Germano Amorim: “Precisamos de 300 mil euros para acabar a obra de remodelação do quartel dos Bombeiros de Arcos de Valdevez”

No momento em que decorrem importantes obras de remodelação no quartel arcuense, o presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez (AHBVAV) diz contar com a sociedade arcuense (incluindo a comunidade emigrante) para ajudar a financiar a recuperação do imóvel.

Preocupado com a segurança dos cidadãos e com as condições de operacionalidade do corpo de bombeiros, Germano Amorim reclama mais apoios para fortalecer a frota e os equipamentos de proteção, defendendo uma reforçada aposta na formação para “melhorar a eficiência” dos operacionais.

Segundo o dirigente, a lição que se tira do último verão, particularmente castigador para as florestas, é que falta às entidades oficiais “definir” um “caminho” que congregue – “e não atropele”“as estruturas organizacionais institucionais”.

“As entidades que trabalham o ano todo para que haja combate eficaz aos incêndios nem sequer são chamadas para terem conhecimento dos factos e planearem a logística necessária para uma boa execução”, critica o presidente da AHBVAV, que preconiza uma “coerência de políticas” nos governos da República para acabar, de vez, com as cíclicas “épocas de incêndios”, que transformam as riquezas naturais em cinzas.

 

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Como está a “saúde” financeira da AHBVAV?

Somos uma entidade absolutamente transparente, credível e escrupulosamente cumpridora de todas as obrigações. A situação financeira está estável, porém, sempre remediada. Os encargos são altíssimos. A manutenção de frota, os encargos salariais, o fardamento dos nossos homens, entre muito mais, são despesas permanentes e muito elevadas.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

[… ] [Comparando com o] financiamento a atribuir a clubes desportivos […], se fossem feitas as contas a todas as pessoas que acudimos e área onde atuamos, ou seja, pelo menos 25 mil pessoas, numa área de, pelo menos, 450 Km2, chegaríamos à conclusão de que somos de facto uns miseráveis! Per capita daria 2,40 euros. Isto apesar da evolução da relação com a Câmara Municipal que tem estendido o seu apoio de outras formas.

Decorrem, no presente, obras de remodelação do quartel. Qual a situação atual em relação ao financiamento contratualizado?

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No que refere à obra executada, parte do financiamento já foi entregue, […] porém […] a obra do quartel não está toda financiada. […] A Câmara Municipal assumiu pagar os 15% não elegíveis no que respeita à obra de ampliação do quartel, no entanto, […] há mais de 300 mil euros de obras para executar a remodelação do existente! A Câmara Municipal ainda não deu sinal claro do montante que disponibilizará para este pecúlio, apesar das boas conversações. De qualquer forma, precisamos de angariar receita própria para tal.

Ou seja, a Associação a que preside terá de garantir uma soma importante para ajudar a custear a obra… Em que medida a sociedade civil pode e deve estar mais mobilizada?

Sem contar com o mobiliário necessário, precisamos de cerca de 300 mil euros para acabar esta obra. A sociedade deve e estará, com toda a certeza, mobilizada para este enorme combate. Estamos em vias de apresentar uma campanha solidária que tem em vista envolver todos. Como sempre, ninguém vai virar as costas. […] Todos os arcuenses espalhados pelo mundo conseguirão angariar o necessário para construir dois quartéis! [referência à generosidade dos arcuenses]. Tenho a profunda convicção de que as pessoas reconhecem qualidade no nosso trabalho e querem apoiá-lo sem esperar nada em troca. São os bombeiros que garantem parte essencial da segurança dos cidadãos.

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Que diligências têm sido feitas para superar o atual quadro de estrangulamento em relação a este investimento avultado?

A Câmara Municipal já transferiu parte das verbas relativas aos 15% da obra assumidos. O Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos já transferiu o montante correspondente à obra executada. Decorrem, também, boas negociações, principalmente com o empreiteiro da obra, que percebeu prontamente com quem está a lidar. Gente que assume os seus compromissos e os honra. Porém, como já referido anteriormente, a situação está agora mais normalizada. De qualquer forma, já temos tudo alinhavado para, junto da banca, termos financiamento, caso seja necessário.

Além da aposta feita na formação de escolas de bombeiros, já foram executados investimentos virados para a operacionalidade do corpo de bombeiros. O que ainda falta fazer?

O mais importante, a curto prazo, é terminar a obra do quartel. Uma estrutura moderna, eficaz, eficiente energeticamente e apelativa para os que se pretendem atrair para esta função. Tem sido feito um excelente trabalho de atração de jovens bombeiros, em respeito pela igualdade de género. Precisamos de mais e melhores viaturas. […] Devemos criar laços mais fortes com o setor empresarial arcuense. Melhorar a nossa eficiência e conhecimentos humanos com mais e melhor formação. Dotar os nossos bombeiros de melhores equipamentos individuais. […]

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Que conclusões é que a direção da AHBVAV tirou da última “época de incêndios”?

Infelizmente, é o drama habitual à volta do qual se monta um circo mediático próprio de países pouco evoluídos politicamente […]. Tirando a aprovação da Rede de Defesa de Floresta Contra Incêndios, por parte da Câmara de Arcos de Valdevez, nada mais é de destacar. Todos falamos de prevenção, limpeza, mudança de molduras penais, plantio com espécies não resinosas, melhores acessibilidades, reordenamento do território, drones e o diabo a sete. Porém, todo esse palavreado tem sido totalmente ineficaz. Preocupa imenso que não haja coerência de políticas nos diferentes governos. O combate é cada vez mais exigente, complexo e desgastante, principalmente para os bombeiros, e os discursos não coincidem com a ação.

Como está a situação do transporte de doentes?

É uma área lucrativa, mas com imenso sacrifício de todos os trabalhadores. Nem sempre é fácil acudir a todas as solicitações com o grau de qualidade que nós exigimos que se tenha. Os custos são grandes, porém, é também uma área social da qual não abdicaremos. […]

Olhando para o plano geral de atividades, o financiamento atribuído à AHBVAV requer ou não um esforço maior das entidades oficiais?

As entidades oficiais devem definir se o caminho é apostar na profissionalização dos bombeiros ou continuar a dispersar esse esforço por entidades que não foram criadas com esse intuito. Se querem equipas de bombeiros de primeira e de segunda. As forças de combate e as estruturas organizativas institucionais são várias e “atropelam-se”. Depois, as que todo o ano trabalham para que haja combate eficaz aos incêndios nem sequer são chamadas para terem conhecimento dos factos e planearem a logística necessária para uma boa execução. […]

Salvo raras exceção, tem sido corrente os órgãos políticos locais aprovarem votos de louvor ao Corpo de Bombeiros e ao comandante pelo trabalho realizado, deixando de fora a direção da AHBVAV. Porque é que isso acontece?

Quero acreditar que seja por mero desconhecimento e confusão institucional, não premeditada. Há sempre muita confusão no que respeita à forma como se rege uma Associação Humanitária de Bombeiros. […] Não alinhamos na fulanização da nossa atividade e muito menos temos necessidade de andarmos em “bicos de pés”. A associação é só uma. […] De qualquer forma, os heróis são sempre os bombeiros e, portanto, todos os elogios serão sempre poucos. […]

As próximas eleições realizam-se em 2017. Vai recandidatar-se?

Um cenário distante […]. Na altura devida, […], tomarei essa decisão com a restante direção. A verdade é que este trabalho, voluntário e gratuito, é extremamente exigente. […] A ver vamos.

Deixe uma mensagem nesta quadra festiva.

Apresento votos de bom Natal a todos os membros da Associação, bem como aos associados e à comunidade arcuense em geral. Que o ano de 2017 seja de grandes realizações para todos.

 

Números da AHBVAV

– 991 sócios pagantes (725 em 2011).

– 43 bombeiros efetivos (27 em 2011). Destes, 16 são funcionários.

 

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