Compre já a nova edição do livro MINHO CONNECTION

Lavradas terá um novo edifício eclesial enquanto a população continua dividida

igreja_lavradas

No último boletim paroquial, com data de 24 de fevereiro 2019, pode ler-se que a decisão de intervenção “é, sem dúvida, a proposta (3) – construção de uma nova igreja – aquela que deverá ser autorizada pelo Bispo Diocesano para o bem de toda a Igreja”. Na decisão do Bispo pode ler-se, ainda, que “havemos por bem agradecer a aprovar as orientações dadas pelos Membros do Departamento do Património Imóvel, Artístico e Documental do Instituto Católico de Viana do Castelo, recomendando que as mesmas sejam observadas”. Decisões tomadas, o Minho Digital obteve os contraditórios.

 

Adolfo Ferreira, membro da Comissão Angariadora de Fundos, esteve à conversa com o Minho Digital, tendo sido o único elemento da Comissão a aceitar o contraditório que foi pedido em todas as peças e reportagens feitas por este semanário, e que davam conta dos acontecimentos sucedidos após o incêndio que destruiu a igreja daquela freguesia em dezembro de 2017. O advogado equaciona como positiva a escolha feita pela Diocese e garante que o projeto número 3 é, também, uma reconstrução. “Aquele edifício queimado representa um momento trágico, um momento que dói a toda a gente e devemos preservar essa memoria dolorosa (…) é preciso que quem vem a seguir consiga dizer: isto aconteceu, mas temos aqui objetos de para mostrar como era”. Quando questionado acerca do projeto escolhido e que contempla a demolição da casa paroquial, para construção dum novo templo, o advogado esclarece. “Há gente que entende que aquilo é uma igreja nova, mas não é assim. Aquilo é uma igreja reconstruída porque fará parte da igreja que existia, é uma ampliação”.

“UMA CASA QUE NÃO VALE NADA”

PUB

Garante de igual forma que a igreja ardida, da qual só restam as paredes “ficará ali, para um memorial” e que “será a porta de entrada para a outra igreja”. Adolfo Ferreira explica de igual forma que “a grande maioria das pessoas da freguesia quer que esta obra seja feita assim”, e reforça a ideia de que o projeto contempla a demolição da casa paroquial que – citando – “sacrifica uma casa que não vale nada. Uma casa que, representou muito, também sofrimento, porque foi feita num tempo em que toda a gente vivia sem condições – muitos a passarem fome -, foi-lhes exigido que colaborassem com a construção duma casa daquelas para o ‘senhor Reitor’ morar. E a casa Paroquial sem igreja não faz sentido (…) haverá um aproveitamento da parte de baixo para ter espaço para tudo aquilo que possa fazer falta: armazéns, salas para catequese e eventuais museus”.

Afirma que este novo projeto “irá fazer sentir bem as pessoas porque terão uma igreja moderna, sem destruir a igreja anterior e nós não podemos destruir nunca aquilo que nos pertence. Nós mantemos uma memória. E aquela memória está ali, a memória viva daquilo que aconteceu”. Confessa que há muitas pessoas que querem ser ativas dentro da freguesia, mas que na impossibilidade de contemplar as opiniões de todos, “foi nomeada então uma Comissão de angariação de fundos para resolver a situação. E essa Comissão foi composta por gente de vários pontos da freguesia e por paroquianos que residem fora e que contribuem para arranjar os meios para que a igreja seja feita”.  

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

O advogado, também lavradense, responde à pergunta das razões de ter decorrido mais de um ano desde o dia em que a tragédia se sucedeu, e tendo um valor angariado de 344.966,18€, as obras ainda não começaram. “Nós temos de ter consciência de que não fazemos obras ilegais. E a igreja não tinha património nenhum registado, até à data. Nem a casa paroquial, nem as capelas, nem as propriedades rústicas. E agora, com ajuda da Dr. Isabel Pedro, foi feito o registo das propriedades todas da igreja. Como isto foi feito tudo por uso e usucapião, teve de ser publicado nos jornais e demais, demorou o seu tempo”. Mas esclarece que “o processo já está concluído, podendo partir agora para a próxima fase, que será dar solução ao projeto. Quando estiver tudo em ordem – porque para já só existe projeto de arquitetura – é que se pode avançar com o projeto para a Câmara e avançar com a obra”.

PUB

Garante que o património “pertence à Paroquia de Lavradas, não através da entidade administrativa e civil, mas sim à entidade religiosa. E por isso é que para alinear tem de ser pedido o consentimento à Sé”. Adianta de igual forma que pretendem fazer “a reconstituição em projeto da casa paroquial anterior que era uma casa muito bonita. Porque esse é que foi o grande erro, a destruição duma casa histórica para se fazer uma residência ‘principesca’, quando as pessoas não tinham condições mínimas de vida, e isso sim foi dramático. A outra casa paroquial, essa sim tinha história, mas nós nunca poderemos colocar acima da igreja, a casa paroquial”.

Para o advogado é necessário vincar que “Lavradas não esquece o passado, mas projeta o futuro. E é isso que muitas pessoas não estão a ver. Lavradas só está a ganhar com isto. Nós não podemos esquecer o passado, mas temos de garantir o futuro e nós, neste projeto, estamos a garantir o futuro com uma obra de referência e com a juventude envolvida”. Informação ao qual o Minho Digital teve acesso, indica que um número de cerca de 60 jovens terá feito um manifesto de apoio ao pároco da freguesia que se deslocaram até à residência do ‘pastor’ para lhe demonstrarem o apoio depois de, alegadamente, o pároco ter pedido o seu afastamento da paróquia.

Para Adolfo Ferreira este ato feito pelos jovens “foi de grande importância, numa sociedade que está cada vez mais afastada da Igreja. Nós andamos todos de peito cheio, alegres, porque estamos a fazer um trabalho que agrada à gente nova”. O causídico garante que não existe uma data fixa de arranque das obras e que !tudo irá depender  dos projetos de arquitetura, da apresentação atempada, e da calendarização dos técnicos porque terá de ser aberto um concurso para que as empresas concorram e depois entregar a obra com base nos critérios que foram definidos”.

PUB

Garante que os projetos foram apresentados juntamente com a “estimativa” dos custos à população e que “a maioria, desde muito cedo, aceitou o terceiro projeto como sendo aquele que iria obedecer aos interesses da freguesia”. Neste ponto cabe ressaltar que, nos boletins paroquiais, entregues à população semanalmente, no cabeçalho aparece – quase desde o início – a imagem do projeto 3, à exceção do boletim número 87 (domingo 28 de outubro) – data que coincide, alegadamente, com uma reunião feita com o pároco da igreja e os populares, e onde supostamente o grupo de residentes terá confrontado o padre Filipe Sá com a questão da escolha do projeto e este teria afirmado que iria ser repensada a escolha e apresentada uma outra solução.  

O Minho Digital tem informações que em novembro de 2018 “a Comissão de angariação de fundos agendou nova reunião face ao clima de tensão que se fazia sentir na comunidade, tendo sido posta em cima da mesa a questão do referendo, que veio a revelar-se inviável como forma de minimizar o descontentamento da população”. Adolfo Ferreira admite , no entanto, “mas sem abdicar do anseio da população mais revoltada, chegou a propor-se fazer uma quarta hipótese que não chegou a ser verdadeiramente explorada, por não ser uma resposta eficaz às necessidades da freguesia. Decidiu-se então manter a escolha no projeto da igreja nova, tendo sido enviadas todas as hipóteses ao Departamento do Património para elaboração de parecer final vinculativo”.  

No mesmo documento cronológico dos acontecimentos ao qual o Minho Digital teve acesso pode ler-se (17 de junho 2018) “apresentação dos 3 projectos à comunidade, tendo sido solicitada a participação na escolha por escrito. No próprio dia, recolheram-se várias manifestações orais, todas no sentido de apoiar a construção da igreja nova, numa recetividade que surpreendeu o pároco e o próprio autor dos projetos. Entretanto, foram chegando sugestões em papel e por mail”. O advogado, questionado com esta afirmação esclarece que “aquele projeto foi aprovado por um grupo. Depois foi apresentado publicamente, e essa apresentação pública foi avisada com antecedência, e as pessoas compareceram. E foi dada a opção às pessoas de se pronunciarem por escrito. Mas a verdade é que o que está é pouco porque as pessoas não disseram que não, aceitaram, e não se pronunciaram (…) mas nós não podemos pensar que as sugestões são um pronúncio de contra. E são muito poucas. As sugestões feitas a um projeto de arquitetura são sempre complicadas… Um projeto de arquitetura é uma obra de arte e as obras de arte nunca estão sujeitas ao escrutinio”.

PUB

Para Adolfo Ferreira a polémica levantada em torno da reconstrução da igreja de Lavradas “prende-se com o facto de algumas pessoas quererem impor as suas vontades individuais. E isso não pode ser. Este projeto anda para a frente porque foi aquele que foi aprovado nas várias instancias: na reunião com os paroquianos, na comissão de angariação de fundos e na Sé. Foi aprovado em todo lado”, culmina.

O Minho Digital, após ter conseguido, pela primeira vez, o contraditório de um dos membros da Comissão de angariação de fundos, Adolfo Ferreira, também deu o direito a resposta a um dos ex-membros da Comissão, Manuel Fernandes, o qual esclareceu  que “há pessoas que têm vindo ultimamente a falar acerca da minha demissão. Eu nunca fiz propaganda da minha demissão. Demiti-me porque eu sempre fui a favor de se consultar o povo antes de avançar com qualquer projeto ou ideia de projetos”.

Garante que sempre soube do descontentamento da população e tentou alertar o pároco “mas eles nunca me deram ouvidos. Quando tentei alertar daquilo que as pessoas falavam e daquilo que o povo queria (referendo) a resposta do senhor padre foi ‘nem pensar, isto quem o vai resolver somos nós, porque o povo de Lavradas é cobarde’, e isso não é coisa que se diga. A partir daí, demiti-me porque eu não aceito filhos e enteados, e muito menos compadrios”, vincou.

Manuel Fernandes garante “que a consulta popular não foi feita nos termos que devia ter sido feita. E aquilo que foi escolhido não é aquilo que o povo quer. As pessoas, a maioria delas, não soube o que se passou. Pedi para dizerem às pessoas se o valor dos 600.000€ era o valor da igreja já pronta, ou o que é que era e eles ficaram entalados (…)”.

André Fernandes, presidente da Junta de Freguesia esclarece que “numa freguesia com 874 habitantes, só uma sessão de esclarecimento não chega. Os projetos só foram divulgados através das redes sociais e por escrito. Não foi o melhor processo para chegar a uma solução”, garante.

Para Manuel Fernandes o “povo está desconsolado e o padre Filipe é incapaz de dar uma palavra de consolo ao povo. A esse povo que está descontente. Ele é o autor da guerra. Ele devia estar para unir, não para desunir. Que Pastor é ele? Onde está o outro projeto que ele disse que iria apresentar?” E ainda refere que “o senhor Padre disse, em público, para nós estarmos descansados porque a casa paroquial não iria abaixo! E agora, o projeto ‘escolhido’ é o oposto? Onde é que está a palavra do nosso pároco? (…) Eu sou defensor da casa paroquial. Se quiserem fazer um arranha-céus, que façam, mas que não mexam na casa”, afirma veemente. “O povo de Lavradas merece umas palavras de consolo e carinho! O senhor padre sabe bem que não se ouviu o povo para decidir e essas pessoas mereciam, pelo menos, uma palavra de apoio porque estão insatisfeitos”, afirma.

Por sua parte, para o autarca, André Fernades “a única maneira de apaziguar o mal-estar que se sente é ouvindo o povo. Se desde o início, tivessem dado resposta, não teria acontecido tudo isto. Se há tanta certeza de que era o terceiro projeto o escolhido, por que é que não houve uma espécie de referendo? O povo foi solidário com o próprio povo, não com a Diocese. Quando os peditórios começaram, não havia sequer a existência de ‘projetos’, o povo deu para ajudar a reconstruir. E é isso que está em causa! O povo sente-se enganado!”.

“Os ‘angariadores de fundos’, como se lhes chamava, mesmo os que fizeram peditórios internacionalmente, estão todos revoltados, não foi para isto que andaram a pedir dinheiro. Onde está o respeito com as pessoas de Lavradas? E mais: o respeito por todas as iniciativas que houve, para fazer a reconstrução, sem sequer haver projetos pelo meio?”, questiona o autarca.

Para André Fernandes “é necessário que a Comissão se preocupe com o problema interno da freguesia, unir o povo da freguesia porque quem veio ajudar, e quem deu ajuda, fizeram-o pelas pessoas, independentemente de haver ou não projeto, não vieram ajudar para ter um voto na matéria por se acharem importantes! Vieram ajudar porque ficamos sem nada! E agora é a Diocese quem escolhe?! Simplesmente o respeito para com essas pessoas não existe”.

O autarca culmina referindo que todas as declarações que tem dado prendem-se com o facto de “querer apelar ao bom senso para que isto se resolva de uma vez por todas. A única maneira de resolver isto é conversando com o povo. E é esse o apelo que eu deixo a quem de direito”, culminou.

PUB
  Partilhar este artigo
  Partilhar este artigo
PUB
📌 Mais da Barca
PUB

Junte-se a nós todas as semanas