Jorge VER de Melo
Consultor de Comunicação
Esta geração a que nos referimos nasceu no pós-guerra experimentando o racionamento alimentar como início de vida.
Entretanto foram vivendo quarenta e oito anos de ditadura.
A propósito! Vamos lembrar pequenas passagens dessa época.
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Devem ter ouvido falar da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), anteriormente chamou-se PVDE e mais tarde DGS.
Este organismo, nasceu por Decreto-Lei de 22 de Outubro de 1945. Trabalhava em conjunto com a Legião Portuguesa, tinha a função de prevenção e repressão dos crimes contra o Estado e dependia diretamente do Governo de Portugal sob a orientação do Ministério do Interior e mais tarde também do Ministério do Ultramar.
O seu corpo era composto essencialmente por agentes implantados no terreno e “bufos” espalhados por todo o país que informavam esses agentes de todos os acontecimentos que poderiam pôr em causa a atividade ditatorial do Governo.
Para fazerem uma pequena ideia, quando três ou mais pessoas estavam a conversar na via pública, logo se aproximava um agente de qualquer força de segurança para informar que “mais de duas pessoas em grupo no espaço público, era considerado ajuntamento” logo, passaria a ser atividade subversiva.
Claro está que para fazerem cumprir estas regras rigorosas tinham a liberdade de prender e torturar todo o cidadão que demonstrasse não concordar com a política vigente.
Mas o grande problema nacional foi a guerra do ultramar. Embora se diga que teve início a 4 de Fevereiro de 1961 no Norte de Angola, nós entendemos que começou quando a Índia se tornou independente em 1947, mas foi marcada em 1954 com a invasão dos enclaves de Nagar Haveli e Dadrá, concluída neste país em Dezembro de 1961 com a entrega de Goa, Damão e Diu.
Devido à guerra, a entidade patronal era obrigada a readmitir todos os funcionários que fossem mobilizados. Por essa razão tornava-se muito difícil obter emprego antes do regresso da vida militar. Por vezes, acontecia também que se por qualquer motivo, um aluno suspendesse os estudos, era imediatamente chamado para as fileiras do exército.
Então, muitos portugueses dessa geração tiveram que emigrar, uns para fugir à guerra, outros por princípios políticos e ainda outros por simples falta de local onde trabalhar. Tratava-se fundamentalmente de gente com poucas habilitações literárias e profissionais até porque o lema governamental era, “distribuir pouca informação para manipular melhor”.
Neste contexto, quem ia para a guerra dita “em defesa da Pátria”, nem sempre era bem recebido pois os residentes desses locais, de origem portuguesa ou não, discordavam do exercício das tropas metropolitanas porque entendiam que deveriam ter o seu próprio exército para os defender nas respetivas “províncias ultramarinas”.
PUBEm contrapartida, os familiares de quem ia para a guerra, esperavam mais de dois anos com desespero e muita saudade, o possível regresso dos seus entes queridos.
É triste lembrar os milhares de mortos em combate cujos familiares apenas receberam do Estado uma carta a apresentar condolências e afirmando que aquele militar faleceu heroicamente em defesa da Pátria, sem quaisquer retornos nem apoios financeiros.
Esta geração estava no auge das suas capacidades quando se dá a Revolução em 25 de Abril de 1974.
Foi muito importante, era realmente previsível pois a sociedade estava saturada e estigmatizada pelo sistema governamental.
Acontece que pela ingenuidade dos revolucionários, esta geração aguentou a generalizada instabilidade inicial e muita incompetência política, até aos dias de hoje.
Foi na descolonização e na gestão dos dinheiros públicos que ficou mais estigmatizada. Isto porque as amplas liberdades encobertas pela capa da democracia levaram o cidadão a pagar uma elevada fatura originada pelo regresso precipitado dos retornados descontentes também com a situação caótica no ultramar.
Começa aqui uma nova cruzada, a do pagamento das dívidas resultantes da incompetência política e da ganância de quem lida mais frontalmente com o capital, normalmente gente que se complementa porque uns foram ou são funcionários dos outros, (políticos e banqueiros).
Nesta área podemos juntar ainda mais estigmas, por exemplo: os jogos na bolsa que quando dão lucro pertencem a alguns inteligentes mas quando dão prejuízo e abrem falência são os estigmatizados a pagar, nunca percebemos porquê! Assim como não compreendemos porque existem cidadãos de primeira, de segunda e de terceira. Não queremos citar nomes, mas há bem poucos dias um senhor que até está preso, segundo ele por perseguição política, afirmou “que não é um cidadão mas um ex-primeiro-ministro”.
Está aqui perfeitamente identificada a tal desigualdade de direitos e deveres que levaram a este estado da cidadania.
E para concluir a cruzada de estigmas, cansados de uma vida de trabalho, cai de um local que não é o céu, um governo desgovernado, que além de aumentar substancialmente as dívidas do país, deixa de ser pessoa de bem e resolve roubar a quem confiou neles, uma parte acentuada da reforma que tanto lhes custou a ganhar.
É caso para perguntar:
– Onde está o dinheiro que lhes foi entregue para governar e garantir estas reformas?
– Agora reparem, somos ou não uma geração estigmatizada?