Lendas e Mitos do Nordeste Brasileiro: O engenho mal-assombrado!

Quando bate a meia noite, o velho engenho em ruínas, há muito tempo abandonado, começa a se agitar. Do seu interior surgem vultos fantásticos.

O primeiro a aparecer é o senhor de engenho, de chapéu de abas largas, botas com esporas e chicote na mão, grita:

– Vamos! É embora. É hora de serviço! Comecem a trabalhar !

Então, tudo se movimenta. As velhas almanjarras se põem a rodar. E os moleques, empoleirados no alto das máquinas, berram, acoitando as bestas que puxam as rodas.

Apesar de azeitadas, as engrenagens do engenho rangem sem cessar. E as canas, esmagadas entre os cilindros das moendas, estalam fazendo: craque, craque, craque ….

Os escravos trabalham sem descanso, com o suor escorrendo pelas  costas nuas. O tombador de canas faz o seu serviço, entoando uma cantiga alegre. O carregador de bagaços passa, a cada instante, levando nos braços, feixes alvos de canas espremidas. E o caldo verde e espumoso escorre aos borbotões pelas bicas. Parece uma cascata de esmeralda líquida !

Os escravos alimentam, incessantemente, as bocas rubras das fornalhas. O fogo crepita debaixo das caldeiras, que gemem e chiam como se fossem vivas.

A fumaça sobe pela chaminé. As tachas fervem. E o cheiro gostoso do mel cozido invade todo o engenho.

De fora, vem o rechinado plangente dos carros de bois, trazendo canas para o engenho. Cambiteiros estalam chicotes tangendo burros também carregados de canas.

Moleques de olhos vivos e movimentos ágeis pulam na frente dos animais. Tudo palpita dentro e em redor dom velho engenho, onde trabalham sem cessar.

Mas, quando os galos começam a cantar, o ruído das máquinas e o clamor das vozes começam a diminuir. E pouco a pouco, as luzes se apagam, os movimentos vão se tornando mais lentos e os rumores perdem  a intensidade. Os homens e os animais vão ficando sem vida e sem cor e se transformam em sobras, cada vez mais esbatidas.

E, quando clareia o dia, o velho engenho volta a ser um montão de ruínas, abandonado e silencioso …

(Esta é a versão contada pelo Professor Theobaldo Miranda Santos em seu livro “Lendas e Mitos do Brasil” – Cia. Editora Nacional.)

 

A editora RECANTO DAS LETRAS, conta-nos a história não menos interessante, e que merece ser apreciada:

O ENGENHO MAL ASSOMBRADO

Ao longe eu vejo as ruínas daquele que foi um dos maiores engenho do brejo  paraibano, e que um dia, assim como tantos engenhos, foi cenário de dor, sofrimento, intolerância e descaso com o ser humano. Mas “o tempo dá e o tempo tira.”  A escravidão manchou de sangue a história, deixou marcas profundas gravadas nas páginas do tempo, nódoas de ódio que envergonharam a humanidade.  Mas o tempo também envergonha o opressor, mostra que nada aqui é eterno.  A imponência e a prepotência têm os seus dias de declínio.

Senti um arrepio  percorrer  o meu corpo  ao me lembrar de  uma história que meu avô contava sobre um fato que aconteceu naquele engenho.  Ele contou que aquelas terras pertenciam a uma família abastada e muito conceituada, nos Estados Paraíba e de Pernambuco.  A família era pequena, composta de pai mãe e filha.  A menina chamava-se Filomena. Era uma criança irrequieta, mimada, porém amável e meiga.  O pai, o Senhor Venâncio, sujeito imperioso, petulante, possuía o dom de dominar os negócios. Era reconhecido  em todo o Brasil pela qualidade dos produtos que saiam de suas propriedades. A mãe, D. Felícia era uma mulherzinha entediada, insossa, falsa moralista, vestia-se de santa da cabeça aos pés, mas tinha um coração mais frio que uma pedra de gelo. Maltratava os pobres sem dó nem piedade. Diziam que os castigos mais cruéis e severos  imputados aos escravos,  partiam dela.

Foi nesse engenho que nasceu a escrava Acácia.  A mãe morreu após sofrer severos castigos quando ainda  amamentava a menina e o pai ao tomar para si as dores da mulher foi surrado até a morte. Mas, aos trancos e barrancos a menina sobreviveu na senzala fétida,  escura e úmida. Quando estava com seis anos de idade fora levada a casa grande para auxiliar as escravas nos serviços domésticos.  Certa manhã, ela vinha com o cesto de roupas, distraidamente esbarrou em Filomena, que na época estava com oito anos. Filomena achou  engraçado quando acácia, largou abruptamente o cesto e se encolheu na parede com medo de levar uma sova.  Mas Filomena se compadeceu da pobre Acácia e a partir daquele dia passou a nutrir um grande afeto pela pequena escrava. Um dia ela pediu aos pais que Acácia fosse a sua dama de companhia. Eles relutaram, pois não queriam a filha na companhia de negros, mas cederam, pois faziam todos os gostos da filha.  E, apesar do ódio e desprezo de D. Felícia, as duas meninas tornaram amigas inseparáveis.  Filomena tinha uma educação esmerada. Aprendera  latim, português, piano e bordado francês  com os melhores professores da região. E todos estes ensinamentos ela repassava para a sua dama de companhia que prontamente aprendia, superando até a inteligência da própria mestra.  Além dos dotes  intelectuais, Acácia tinha uma beleza incomum, não passava despercebida pela sua sensualidade, altivez e porte de rainha. Ela despertava a cobiça e desejo entres os homens e despeito entre as mulheres.  A fama dela se espalhou e todos os senhores de engenho queriam comprá-la, muitos ofereciam um alto preço por ela. Mas, o Sr. Venâncio que também a cobiçava em segredo, dizia que a escrava não estava a venda, pois era propriedade da sua filha.

Um dia D. Felícia vendo as meninas passeando no jardim, percebendo que o Sr. Venâncio olhava para Acácia de um modo diferente,  foi tomada por um ódio mortal, porque desprezava os negros, principalmente Acácia. Então  jurou pra si mesma que iria acabar com a vida dela. Um dia, ao ver a escrava sozinha descendo às escadarias da casa grande com um cesto na mão. D. Felícia imediatamente chamou um capataz da sua confiança e ordenou que seguisse  e matasse a moça, mas antes de jogar o seu corpo num abismo, arrancasse  os seus seios e os trouxesse para ela numa bandeja.

Mais tarde o capataz voltou de mãos vazias, estava coberto de sangue e a língua decepada. D. Felícia esmurrava o homem chamando-o de incompetente.   O Sr. Venâncio, sem saber o que tinha acontecido e  ao ver o histerismo e descontrole da mulher correu para o quarto da filha para certificar se tudo estava bem, porém não  encontrou Filomena e nem sua dama de companhia.  Preocupado, ordenou que as procurassem por todo o engenho e arredores, não encontrando nenhum vestígio das meninas.

As noites que se seguiram, foram de tormentos agonia. D. Felícia consumida pela culpa e pelo remorso mal conseguia dormir, e quando conseguia, acordava aos berros, pois alguém sussurrava em seus ouvidos: “devolva os meus seios que eu devolvo a sua filha”.

O Senhor Venâncio intrigado e inconformado com o sumiço da filha e da sua escrava preferida, procurava-as obsessivamente como um louco desvairado. O engenho caiu de produção e ele perdeu a credibilidade no mercado. Aos poucos os seus  capatazes foram se debandando para outros engenhos, levando com eles  boa parte do gado e os melhores escravos.

Não passou muito tempo para que  o engenho fosse tomado pelo mato, ninguém sabe ao certo o que aconteceu com o casal, pois os poucos escravos que lhes restavam, foram embora. Débeis e sem ninguém para servi-los, acredita-se que tenham morrido de inanição.

Os moradores da região evitam passar por perto durante a noite, pois acreditam que o engenho é mal assombrado.  Dizem alguns que já viram os fantasmas de duas moças correndo na sacada da casa grande.

O que se sabe é que naquelas  ruínas existe  um mistério que nunca conseguiram desvendar: Quem cortou a língua do capataz?   Por que Filomena sumiu?  E o que houve com Acácia?

O casarão assombrado de Guaiúba – CE

Explorando subsídios na internet sobre “O Engenho Mal-assombrado”, encontramos publicações curiosas onde muitos se manifestam sobre crendices populares, apontando a existência diversos contos, antigos, espalhados pelo interior do território brasileiro, em que o tempo da escravatura muito contribuiu. Um dos trabalhos encontrados, teve a indicação de João Paulo Farias.

Desenvolve-se a história sobre o casarão assombrado de GUAIÚBA, no Ceará.

Vai junto à nossa apresentação sobre este assunto, a sugestão para que se visite

E se surpreenderão com a riqueza das contribuições à cultura brasileira :

Hoje voltamos a publicar uma matéria da série “Histórias e Lendas Brasileiras“, e voltamos a contar com a ajuda do amigo João Paulo Farias, que foi quem nos indicou o assunto abordado no texto abaixo: o casarão assombrado de Guaiúba, no Ceará.

No município de Guaiuba, na Região Metropolitana de Fortaleza, uma casa abandonada guarda muitos mistérios. Sons estranhos são ouvidos pelas pessoas que passam pelo local. De acordo com os moradores, a residência pertencia a uma família tradicional, que costumava enterrar os parentes no terreno, fato muito comum antigamente, principalmente entre famílias poderosas, que costumavam criar um cemitério particular próximo da própria casa.

Além das histórias de assombração que existem em relação ao casarão, muitas pessoas acreditam que até mesmo um tesouro poderia estar escondido na antiga residência construída no século XIX, e que atualmente é de propriedade de dois irmãos. O último dono que residiu na casa acabou falecendo no imóvel.

O casarão centenário, solitário, mal cuidado e hoje transformado em local de encontro de usuários de drogas, desafia o imaginário de moradores e visitantes, um enigma com muitas perguntas e poucas respostas.

A fachada externa e a disposição dos cómodos, denunciam um passado confortável, numa residência de alto padrão, estilo neo-colonial, ampla, espaçosa, com dois pavimentos e vista para o Maciço de Baturité, que se desenha ao longe. No alto da construção pode-se observar uma grande cruz.

Mas é no segundo pavimento que essa regularidade é quebrada: diferente do primeiro piso, onde as divisões e usos são facilmente identificáveis, – salas, quartos, cozinha, etc, aqui essa disposição não é observada: uma infinidade de portas, janelas e corredores, curtos, baixos, com pequenas aberturas para passagem da luz e do ar; portas e tetos tão baixos, que pessoas só tem acesso, se agachados.

Populares acreditam que aqueles pequenos cômodos, alguns com grades, eram alojamentos de escravos. Lembrando que o casarão fica numa região próxima as antigas fazendas de café que era cultivado na área do Maciço de Baturité, e de Redenção, primeira cidade a libertar seus escravos no Ceará. Porém, nenhum historiador local confirma que propriedade abrigou trabalhadores escravos.

Quem passa pela CE-060, no distrito de Água Verde, no município de Guaiúba, admira o antigo casarão e lamenta o estado em que se encontra. Mesmo com as paredes ainda conservadas, já se nota os estragos nas janelas e portas, o muro em ruínas e a vegetação que toma quase toda a estrutura. O local tem fama de mal assombrado.

Há depoimentos de quem morou por lá e diz que os “fatos sobrenaturais” ocorriam sempre à meia-noite, meio-dia e 18 horas.

O auxiliar de enfermagem Miguel Coelho que viveu lá por cerca de três meses há quatro anos atrás, tem até depoimento gravado na Rádio Rede Escola Portal da Serra do Centro de Educação, Arte e Cultura de Guaiúba.

“No primeiro mês foi tranquilo, mas a partir do segundo mês apareceram coisas estranhas como vozes de homem e mulher chamando o meu nome. Eu respondia e não aparecia ninguém”, conta. Católico, sem crer na volta de espíritos para a terra, Miguel disse que “viu um homem de seus 40 anos, por volta das seis horas da noite, passar pela casa e sumir”.

Segundo Miguel, o casarão tem uma estrutura muito forte, com paredes grossas e há túneis por dentro. “O primeiro a morar foi o seu Durval, depois foram parentes dele. Tem algo que expulsa as pessoas de lá. Dizem que os antepassados enterraram moedas de ouro e prata no local. Deve ser por causa disso que surgem essas coisas estranhas”.

Muitos moradores de Água Verde não têm coragem de entrar no casarão. Mas um dos proprietários, Waldir Cavalcante, não demonstra temor e planeja, após o término do inventário do imóvel, restaurar e ficar morando na casa.

Mesmo tendo fama de mal assombrado, a população quer que a família Cavalcante (atualmente formada pelos irmãos Waldir e Sílvia) conserve o casarão.

“Fizemos o mapa das expressões culturais de Guaiúba em 2006 com a participação de estudantes da rede pública e o casarão foi incluído”, informa o assessor de Comunicação da Prefeitura, Soriano Ribeiro da Silva.

Uma preocupação de moradores e pessoas que conhecem o casarão da Água Verde era de que o imóvel fosse destruído com o projeto de alargamento da CE-060 que será executado pelo governo estadual.

Isso porque a rodovia dá acesso ao município de Redenção onde vai funcionar, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Porém, segundo o Departamento de Edificações e Rodovias (DER), o casarão será poupado.

Ficará numa área de retorno. Seu Didi não sabia que o casarão seria preservado com a duplicação da rodovia estadual.

“Eu ainda não entrei em contato com o Departamento de Estradas (DER) porque estou esperando a conclusão do inventário que vai definir quem vai ficar com o casarão”.

Seu Waldir disse que será decidido entre ele e a irmã Sílvia Cavalcante. Os dois pretendem preservar e restaurar o casarão.

“Dependendo do resultado posso até voltar a ocupá-lo”, disse seu Didi.

Guaiúba fica na Região Metropolitana de Fortaleza. Tem uma população estimada em 24.091 habitantes, segundo o Censo 2010. Água Verde é um dos distritos. Os demais são: Itacima, Dourado, Baú, e São Jerônimo, além da sede.

 

Empresário Lusobrasileiro no Rio de Janeiro

Natural de Geraz do Minho – Portugal

Academia Duquecaxiense de Letras e Artes

Associado do Rotary Club Duque de Caxias – Distrito 4571

Membro da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

Membro da CPA/UNIGRANRIO

Diretor Proprietário da Distribuidora de Material Escolar Caxias Ltda

ajccunha40@gmail.com
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