Prometem-nos progresso, ansiamos por ele, sabemos que este faz parte da vanguarda, do conhecimento do Mundo, e quanto mais progresso houver melhor será para a humanidade.
Mas de que progresso estamos a falar?
Daquele que tem por objectivo, único, o lucro, seja a que preço for?
Não teria sido melhor considerar que o dito progresso, desenfreado, só por si, traz consequências nefastas e irrecuperáveis?
O progresso podia ter sido acautelado e equilibrado, ao mesmo tempo, com medidas paralelas que promovessem a proteção e a dinamização dos recursos endógenos e, por essa via, a fixação de pessoas ás terras cada vez mais despovoadas. Ou será que só haverá coerência progressista e ambiental, quando o planeta bater no fundo do lamaçal?
Num período mais recente, introduziram no discurso: “um tal progresso sustentado”, sem que se saiba o que isso significa, ou produza qualquer efeito palpável.
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Recordo-sem saudade- dos tempos em que só se comia fruta quando era a época dela. Fora daí não a havia.
Nesse aspecto a Freguesia de Candemil era, por assim dizer, um Pomar de frutas variadas. Tinha, porém, variadíssimas qualidades de maçãs, da tarde,ou do Inverno, e o único tratamento que recebiam era aquele que o clima lhes dava.
Colhidas entre o fim de Outubro, princípio de Novembro, as maçãs, cujas qualidades mais conhecidas são as Joaquinas, as Rajadas ou as Maças de Candemil, eram vendidas a pessoas vindas dos Concelhos de Valença ou Caminha.
Tinham fama e proveito. Ainda hoje se fala delas.
Essas maçãs, colhidas com carinho, eram colocadas em tarimbas e duravam até Abril, Maio ou Junho. São qualidades vindas de geração em geração, adaptadas ao clima mais fresco e húmido.
Bebiam quando chovia e alimentavam-se do Sol quando o havia.
São árvores muito resistentes a pragas e que atingem até oito metros de altura e com uma copa impressionante, motivo pelo qual, uma só árvore, pode produzir toneladas de maças.
Porém o tal progresso foi avançando e esses férteis terrenos foram ficando ao abandono enquanto que, nas mercearias, começaram a vender maças reluzentes, que um amigo meu alcunha de “maçãs envernizadas”.
Ou seja: o mesmo progresso que, por assim dizer, roubou pessoas à lavoura, encafuando-as em fábricas onde trabalham como aves de aviário, em nome do dito progresso, permitiu-lhes ter poder de compra para abandonarem as suas árvores e comprarem as tais maças envernizadas.
PUBSe houvesse mercado para estas maçãs, podia funcionar como uma ajuda à economia doméstica, ou até ir mais longe. Mas, para isso, não há apoios.
Assim, dentro de caixas, todas certinhas e alinhadinhas e a brilhar à mão do comprador, que foi preterindo a carne do lombo para consumir patas de galinha.
“Pois, mas estas não têm bicho”, alegam os defensores, jovens já capturados pela modernidade e pelo marketing visual, e pelo facilitismo, desconhecendo a enorme carga de produtos químicos que estão em todo o processo nos vastos pomares.
Porém, a essas maçãs, falta-lhes o melhor que há na fruta: a autenticidade, o seu verdadeiro sabor, o odor que exala de uma maçã biológica, o seu perfume, a sua textura e, porque não, os bichos saudáveis.
(José Venade não segue o actual acordo ortográfico em vigor).
2 comentários
Texto muito bem elaborado.
Recordo-me perfeitamente desse tempo das maçãs.A minha falecida avó comprava as maçãs e espalhava numa barra(era a palavra utilizada) e tinha maçãs durante várias meses.
Devemos comer este fruto diariamente pois é fonte de várias vitaminas.
Pois é Susana Faria, assim era e para mim ainda continua a ser.
Porém, a realidade mudou e não foi para melhor. E há tantas razões, para que assim seja.
Muito obrigado por me ler.