Lendas e Mitos do Nordeste Brasileiro: O Pecado da Solha

Empresário Luso-brasileiro no Rio de Janeiro *

Natural de Geraz do Minho – Portugal

 

A solha é um peixe muito feio. É chata, torta, com a cara de banda e olhos vesgos.

Dizem, porém, que a solha não foi sempre assim. Houve um tempo em que era um peixe bonito, de corpo gracioso, com a cara e os olhos em seu lugar direito. Ficou deformada por sua própria culpa, pelo mau costume de fazer caretas e arremedar toda gente.

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Contam que, na época em que Jesus Cristo ainda estava no mundo, Nossa Senhora gostava de passear na praia. Num desses passeios, viu um peixe à beira d’água. Era a solha. Então, a Virgem Maria lhe perguntou docemente:

– Solha, faz o favor de me dizer se a maré está enchendo ou vazando?    Pois a malcriada da solha, em lugar de responder com delicadeza à mãe de Jesus, torceu a boca, revirou os olhos e arremedou a Nossa Senhora. Por isso, foi castigada. Ficou, para sempre, de cara torta e de olhos revirados.    Humberto de Campos, o grande poeta maranhense, assim conta em versos, a lenda de solha:

A solha (Humberto de Campos – 1886 – 1934)

Quando Nossa Senhora andava pelo mundo,

trazendo ao colo um deus, foi bater, certo dia,

à hora da preamar, a um rio muito fundo,

de barreira muito alva, e água muito sombria.

 

Era um risco passar. Mas a Virgem Maria,

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ante o equóreo lençol todo em peixes fecundo,

quis saber, vendo de perto uma solha vadia,

se o rio, na vazante, era feio e profundo.

 

E indagou: “Solha, dize, a maré enche ou vaza?”

Mas a solha, a zombar, por um hábito antigo,

torce a boca, e a arremeda, a pular na onda rasa.

 

E é daí, e em razão desse negro pecado,

que a solha começou, por severo castigo,

a rodar pelo mar, tendo a boca de um lado.

 

Nota biográfica de

Humberto de Campos

Colhida na enciclopédia  Wikipédia,

Humberto de Campos Veras (Miritiba25 de outubro de 1886 — Rio de Janeiro5 de dezembro de 1934) foi um jornalistapolítico e escritor brasileiro.

Biografia

De origem humilde, era filho de Joaquim Gomes de Farias Veras e Ana de Campos Veras. Nasceu no então município maranhense de Miritiba (hoje batizado com o seu nome). Com a morte do pai, aos seis anos, mudou-se para São Luís, onde começou a trabalhar no comércio local para auxiliar na subsistência da família. Aos dezessete muda-se, novamente, para o Pará, onde começa a exercer atividade jornalística na Folha do Norte e n’A Província do Pará.

Em 1910, quando contava 24 anos, publica seu primeiro livro de versos, intitulado “Poeira” (1.ª série), que lhe dá razoável reconhecimento. Dois anos depois, muda-se para o Rio de Janeiro, onde prossegue sua carreira jornalística e passa a ganhar destaque no meio literário da Capital Federal, angariando a amizade de escritores como Coelho NetoEmílio de Menezes e Olavo Bilac. Começa a trabalhar no jornal “O Imparcial”, ao lado de figuras ilustres como Rui BarbosaJosé VeríssimoVicente de Carvalho e João Ribeiro.[1] Torna-se cada vez mais conhecido em âmbito nacional por suas crônicas, publicadas em diversos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, inclusive sob o pseudônimo “Conselheiro XX”.

Quando menino, sua família tinha casa em Parnaíba, no Piauí. Lá, em 1896, ele plantou uma árvore hoje conhecida como o Cajueiro de Humberto de Campos[2]. Anos depois, o cajueiro foi mencionado em uma de suas obras: “Faço com as mãos uma pequena cova, enterro aí o projeto de árvore, cerco-o de pedaços de tijolos. Rego-o. Protejo-o”. Atualmente o cajueiro é um espaço memorial que tem placas com versos de Humberto de Campos e um monumento em bronze com a efígie do poeta e está protegido por lei municipal do patrimônio histórico e cultural[3].

Em 1919 ingressa na Academia Brasileira de Letras, sucedendo Emílio de Menezes na cadeira n.º 20. Um ano depois ingressa na política, elegendo-se deputado federal pelo seu Estado natal, tendo seus mandatos sucessivamente renovados até a eclosão da Revolução de 1930, quando é cassado. Após passar por um período de dificuldades financeiras, é nomeado, graças à admiração que lhe votavam figuras de destaque do Governo Provisório, Inspetor de Ensino no Rio de Janeiro e, posteriormente, diretor da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Em 1933, com a saúde já debilitada, Humberto de Campos publicou suas Memórias (1886-1900), na qual descreve suas lembranças dos tempos da infância e juventude. A obra obteve imediato sucesso de público e de crítica, sendo objeto de sucessivas edições nas décadas seguintes. Uma segunda parte da obra estava sendo escrita por Humberto de Campos quando de seu falecimento, vindo à lume postumamente sob o título de Memórias Inacabadas.

Após vários anos de enfermidade, que lhe provocou a perda quase total da visão e graves problemas no sistema urinário, Humberto de Campos faleceu no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1934, aos 48 anos, por uma síncope ocorrida durante uma cirurgia. Deixou viúva, D. Catarina Vergolina de Campos e três filhos, Henrique, Humberto (que depois tornou-se profissional de televisão) e Maria de Lourdes.




Tendo Humberto de Campos falecido no auge de sua popularidade, diversas coletâneas de crônicas, anedotas, contos e reminiscências de sua autoria foram publicados nos anos seguintes a sua morte, época em que também vieram a lume diversos livros supostamente escritos pelo espírito do escritor, por meio da psicografia do médium Chico Xavier. Os familiares de Humberto de Campos processaram judicialmente este último, alegando a ausência de pagamento de direitos autorais. A demanda, que provocou grande polêmica na época, foi julgada improcedente (conferir detalhes do processo aqui)

Em 1950, nova polêmica: o Diário Secreto mantido pelo autor em alguns períodos da década de 1910 e com assiduidade de 1928 até sua morte é divulgado pela revista O Cruzeiro, cujos editores o publicam em livro em 1954. A publicação causou escândalo à época de sua publicação em razão de diversos registros e impressões pessoais feitos por Humberto de Campos a respeito de pessoas de grande notoriedade nas letras, política e sociedade de sua época, incluindo Machado de AssisGetúlio VargasOlavo Bilac, e outros.

Sucessivas edições das Obras Completas de Humberto de Campos foram publicadas por diversas editoras (José Olympio, Mérito, W. M. Jackson, Opus) até 1983.

As constantes preocupações de ordem financeira, as quais o obrigavam a redigir diariamente crônicas, contos e artigos de crítica literária a fim de garantir sua subsistência, bem como os prolongados problemas de saúde que resultaram em uma morte prematura, impediram Humberto de Campos de se debruçar sobre projetos literários de maior envergadura, razão pela qual parcela substancial de sua bibliografia é constituída de coletâneas de seus escritos, os quais constituem útil instrumento para a análise da vida cotidiana e literária dos anos 1910, 1920 e 1930 no Brasil. A temporalidade que caracteriza essa parcela substancial de sua bibliografia parece ser a principal razão para o pouco interesse que atualmente o seu nome desperta entre os leitores e no meio acadêmico.

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Academia Duquecaxiense de Letras e Artes

Associado do Rotary Club Duque de Caxias – Distrito 4571

Membro da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

Membro da CPA/UNIGRANRIO

Diretor Proprietário da Distribuidora de Material Escolar Caxias Ltda

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