Compre já a nova edição do livro MINHO CONNECTION

Jovens monçanenses viram-se para a produção de Alvarinho

Produtor de Alvarinho

A viticultura continua a ser uma aposta dos monçanenses. Seja os mais velhos, que sempre tiveram nesta o sustento diário, seja os jovens que por desemprego ou vontade decidiram voltar mãos à terra. Com alguns casos de jovens agricultores, o “Minho Digital” foi ao encontro de dois. José Alberto Fernandes apostou na viticultura pela diminuição de trabalho na construção civil, Nuno Sousa tem uma empresa própria ligada à hotelaria e decidiu continuar o trabalho iniciado pelos avós e tios.

“Jardim” é visitado quase todos os dias

Com 35 anos, José Alberto Fernandes mudou de vida. Há seis anos o trabalho na área da construção civil diminuiu e como “era preciso continuar a viver” decidiu mudar de rumo. Os oito hectares de vinha, que pertenciam aos pais da esposa estavam à sua espera. Não hesitou. Aconselhou-se e fez uma candidatura de jovem agricultor, com o programa VITIS está a reconverter as vinhas.
“Tínhamos aqui esta propriedade, que já era modelo de condução de vinha antiga. E não podíamos estar a trabalhar, ter um trabalho e ainda vir tomar conta disto. E não dá ter também aqui um funcionário. Naquela altura as vinhas já tinham uma certa idade e precisava de renovar. Chegaram aqueles programas VITIS e apostei na vinha”, conta.
A extensão das vinhas justificava ficar dedicado em exclusivo. Embora não tenha produção própria, continua a levar as uvas para onde sempre levou. “Levo todas as uvas para a Adega Cooperativa. Já era no passado e agora continuo”. Adiantando que “gostava de ter a minha adega, mas o que vejo por parte dos nossos governantes, não são grandes alterações”. Acrescentando que “não nos podemos virar para Portugal, mas para o estrangeiro e isso exigia um grande investimento. Sei que há algumas ajudas, mas eu prefiro ir calmamente e dar um passo de cada vez”.
Há seis anos dedicado em exclusivo à vinha. José Alberto Fernandes considera que fez uma boa aposta. A escolha de um novo sistema de condução de vinha também o satisfaz. “No princípio foi muito complicado, porque quando se renova uma vinha desde a plantação até que começa a produzir são sempre três a quatro anos, em sistema novos, que é como este [apontando para os terrenos de Serrade de baixo], o ascendente. No retumbante pode contar mais dois anos para entrar em plena produção”, esclarece.
E apesar de não ter toda a produção em sistema ascendente, José Alberto quer mudar isso. Após as vindimas vai apresentar nova candidatura à reconversão das vinhas. “Os 70 por cento estão em sistema retumbante. A ascendente só tenho um hectare e meio. Os seis hectares e meio é tudo retumbante. Tenho uma área com vinha com 30 anos e já meti um projeto Vitis que é para renovar. Vou tentando renovar de três em três anos para não haver perdas. Nesse hectare e meio vou optar por cordão ascendente. A produção é muito mais rápida e já não se perde aquele tempo todo”, salienta.
Optando por uma nova forma de cultivar a terra, José Alberto explica que opta pelo arrelvamento, ou seja, “não trabalho a terra. Uso pesticida, mas o não trabalhar a terra é melhor para a biodiversidade. Ao trabalharmos muito a terra vamos fazendo com que fique mais pobre”. Acrescentando: “Os próprios animais e bichinhos criam sempre matéria orgânica. E também é bom ter as abelhas, e as joaninhas para combater certas pragas”.
Criticando a muita burocracia associada, o jovem agricultor apela a que “já que há dinheiro dado pela Europa devia ser distribuído”.
O dia a dia é passado no “jardim”, como faz questão de chamar aos terrenos de Serrade de baixo, ou Quinta das Burras, como era conhecido. Sendo patrão de si própria assegura que “as dores de cabeça são maiores, mas as vantagens também são grandes”.
Aconselhando a quem quiser optar por esta área a ter “muita fé”, José Alberto Fernandes sabe que “os investimentos são muito grandes e precisamos contar uns anos até ter algum lucro. Quem quiser enveredar por esta área tem de ter muita fé, porque todos os anos o trabalho é o mesmo, mas a produção varia”. Afirmando que “se não tiver um mínimo de três hectares não vale a pena, porque hoje em dia todo o mundo é obrigado a declarar o que ganha”. Admitindo ainda que “se não houvesse ajudas acredito que não havia hipóteses. Para fazer um hectare de vinha precisa de um investimento de 15 a 18 mil euros”.
O “respirar ar puro”, estar em contacto com a natureza é aquilo que José Alberto Fernandes destaca, assim como ter tempo para a família. “Tenho tempo para tudo”. A parte aborrecida é “andar sozinho”, no entanto um rádio faz-lhe companhia nos processos de condução da vinha, do corte das ervas e até na poda.

Quinta da Amiosa é cuidada por Nuno Sousa

PUB

A entrada da Quinta chama a atenção pela estrutura em pedra, a casa brasonada também não deixa ninguém indiferente e ao redor os muitos hectares de vinha completam o cenário de tradição. Nuno Sousa é o atual responsável. O projeto de vinha iniciado pelos avós depois do setor do leite entrar em queda é continuado pelo jovem contando com a ajuda dos tios.
Questionado pelas razões da aposta não hesita: “A razão é que os meus avós sempre estiveram ligados à viticultura e agricultura em geral e foi mais uma aposta pessoal”, refere. Com os olhos azuis a brilhar revela que a vinha lhe exige dedicação a 100 por cento. Contudo, a empresa de eventos continua no ativo e consegue conciliar as duas atividades.
Os 13 hectares de vinha Alvarinho, e algum Vinhão, estendem-se por Valadares e Messegães. E é lá que vai reconvertendo as vinhas. Recentemente fizeram uma nova plantação perto do campo de futebol do Areal.
Sócios da Adega Cooperativa de Monção há 20 anos continuam a entregar naquela as uvas produzidas. Nuno Sousa refere que “não temos intenção de fazer produção própria, porque o mercado está difícil. Tínhamos de apostar em muita quantidade e neste momento não somos capazes porque não temos área suficiente”.
Acompanhar o crescimento da videira e depois das uvas é aquilo que Nuno Sousa mais gosta no trabalho diário na Quinta. As dificuldades estão relacionadas com a exigência de “muito trabalho e dedicação e depois é a instabilidade meteorológica. Este ano, a este nível está ser bastante complicado. A nível de tratamentos temos de estar sempre em cima. E há coisas que não se conseguem controlar. É o caso da chuva que tem afetado esta fase da floração”.
Sem empregados e contando com a ajuda do avô, e dos tios, Nuno Sousa está quase todos os dias nas vinhas e não se cansa. Como todos os dias “há trabalho a fazer”, calça as galochas e percorre os vários cordões de vinha para controlar. Agora é ver o estado sanitário dos cachos e das folhas.
Com toda a ajuda familiar consegue diminuir os custos de produção. “Só há duas coisas que fazem com que ganhemos mais dinheiro. Ou a uva é paga mais cara, o que não se prevê. Ou então diminuir os custos de produção, que é o que acontece recorrendo à ajuda familiar”.
Há cinco ano recorreu a ajudas estatais e apresentou uma candidatura para Jovem Agricultor. Não se arrepende e agradece a ajuda. “Essas ajudas são sempre boas porque uma pessoa sempre pode apostar mais em modernizações. Se não fosse assim, demoraria mais uns anos”, salienta. Adiantando que aproveitou o apoio para a aquisição de novas máquinas e para a plantação de mais área e reconversão das existentes.
Com expectativas para apresentar novas candidaturas, Nuno Sousa quer continuar a modernizar e tirar o máximo potencial da videira. “De dois em dois anos estamos sempre a remodelar a vinha. As mais antigas terão 10 anos. Ao chegar aos 15 anos remodelamos. Antigamente falava-se que a vinha produzia em 20 anos, mas agora como a sobrecarregamos, porque tentamos tirar o máximo partido, temos de ir remodelando. Este ano remodelamos uma e apostamos por um sistema diferente para obter o máximo de rentabilidade. Nós temos praticamente o sistema de cordão simples ascendente. Este como está mais próximo do solo, a qualidade da uva é superior e amadurece com melhor qualidade”, assegura.
Aconselhando os jovens a apostar na agricultura, Nuno Sousa acredita que estes podem trazer ideias diferentes. “É pena que não haja mais jovens a apostar. Os jovens trazem sempre ideias novas e é um trabalho que tem de se ter muito gosto. Se não se gosta é difícil porque é um trabalho muito duro. A paixão, a dedicação e o gosto. Eu já tinha muito conhecimento por esta área, porque no fundo é a terceira geração. Foram os meus avós, depois os meus tios, e agora eu. Nasci aqui e fui criado aqui”.
Nuno Sousa não esconde o orgulho de continuar um projeto iniciado pelos avós. Depois de terem dedicado parte da vida à criação de vacas e produção de leite. A área de negócio voltou-se para o Alvarinho.  revela, com satisfação.

PUB
  Partilhar este artigo
Nuvem do Minho
[taxopress_termsdisplay id="1"]
  Partilhar este artigo
PUB
PUB

Junte-se a nós todas as semanas