Os primeiros pensamentos de que a Lua tem algo a ver com o comportamento das pessoas remontam a milhares de anos, mas a medicina moderna descartava essa hipótese – até agora! Estudos recentes, divulgados por uma reportagem da BBC, sugerem que pode haver alguma verdade nessas teorias da antiguidade.

Uma dessas pesquisas observou o comportamento de um engenheiro de 35 anos, paciente de uma clínica psiquiátrica. O psiquiatra David Avery conta que “ele gostava de resolver problemas” e começou a ficar perplexo quando percebeu que o seu humor oscilava violentamente de um extremo ao outro. O padrão de sono do homem era igualmente irregular, mudando de insônia quase total para 12 horas por noite.

Por ser um “solucionador de problemas”, o paciente mantinha registos meticulosos desses padrões, tentando dar sentido a tudo isso. Foi o ritmo das mudanças que intrigou Avery. Para ele, parecia muito que o humor e os padrões de sono do paciente estivessem acompanhando as fases crescente e minguante da Lua.

Avery, inicialmente, pensou que seu palpite fosse “loucura”. Mesmo que os ciclos de humor do homem estivessem em sincronia com a Lua, ele não tinha nenhum mecanismo para explicá-lo, nem quaisquer ideias sobre o que fazer a respeito. O paciente foi tratado com drogas e terapia de luz para estabilizar o seu humor e sono.

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Novo estudo

Doze anos depois, um renomado psiquiatra chamado Thomas Wehr publicou um artigo descrevendo 17 pacientes com transtorno bipolar de ciclagem rápida – uma forma da doença em que as pessoas alternam entre depressão e mania mais rapidamente do que o habitual. Assim como o paciente de Avery, os casos descritos demonstravam uma regularidade incomum nas mudanças de humor.

“O que me impressionou nesses ciclos foi que eles pareciam incrivelmente precisos, de uma forma que não se esperaria necessariamente de um processo biológico. Isso levou-me a pensar se havia algum tipo de influência externa que estava operando nesses ciclos – e por causa da crença histórica de que a Lua afeta o comportamento humano -, a coisa óbvia a considerar era se havia alguma influência lunar”, diz Wehr, professor emérito de psiquiatria do Instituto Nacional de Saúde Mental, em Bethesda, nos Estados Unidos.

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Wehr acompanhou as datas dos episódios de humor de seus pacientes por anos. “Como as pessoas diferem em como elas respondem a esses ciclos lunares, mesmo que você tenha medido juntos todos os dados que colectei, não tenho a certeza se encontraria alguma coisa. A única maneira de encontrar qualquer coisa é olhar para cada pessoa individualmente ao longo do tempo e, em seguida, os padrões surgem”, diz o pesquisador.

Quando ele fez isso, descobriu que seus pacientes se enquadravam numa das duas categorias: o humor de algumas pessoas parecia seguir um ciclo de 14,8 dias, outros um ciclo de 13,7 dias – embora alguns deles ocasionalmente alternassem entre esses ciclos.

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Como a Lua afecta a Terra

A Lua afecta a Terra de várias maneiras. O primeiro e mais óbvio é através da provisão do luar, com uma Lua cheia chegando a cada 29,5 dias, e uma Lua nova 14,8 dias depois disso. Depois, há a atração gravitacional da Lua, que cria as marés oceânicas que sobem e descem a cada 12,4 horas. A altura dessas marés também segue aproximadamente ciclos de duas semanas – o “ciclo da primavera” de 14,8 dias, que é impulsionado pela atração combinada da Lua e do Sol, e o “ciclo de declinação”, de 13,7 dias, que é impulsionado pela posição da Lua em relação à linha do Equador da Terra.

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São esses ciclos de aproximadamente duas semanas, que influencia nas marés, que os pacientes de Wehr parecem sincronizar-se. Não é que eles necessariamente mudem para depressão ou mania a cada 13,7 ou 14,8 dias, “é só que se essa mudança da depressão para a mania ocorre, isso não acontece em nenhum momento anterior, ela tende a ocorrer durante uma certa fase do processo, do ciclo de maré lunar”, explica Avery.