O recente conflito israelo-palestiniano, a que os órgãos noticiosos chamam de conflito “Hamas-Israel”, cumpre o velho desígnio do Estado sionista de alargar o seu território à Cisjordânia e à faixa de Gaza e de frustrar de vez a ideia de um Estado palestiniano que existe de facto, mas não de jure.
O ataque ao festival de música eletrónica com rockets, um evento de suposta celebração da amizade e da liberdade, no deserto do Negev, não longe da fronteira com Gaza que os guerrilheiros do Hamas atravessaram ao amanhecer, utilizando drones armadilhados para destruir as torres de vigilância e os veículos militares israelitas, teve o intuito de matar e fazer reféns cidadãos israelitas e estrangeiros que lá se divertiam.
Não acreditamos na teoria, que já ouvimos propalada, de as autoridades Israel terem propositadamente desconsiderado o ataque de 8 de outubro, porque seria demasiado maquiavélico, mesmo para um fanático como Benjamin Netanyahu. O Congresso dos Estados Unidos revelou, entretanto, que Israel fora avisado três dias antes da presumível operação, e tendo em conta a eficácia dos serviços secretos israelitas e da sua Mossad – Instituto de Inteligência e Operações Especiais, tudo fica nebuloso, mas que deu jeito ao governo de Israel deu. Mas fiquemo-nos apenas com a ideia que foi uma das maiores falhas dos serviços de inteligência de Israel, comparável à ocorrida 50 anos antes, quando a Síria e o Egito lançaram um ataque surpresa na guerra do Yom Kippur.
Durante muitos anos o primeiro-ministro de Israel usou a estratégia de dividir os palestinianos nos territórios da Cisjordânia e de Gaza, permitindo tacitamente que o Hamas controlasse Gaza para enfraquecer Mahmoud Abbas, que lidera a Autoridade Nacional Palestiniana. Plano sórdido que visava também “dar gás” ao Hezbollah e à jihad islâmica. A teoria era a de que o Hamas, apoiado financeiramente pelo Catar, se concentrasse mais em governar o enclave e se tornasse mais moderado e menos interessado em atingir Israel. Na prática significava que Israel continuasse a utilizar a mão de obra barata dos habitantes de Gaza e mantivesse a população, maioritariamente islâmica, enclausurada numa espécie de prisão a céu aberto.
O enfraquecimento da Autoridade Nacional Palestiniana e o fortalecimento do Hamas seriam assim cinicamente pensados para dificultar os esforços de paz e impedir o estabelecimento de um Estado palestiniano.
Após a adoção de uma resolução pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1947, que recomendava a implementação do plano de partilha da Palestina para substituir o chamado “mandato britânico”, em 14 de maio de 1948, David Ben-Gurion, o chefe-executivo da Organização Sionista Mundial e presidente da Agência Judaica para a Palestina, declarou o estabelecimento de um Estado Judeu (que veio a ser conhecido por Estado de Israel), independente do controle britânico.
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Desde essa altura, Israel travou várias guerras com os Estados árabes circunvizinhos, vindo a ocupar os territórios da Cisjordânia, a península do Sinai, a faixa de Gaza e os montes Golã. Partes dessas áreas ocupadas, incluindo Jerusalém oriental, foram anexadas por Israel, mas a fronteira com a Cisjordânia ainda não foi definida de forma permanente. Por seu lado, a fronteira entre Israel e a faixa de Gaza criada na guerra de 1948 manteve-se praticamente intacta desde então.
O atual regime sionista do governo de Netanyahu, que parece estar a sublimar os horrores do holocausto nazi, tudo está a fazer para que, no seio das famílias palestinianas, nomeadamente as crianças e os jovens, destroçadas por esta guerra de autêntico genocídio que não olha a meios para atingir os fins, mesmo que ao arrepio das normas internacionais e dos direitos humanos, germinem mais guerrilheiros ao serviço da jiahd. O calculismo militarista xenófobo sionista, que não deve ser confundido com o judaísmo internacional, faz assim perigar e adiar sine die uma perspetiva de paz no Médio oriente.