Manso Preto
Por muito que eu pense, hoje não sai nada …
A inspiração para um tema a escolher, escapa-me. O dia também não ajuda muito. Estou no Coral, na praia Norte, em Viana do Castelo.
Tomei o meu habitual café e apenas me distraio com a bonita paisagem, num mar tranquilo a deixar-se beijar por um azul celeste do céu. A leve aragem , fresca, não aconselha que as pessoas procurem a esplanada. Aqui dentro, no bem bom acolhedor onde se refugiam alguns pares de namorados que trocam olhares cúmplices, fazem-me sorrir pela felicidade em que acreditam. Um casal entradote na idade, lê os jornais que a gerência simpaticamente compra para disponibilizar aos seus clientes que, note-se, são ‘ferrinhos’ do apetecido local.
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Sei que por aqui também pára o meu amigo Orlando Barros, conhecido e consagrado escritor, poeta, autor de peças de teatro – um professor aposentado que, embora há anos tenha abandonado o Ensino, ainda consegue ser saudado com indisfarçável carinho pelos seus antigos alunos e colegas. Mas também ele, hoje, parece ter feito gazeta. Imagino-o, no entanto, ao lado de umas janelas panorâmicas, a escrever, por vezes a sorrir sozinho, enlevado pela prosa que vai escrevendo com a ironia que lhe é peculiar. Sobre o que escreveria se agora aqui estivesse? Nada, provavelmente nada! Porque ambos damos tudo por uma boa conversa e parece fascinado sempre que lhe confesso algumas histórias por que passei enquanto jornalista. Sim, porque não são só desgraças; há muitos momentos de humor, cenas caricatas que nos fazem sorrir ao recordar com bonomia, medos que se tiveram das loucuras de quem sabe que não endireita o mundo mas insiste teimosamente em lutar para que ele se transforme num lugar melhor frequentado. Nas suas diferenças, na tolerância, na pluralidade de ideias, no direito à segurança em tempos incertos que se adivinham cada vez mais perigosos …
Não damos por ele, mas estamos num paraíso, sem recearmos que por aí irrompa um qualquer homem-bomba ou um comando suícida. Porque estamos em Portugal – melhor ainda na província, sem arreliadoras filas de trânsito, neste Alto Minho de paisagens e mulheres que não precisam de se pintar para serem bonitas, do nosso folclore, no humor das cantigas ao desafio, na terra onde se chamam os bois pelos nomes e, por isso, a franqueza ameniza alguns ‘maus fígados’.
Há tardes assim! Dá-nos para o sentimento. A tranquilidade do local a isso convoca e o pessoal que nos atende sabe cativar pela simplicidade e simpatia.
Os dias enevoados e tontos são apenas quando nós deixamos que sejam…