Dina Matos Ferreira
Professora Universitária e Consultora
Os portugueses somos platónicos, fadistas e poetas. Há um quê de contemplativo e quieto em cada português, esse olhar indefinido e vago que nos define na palavra “saudade”.
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Somos também, talvez por isso, o país dos brandos costumes, onde não há indignação que nos arranque do sofá, nem crítica tão severa que não passe de umas palavras à mesa do café ou nas redes sociais.
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Ser-se livre à portuguesa é poder estar numa esplanada sem que ninguém nos moleste e, se molestar, não é nada que não se resolva. É ter o suficiente para umas patuscadas ou tainadas com os amigos e bem bastam umas cervejas e uns tremoços para que seja memorável.
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Engolimos também facilmente a corrupção, o nepotismo, os favorecimentos pessoais, as “cunhas” e os compadrios. O mérito aplicamo-lo quando partimos para outras paragens e aí invocamos o espírito das gestas, rompendo novos trilhos como os navegadores. Mas não aqui, em solo lusitano. É como se a alma se entorpecesse.
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O aflitivo deste espírito à portuguesa é assistirmos impávidos ao nosso saque, como se estivesse escrito nas estrelas e fizesse parte, afinal, do triste fado.
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E nesse espírito vamos delegando responsabilidades e obrigações em forma de taxas, taxinhas e impostos mais ou menos encapotados, para que alguém tome conta de nós e dos nossos assuntos cada vez mais inexistentes.
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A liberdade real pede capacidade: de empreender, de conduzir a própria vida, de escolher entre várias possibilidades, de crescer à medida dos sonhos que se levam dentro, para si e para os seus. A liberdade real exige meios, senão não existe, é uma ilusão.
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Há hábitos muito saudáveis que poderíamos reproduzir, fomentando a nossa cidadania participativa e atenta: assim como importámos o Dia de S. Valentim (como não?), também poderíamos importar o Dia da Libertação dos Impostos, celebrado em tantos países. Esse dia celebra o fim da carga fiscal anual sobre o contribuinte, o que significa que, a partir daí, está a trabalhar para si, a sua família e as suas causas e não para a “coisa pública”.
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Só para termos uma noção, a pole position nos EUA coube, este ano de 2021, ao Alaska, que celebrou o seu “Tax Freedom Day” a 25 de março.
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Em Portugal, com a absurda carga fiscal de 34,8% (e, o que é pior, uma das maiores em percentagem do nosso baixíssimo PIB), veria o seu “Dia da Libertação dos Impostos” marcado para 8 de maio.
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Meus Amigos: até 8 de maio estamos a trabalhar exclusivamente para a chamada “coisa pública” (onde cabem todos os conhecidos buracos financeiros e casos de polícia), sem sabermos muito bem em que vai ser (ou foi) investido ou, talvez, apenas gasto.
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Bem dizia Winston Churchill com o seu proverbial sarcasmo: “A democracia é o pior regime à exceção de todos os outros”. Porque pelo menos nele podemos exercer a rotatividade. Assim tenhamos escolha.