Compre já a nova edição do livro MINHO CONNECTION

Jovem arquitecta Renata Monteiro elogiada em Barcelona

A jovem arquitecta caminhense, Renata Monteiro, um dia pensou que a sua tese de mestrado teria de ser dedicada à sua terra e aproveitar as imensas histórias que ouvia em criança do seu avô e pai sobre a cultura e património desta vila. Do sonho à concretização, tratou de elaborar a sua tese com a meia-casa da designada Rua dos Pescadores (Caminha), desde a sua arquitectura até à cultura de uma classe, passando pelas divergências entre rua e vila. Certo é que o seu trabalho mereceu como nota final 19 valores. Daí um convite vindo de Barcelona onde ‘deu cartas’ numa conferência a que assistiram muitos colegas e académicos da área!

Mas a paixão desta jovem pela história e património da sua vila leva a continuar a trabalhar no que acredita e que a meia-casa é um património que deve ser protegido e preservado.

Há dias, Renata Monteiro esteve presente em Barcelona nas Jornadas Internacionais Sobre a Intervenção no Património Arquitectónico organizadas pelo ‘Collegi d’Arquitectes de Catalunya’ e pela ‘Agrupació D’Arquitectes per a la Defensa y la Intervenciò en el Patrimoni Arquitectónic’. Devido à mais recente candidatura do estuário do rio Minho a património da Unesco, esta jovem fez a sua apresentação com Eva Baz, que também tinha realizado a sua tese com base nas casas dos pescadores galegos.

Minho Digital sabe que a história e o trabalho de Renata Monteiro foram amplamente elogiados, pelo que se justificava conversamos com a jovem e ficamos a saber de todos os pormenores e quais as ambições da mesma.

PUB

 

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Minho Digital (MD) – Quantas pessoas estavam inscritas para assistir à sua apresentação?

Não sei ao certo a quantidade de assistentes que estavam na apresentação, não posso precisar um número… Sei apenas que no total, haviam algo mais de 250 inscritos para assistir às Jornadas e o auditório na nossa apresentação estava muito bem ‘composto’.

PUB

MD – Apresentaste a tua tese de mestrado na íntegra ou tiveste de fazer uma adaptação?

Foi uma adaptação, apesar do conteúdo estar lá todo concentrado. Fiz um artigo para as Jornadas em que, para além do estudo que realizei sobre as ‘Meias-Casas de Caminha’, continha um outro sobre as Casas Marineras de A Guarda feito pela Eva. O resultado foi muito rico, muito interessante!

MD – Que salienta da meia-casa?

PUB

De uma forma geral tudo aquilo que salientei e descobri com a tese : as características principais da Meia-Casa casa ao nível da construção e como tipologia arquitectónica, mas também a sua história a par com a da vila de Caminha, algumas curiosidades, a relação que existe entre a diferença construída da Rua e da Vila, as comunidades de cada espaço e as suas identidades…

MD – No final quais foram as reacções e comentários dos presentes?

Ainda durante a apresentação a maior surpresa do público era notada pelas reacções às fotos, às dimensões e ao pitoresco das Meias-Casas. No final, gostei particularmente do interesse de alguns presentes ao colocarem-me questões, de quererem saber em que estado estão algumas delas… Senti que houve uma atenção sincera por parte do público e de alguns ‘nomes do património’, principalmente português… Em alguns casos o interesse transparecia e ficava até uma leve vontade de passar por cá para as visitar !

MD – Ficou satisfeita com o resultado?

PUB

Imensamente satisfeita! Até agora a Meia-Casa e o meu trabalho tinham sido mostrados a ‘pessoas da casa’, a pessoas próximas, caminhenses… Os elogios que recebia eram sinceros, mas sobretudo vinham de pessoas que tinham uma relação comigo, coma Rua, com as Meias-Casas… Desta vez os que vieram, foram pessoas alheias a tudo isto que referi. Foi uma recompensa muito, muito boa !

MD – Considera que a meia-casa é um património de Caminha?

Sem dúvida! É o reflexo construído de uma comunidade Caminhense, uma tipologia única e singular, carregada de história e conta-nos tanto da Rua, mas também de Caminha e da sua gente… Somos afortunados por ainda ter Meias-Casas.

MD – E que é necessário fazer para que seja tratado como património a proteger?

Muito! O primeiro passo é consciencializar as pessoas, dar a conhecer as Meias-Casas, mas também como estas estão ameaçadas. Tem de haver uma preocupação e interesse geral para que estas sejam tratadas com o respeito e o valor que merecem. 

MD – Quantas meias-casas ainda existem?

Actualmente 34, mas uma delas está a ser já alvo de intervenções.

MD – Sabemos que também apresentou um projecto para a meia-casa no orçamento participativo. Em que consiste? Acreditas na sua aprovação?

Apesar de considerar o projecto de interesse para Caminha, este não seguiu para votação pública após a análise técnica, isto pelo que me foi comunicado recentemente. O projecto passava pela recuperação de uma Meia-Casa tal como estas eram conhecidas, com as características típicas e singulares; poderia posteriormente ser utilizada como Museu e Espaço da Comunidade Piscatória de Caminha, uma zona de serviços que pudesse servir quer a Rua como a Vila. 

É certo que o projecto surgiu de uma forma muito espontânea e pouco ponderada, o valor disponível não poderia cobrir as necessidades que existiam para que este seguisse e existem outras obras prioritárias para o Concelho a concorrer ao Orçamento Participativo. Nesse ponto tenho que ser sincera em dizê-lo… Talvez para uma outra oportunidade!

MD – Não receia que todo o seu esforço e trabalho caia no esquecimento?

Não! Fui muito mais além do que alguma vez imaginei com este trabalho. A Meia-Casa foi recordada por uns, conhecida pela primeira vez por outros, alguns tornaram-se preocupados pelo seu estado, outros interessados nas possibilidades e mais-valias que ela pode representar para Caminha. Fui recompensada com muito bons resultados e que  superaram todas as expectativas que poderia ter tido.

Receio?! Medo até? ! Tenho apenas que as Meias-Casas desapareçam e, com elas, parte da nossa identidade, património e história. Se não soubermos quem fomos e soubermos manter o que foi nosso, um futuro sem grande sentido nos espera. 

 

PUB
  Partilhar este artigo
  Partilhar este artigo
PUB
PUB

Junte-se a nós todas as semanas