Caso entre vida e a morte dá mote ao romance do escritor melgacense
Dois anos depois de “Contos da Raia”, Luís Faria, professor, natural de Remoães (Melgaço), lança a sua segunda obra, mais reflexiva e que pretende estimular a discussão em torno de um tema que, pela mística que o envolve, tem gerado inúmeras questões.
Nesta obra agora lançada – pela Chado Editora – o autor romanceia em jeito de reflexão sobre “a relação entre o lado carnal, físico, e o que é espiritual”. “Apareceram alguns livros a questionar se o céu existe ou não existe, agora é os médiuns nas televisões, eu pensei: Deixa-me reflectir seriamente sobre isto. Vou escrever alguma coisa para pensar um bocado nisto”, confessa. E a reflexão do autor não se lança em premonições, não é horóscopo nem “catequético”, apresenta-se por isso num romance construído com consistência e cautelosamente verosímil, concebendo que é do universo fantástico que tratamos.
“É a história de um pai que já morreu e vê, na condição de espírito, que o filho teve um acidente e que não está morto, mas já está na casa mortuária para ser sepultado. O pai (espírito) vai para as imediações do hospital encontrar alguém que possa fazer algo para resolver isto, mas tem de ser especial para o contacto com aquilo que parece impossível, que é o contacto com o além”, revela Luís Faria.
A narrativa, ficcionada, coloca no entanto muito do autor, do seu sofrimento espiritual. É por isso o expurgar da sua experiência que torna a obra mais profunda e intensa nas suas melhores passagens. “Todos nós, quando perdemos alguém que nos é muito querido, de uma forma ou de outra, temos estas percepções de que a vemos, que a ouvimos e sonhamos com ela. Os psicólogos dizem que é por nos ter sido próxima, mas não é bem assim. Há contactos, há momentos em que sentimos algo diferente: É um perfume ou um aroma que não tínhamos em casa e que de repente aparece. E questionamo-nos: De onde veio isto?”.
Os fenómenos inexplicáveis povoam a mais recente obra do melgacense que faz da escrita a sua melhor ferramenta para contar, filosofar e lançar a reflexão a quem lê, e para quem uma história tem de ser “bem contextualizada” ao ritmo que a trama pede. E prende, por isso, naturalmente.