Editorial

Futebol – Confusão entre o desporto/educação e a indústria/espetáculo
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Jorge VER de Melo

Em primeiro lugar devemos entender quais as funções do desporto para o ser humano pois é ele o motivo da nossa preocupação.

Melhora a postura corporal combatendo o excesso de peso, aumenta a produtividade criando condições para uma vida mental e corporal mais saudável; aumenta a autoestima, fortalece o sistema imunológico e por isso prolonga a expectativa de vida, etc.

Deduzimos então que praticar desporto é fundamental para a saúde, quem tiver dúvidas escolhe: ou exercício desportivo ou medicamentos compensadores.

Até aqui tudo está correto porque nos divertimos imenso ao assistirmos a um jogo de futebol profissional, os problemas surgem quando se começa a confundir o livre e são desporto regional com o profissional.

Aí, algumas pessoas resolvem intervir com verbas que por vezes não possuem, para desviar atletas de outros clubes e assim mostrarem que são melhores, não porque criaram atletas mais competentes, mas sim porque investiram mais dinheiro do que os outros.

Por isso o bairrismo deixa de ser em defesa dos nossos vizinhos e amigos da nossa terra, passando a ser uma organização industrial com atletas profissionais vindos dos quatro cantos do mundo que não têm nada a ver com a nossa forma de estar e até de compreender o desporto.

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Então, onde está a confusão? Futebol é desporto e até bastante completo, incentiva o espírito de equipe e a socialização, cumprindo perfeitamente as funções desportivas. Acontece que o futebol profissional, o desporto/indústria/espetáculo é totalmente diferente.

Este desporto foi criado com regras específicas em 1863 pela The Football Association, daí nasceu mais tarde o órgão regente do nosso futebol, a Federação Internacional de futebol FIFA.

Claro que inicialmente era um desporto mais dirigido para o convívio, só mais tarde se verificou a sua importância para a saúde. Nos nossos dias poderá ser exercício físico e convívio para muitos praticantes, mas transformou-se rapidamente numa indústria/espetáculo que envolve muitos postos de trabalho e muito dinheiro.

Não queremos ser desmancha-prazeres, mas temos a sensação de que os jogadores profissionais de futebol dos nossos dias parecem uma reedição dos históricos gladiadores. O espetáculo tem imensas semelhanças se compararmos as atitudes do público e de certos dirigentes dos grupos desportivos porque aí encontramos uma mesma lógica comportamental.

Então a paixão e a magia deste desporto, atraíram cerca de 270 milhões de pessoas que o transformaram numa indústria de elevado retorno. Já não são os populares que democraticamente o desfrutam, são particularmente os indivíduos das classes média e média alta que têm capacidade financeira para acompanhar e apoiar a sua equipe.

Devido a isso, os meios de comunicação aproveitaram esta tão grande divulgação para tirar proveitos tanto no acesso a canais de desporto como na divulgação publicitária.

Com tantos e tão diversificados adeptos, o futebol de cada região passou a ser o espelho dos povos que o seguem. Surge então um poderoso coletivo que à custa da popularidade vai enchendo os bolsos de alguns.

Tem-se verificado uma influência tão grande do futebol na sociedade que obrigou à preparação de currículo académico capaz de instruir os jovens para o impacto da problemática que se vai desenvolvendo em seu redor. É que as reações espontâneas às vitórias, às derrotas ou até às atitudes dos árbitros, movimentam por vezes, comportamentos menos racionais que se podem transformar em ações perigosas contra o bem-estar do simples adepto ou dos restantes intervenientes no espetáculo.

Existe também uma febre da juventude para o seguimento das profissões relacionadas com este desporto que começa a deformar a realidade dos proveitos e por isso a respetiva sustentabilidade.

Mas, no meio de toda esta confusão de sentimentos, existe algo muito bonito de salientar, é a identificação/pertença coletiva pela nossa Seleção quando está em causa a sua prestação em qualquer jogo, mesmo que particular. As pessoas sentem-se mais patriotas, acham que está em causa o bom nome do seu país.

Bem, concluímos então este monólogo com um balanço positivo, mas perigoso, da situação. Principalmente porque estamos a valorizar desmedidamente, nos órgãos de informação, essa indústria desportiva e descoramos os principais problemas humanos dos nossos cidadãos que deveriam ter melhor destaque nos noticiários e não só.

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