um modo ou de outro, todos defendem medidas de articulação nacional, incentivos ao investimento local e a manutenção dos serviços públicos.

Desde que o PS se tornou Governo que o edil João Manuel Esteves passou a reivindicar, com bastante insistência, políticas de diferenciação e apoios públicos para recuperar a rede viária e melhorar as comunicações, forma de capar investimentos para o território. Além disso, para atrair (mais) empresas e incrementar o emprego qualificado, o presidente da Câmara costuma elogiar a qualidade dos recursos humanos locais e as vantagens de se viver nos Arcos.

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Mas, claramente, só a manutenção dos serviços públicos, e não o seu encerramento, é que pode salvaguardar a qualidade de vida dos que, aqui, habitam. Não se fixa ou atrai gente qualificada e com vontade de empreender retirando-lhe proximidade ao ensino, à justiça, à saúde de qualidade e ao lazer. Além disso, numa lógica de discriminação positiva, segundo preconiza a oposição municipal, urge aumentar o leque de oportunidades para os jovens e criar condições bonificadas para a instalação de empresas.

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Sem soluções prodigiosas de fácil alcance, a priori, podem “jogar” a favor da fixação de pessoas, em planos diferentes, os incentivos à natalidade, o turismo e os produtos locais. A Junta de Oliveira, por exemplo, tem tentado inverter a situação do despovoamento com estímulos, em géneros (“compras farmácia”), à natalidade, cujo programa foi lançado em 2014. O aumento dos nascimentos não chega, no entanto, para transformar positivamente o saldo natural, que continua negativo.

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Mais do que tudo, o turismo é que pode ajudar a desenvolver o território. O fluxo de visitantes bate recordes e o concelho de Arcos de Valdevez começa a ser falado cada vez mais pelo Parque Nacional, pela gastronomia, pelos trilhos, pela ecovia do Vez e pelas paisagens de rara beleza. Mas o turismo, que tem ainda uma expressão fortemente sazonal, só inverterá a tendência de despovoamento, segundo os promotores, se funcionar como um complemento à agricultura, aos produtos endógenos e à animação de natureza. É grande o potencial em fileiras como a cachena, o mel, os licores, os doces, o fumeiro e o vinho, mas nunca haverá escala sem parcerias.

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Não por acaso, para dar um “salto” qualitativo, os vários agentes reclamam quer um trabalho articulado entre os diferentes operadores da região, conforme defende Luís Fernandes, da Nature4, quer um investimento no marketing criativo” para bater a concorrência, como sustenta o deputado municipal Mário Ventura, do CDS.

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Face ao forte recuo populacional, mesmo que o projeto “Repovoar Arcos de Valdevez” surta algum efeito (a médio-longo prazo) e as anteditas medidas venham a ser implementadas, dificilmente será mudada a estrutura do concelho, pois, segundo advoga o investigador Jorge Malheiros, um dos autores do estudo Migrações e sustentabilidade demográfica, aplicado ao interior, estas iniciativas apenas “atenuarão os desequilíbrios” existentes nos chamados “territórios de baixa densidade”.

Reflexões académicas à parte, o concelho de Arcos de Valdevez tem recursos e especificidades e é nestes que reside a fórmula para travar ou atenuar o despovoamento acelerado. Evidentemente que o turismo e os produtos locais constituem denominadores comuns desta equação, mas os resultados, por enquanto, são muito insuficientes para vencer a desertificação.

 

Agronegócios em estudo

Para estimular a economia local, arrancou, recentemente, o Programa de Revitalização dos Setores Produtivos e Tradicionais do PNPG, sendo promotora a Escola Superior Agrária, em parceria com a Escola Superior de Ciências Empresariais (ambas do Instituto Politécnico de Viana do Castelo).

Segundo fonte da Câmara de Arcos de Valdevez, esta iniciativa “visa fazer o levantamento das áreas com mais potencial de negócio e estudar mercados específicos (mel, carne, ervas aromáticas…)”.

O programa de revitalização dos agronegócios, além do IPVC, engloba os cinco municípios abrangidos pelo Parque Nacional, o ICNF, a Direção Regional de Agricultura do Norte e as associações de desenvolvimento local (ADRIL, ADERE e ATAHCA).

 

 

 

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