Compre já a nova edição do livro MINHO CONNECTION

Lobos atacam em Vila Nova de Cerveira

No passado dia 4 de Setembro, na freguesia de Gondar, em Vila Nova de Cerveira aconteceu novamente o (in)esperado. Um ataque de lobo levou o único gado bovino a Paulo Jorge Sousa, natural da freguesia. Aparentemente, situações semelhantes são recorrentes nesta aldeia, e nas aldeias vizinhas, como Candemil e Mentrestido, e já ninguém se surpreende. O Minho Digital dirigiu-se ao local e esteve à conversa com os populares da freguesia, onde surge uma nova faceta da realidade. A revolta dá lugar ao conformismo e a gentes habituam-se a que nada seja feito.

Foi no café da aldeia, na D. Idalina, onde se recolheram as primeiras impressões. Após algumas questões sobre os recentes ataques dos lobos ao gado da aldeia, a dona do café confirmou a regularidade da situação. “Foram 2 ou 3 ovelhas… Ali ao vizinho de cima também lhe levaram duas. Em Mentrestido também já é costume e ali p’ós lados de Candemil. Até dizem que já a viram ali no alto do cume, uma loba com as crias. Será ela que anda aí p’ra lhes dar de comer…”.

A freguesia, embora se situe a apenas 10 Km de Vila Nova de Cerveira, já fica para o interior, e o núcleo urbano da aldeia encontra-se no fundo de um vale, sendo rodeada em toda a sua periferia por mato. Os campos utilizados para os pastos e cultivo encontram-se expostos e com bons acessos, muito próximos do mato que os circundam.

            

PUB

O mesmo se aplica ao campo do senhor Paulo Jorge Sousa, onde três ovelhas perderam a vida, enquanto outra foi levada. Segundo os vizinhos, o ataque terá ocorrido entre as 13h e as 16h, pois na hora do meio dia, ainda se viram os animais a pastar no terreno. Nada de novo. Ainda no ano passado lhe levou cinco/seis ovelhas. Apesar de tudo, não desiste e afirma que irá voltar a ter estes animais. D. Idalina, por sua vez, defende que esta prática vai caindo em desuso. “Não compensa estar a criar gado para depois se perder. É como o milho, já não se semeia por causa do porco bravo.” Ainda pelas 20h do mesmo dia, vários populares ouviram o uivo no animal, vindo dos lados de São João.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

PUB

Embora os ataques sejam recorrentes, nestas e outras aldeias, estas situações deveriam ser melhor acompanhadas, quer por parte das autarquias, Juntas e Câmara, quer pelas entidades competentes gestoras de áreas habitacionais da espécie Canis lupus signatus, como o ICNF e o CIBIO. Informar as pessoas, incentivando medidas de prevenção e métodos de proteção do gado são essenciais no controlo aos ataques. O PNPG também tem a sua quota parte de intervenção. Alegadamente, nenhuma destas entidades se mostrou interessada em, pelo menos, fazer um acompanhamento dos populares face à situação.

Deste modo, supondo que existe um ataque de lobo ao gado, como devem as pessoas proceder de modo a conseguir a indemnização?

PUB

– Os animais atacados têm de estar presentes num local e registados, com brinco e/ou chip. Este registo pode ser feito em Cooperativas Agrícolas ou na Direção Geral de Alimentação e Veterinária de Viana do Castelo.

– Chamar o SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente) da GNR de modo a verificar os ataques e o registo dos animais. Caso se encontra indisponíveis, contactar a GNR do concelho.

– Entrar em contacto com a SIRCA (Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração), para fazer o levantamento dos animais. Neste momento, esta entidade encontra-se inativa pois está em concurso público. Desse modo, a enterração fica a cargo do proprietário ou então pode usufruir de ajudas da autarquia para o efeito.

– Entrar em contacto com o PNPG (Parque Nacional Peneda-Gerês) para se acionar o subsídio a que tem direito. O reembolso corresponde ao valor aproximado da aquisição do animal no mercado.

PUB

Qualquer questão acerca das regras para identificação, registo e circulação dos animais das espécies bovina, ovina, caprina, suína e equídeos, bem como o regime jurídico dos centros de agrupamento, comerciantes e transportadores e as normas de funcionamento do sistema de recolha de cadáveres na exploração (SIRCA), pode consultar o Decreto-lei 142/2006 em https://dre.tretas.org/dre/200320/#anexos.

Caso os animais não se encontrarem de acordo com o decreto-lei, o proprietário pode vir a ser autuado.

Para conseguir estas informações, o Minho Digital teve de contactar pelo menos cinco entidades diferentes, que constantemente se afirmavam com “informação insuficiente”.

Com os incêndios florestais a situação piora. As áreas verdes reduzem-se a cinzas, obrigando os animais selvagens a refugiarem-se em zonas mais baixas, e a disponibilidade alimentar nos montes diminui, tornando o gado doméstico no alvo principal. São alguns os que dizem ver “Bambis” a cruzar a estrada nacional para a Mata do Camarido, ao amanhecer. Ou então, ver os lobos a descer monte para fugir ao fogo.

Depois da apresentação no novo projeto a ser aplicado no PNPG em 2017, para a prevenção de incêndios, seria agradável ver o financiamento de 3,5 milhões de euros melhor investidos, do que apenas na formação de mais 50 sapadores. Aguardam-se ainda novas metas deste projeto que justifiquem o investimento.

Quanto à população, existe um trabalho realizado por investigadores da CIBIO e do ICNF denominado por “Maneio do gado bovino em áreas de presença de lobo no noroeste de Portugal: problemas e soluções” que pode ser consultado e com algumas ajuda, aplicado.

 

O Minho Digital espera aqui ressalvar a necessidade de intervir junto das populações, quando confrontadas com situações que exigem, de certa forma, algum discernimento burocrático que nem todos se podem permitir. A notícia mantém-se imparcial quanto à questão Homem vs Lobo, pois o que se pretende é expor ambas as partas como elas são, na realidade. Ambas sofrem graves consequências devido a uma má gestão e organização, que teimam em reinar. Há quem queira contrariar, porque acredita que é possível uma realidade melhor. Basta deixar e confiar, pois quem assim pensa, pior, não faz.

PUB
  Partilhar este artigo
  Partilhar este artigo
PUB
📌 Mais de Cerveira
PUB

Junte-se a nós todas as semanas