Acabei de ver há minutos – e uma vez mais – o célebre filme ‘Papillon’ (assim conhecido por ter uma borboleta tatuada no corpo) em que nos é contada uma fascinante história verídica ocorrida aí por 1930.
Apesar de reclamar inocência da acusação de assassinato, o homem foi condenado a prisão perpétua e enviado para cumprir a sentença na costa da longínqua ilha da Guiana Francesa.
Nunca me cansarei de apreciar a forma como, pacientemente e após várias tentativas goradas, o prisioneiro, na mira de fugir daquele martírio, estudava as marés. Atirava uma garrafa à água e seguia-lhe o percurso até a perder de vista. Escolhia horas diferentes, dias diferentes que se repetiam sem que o enchesse de tédio. Tinha convicção e era naquilo que acreditava. Nunca viu o sonho realizado.
Hoje já ninguém atira garrafas ao mar mas, quem o faz por curiosidade ou brincadeira, introduz um papelinho com as ‘coordenadas’ do local onde vive, na esperança de que, mais mês menos mês, receba notícias por correio de alguma alma caridosa indicando-lhe até onde viajara e fora recolhido o vasilhame.
Até nisso as pessoas mudaram! Os tempos são outros: antes fazia-se isso para pedir socorro; enquanto outros preparavam fogueiras e há uns anos até fui surpreendido pela declaração de um dirigente desportivo em maus lençóis que procurava tranquilizar os inflamados sócios dizendo que com o seu treinador até se entendia por ‘sinais de fumo’, dispensando (digo eu) as conversas de balneário ou recados ‘plantados’ num qualquer jornal onde os pontapés na bola reinam.
Nos dias de hoje, com a era da internet e das novas tecnologias a ela associada, tudo isso nos faz rever o passado com humor, romantismo.
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O Facebook é a versão futurista da garrafa lançada a esses oceanos. E no sossego da noite, após horas de trabalho e pensamentos de incerteza quanto aos dias que nos aguardam, haja ou não acordos que se anunciam à 2ªfeira e desdizem à 3ªfeira, o pobre sobrevivente vai teclando o seu infortúnio, derrama o seu desencanto, na esperança de que um simples ‘post’ alguém o leia, compreenda, e com um ‘like’ lhe diga que não está só …
E o que me preocupa – mas não surpreende -, é que são ‘likes’ a mais!