Editorial

A INCRÍVEL ALMADENSE
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Joaquim Letria

Joaquim Letria

Professor Universitário

 

A actriz Inês Medeiros, que representa o papel de Presidente da Câmara de Almada, teve há dias uma saída infeliz que a deixou menos bem perante os moradores do Bairro do Picapau Amarelo, um bairro municipal que alberga pobres de diversas minorias étnicas.

O bairro, abandonado ao lixo, desleixo, falta de obras, prédios sem portas e andares sem janelas, buracos nas ruas e pouca higiene desfruta, no entanto, pela sua localização, de uma vista invejável sobre o Tejo e a cidade de Lisboa. E foi a beleza desta vista que perdeu a Inês, levando-a a confessar que ela própria até se mudaria para viver ali no dia seguinte.

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Claro que os habitantes do Bairro Amarelo, desinteressados da vista espectacular por terem de se concentrar no desleixo, no desemprego, nos assaltos, nos roubos e violência, saneamento básico abaixo do satisfatório, num conjunto de condições infra-humanas, disseram logo que a Inês fizesse o favor de para ali se mudar e ela que passasse a fazer de pobrezinha, porque só ali habita quem necessita, mas de qualquer modo ela seria ali muito bem recebida.

Inês de Medeiros, irmã de Maria de Medeiros –a  actriz de teatro em França e protagonista do filme  Pulp Fiction de Quentin Tarantino, com Bruce Willys, Uma Thurman e John Travolta –ambas filhas do maestro Vitorino de Almeida e irmãs da maestrina Joana Vitorino de Almeida, não achou graça ao que ouviu.

Eleita presidente da câmara de Almada de surpresa, Inês é conhecida por alguns munícipes como “A Incrível Almadense”, alcunha tirada da banda filarmónica com o mesmo nome e grande e antigo prestígio nos agrupamentos e escolas musicais de todo o País. Inês já dera nas vistas quando eleita deputada do PS para a Assembleia da República havia reclamado o pagamento das suas viagens e ajudas de custo para as deslocações entre Lisboa e Paris, cidade onde tinha residência oficial.

Esta coisa de invejar bairros pobrezinhos com vista fabulosa já ouvimos acerca do Bela Vista em Setúbal e das favelas do Rio de Janeiro. Mas quem o deseje tem de ter cuidado e lembrar-se que em muitos desses bairros “maravilhosos” de Portugal é onde residem cerca de 200 mil pessoas sem casa de banho, 18 mil famílias sem esgoto, 44 mil sem água canalizada, 55 mil sem retrete e dois milhões e 300 mil pessoas a usar fossas.

A vista pode ser deslumbrante, mas viver naquelas condições não parece recomendável num país da Europa. O que foi dizer Inês, a “Incrível Almadense”

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