Editorial

FUI PRESO
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Damião Cunha Velho

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Damião Cunha Velho

Jornalista

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Entrei no centro comercial e fui comprar roupa àquelas lojas que parecem estar a fazer concorrência umas às outras mas que pertencem todas ao mesmo dono.

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GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Zara, Springfield, Pull & Bear, Stradivarius, Bershka…

Monopólios. Uma coisa proibida por lei.

 

Gostei de um casaco mas na etiqueta dizia “Made in China”. Não comprei.

Afinal vinha de um país que não respeita os direitos humanos.

Peguei numas calças, último grito. Etiqueta “Made in Cambodja”. Não comprei.

Certamente tinham sido feitas por mão de obra infantil.

Mudei de flanco. Fui apreciar um telemóvel. Bateria de lítio. Não comprei.

Querem explorar lítio na Serra de Arga. Nem pensar, poluição à porta de casa.

Fui almoçar ao McDonalds. Um Big Mac olhou para mim. Não comi.

A carne é produzida sem respeito pela vida animal. Com hormonas, antibióticos e em condições de maus tratos.

Entrei na Bertrand e vi um livro com o título “Educação para a Cidadania”. Não comprei.

Dizia no prefácio que a educação é respeitar a diferença, o modo de vida dos outros. E os “outros” desse dia, eu não estava a conseguir engoli-los. Não quis ficar mais maldisposto ao ler que provavelmente não via com bons olhos o modo de vida dos que me estavam a aparecer pela frente nesse dia.

Com a barriga a dar horas, saquei do bolso um protetor estomacal. Não tomei.

O medicamento tinha sido resultado de experiências em animais inocentes.

 

Porra, o dia estava a correr mal.

Não podemos acreditar em tudo que lemos ou nos dizem.

 

Reparei na etiqueta da minha t-shirt e era de um desses países. Tirei-a. As calças idem, sapatos, cuecas, meias, vinham todas do mesmo sítio. Tirei. Arranquei do corpo.

Vesti umas jardineiras do meu avô, em flanela que mais pareciam umas ceroulas e que trazia numa sacola. Tudo feito à mão, com carinho, pela minha avó há 50 anos.

Tronco nu e descalço, desnutrido e com vestes diferentes do comum dos mortais, fui abordado pela polícia e fui preso. “Detido” em linguagem de Senhor Agente.

 

Argumento:

Aspecto de quem consumia drogas e não estava vestido de forma idónea.

Risco de perturbação da ordem pública.

 

Ou será da ordem estabelecida?!

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