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Maias e outras tradições e costumes do povo Barquense

Maio, mês que começa dando descanso aos trabalhadores e onde vemos enfeitadas com giesta amarela as portas e janelas das casas, como se de uma festa se tratasse! Na madrugada de 30 de abril para 1 de maio, as Maias aparecem nas nossas casas – e até nos nossos veículos – para relembrar a ancestral tradição.

 

A colocação das Maias nas portas e janelas de cada casa tem a sua origem numa passagem Bíblica, mas também na história contada pelos mais velhos – no Alto Minho – “a Sagrada Família no seu caminho para Egipto, iria passar a noite numa aldeia. Herodes ao saber disto, pediu que se soubesse qual seria a casa onde eles pernoitariam e que nessa casa colocassem um ramo de giesta na porta para que assim os soldados ao chegar, soubessem onde estava o Menino Jesus. Mas os soldados, ao chegarem à aldeia para cumprir a ordem de Herodes, depararam-se com todas as portas da aldeia enfeitadas com a giesta amarela e desta maneira, o Menino Jesus não foi encontrado”, conta a dona Maria, habitante da Freguesia de Entre Ambos-os-Rios, Ponte da Barca, quem nunca se esquece de enfeitar a sua casa neste dia.

Mas esta tradição não se cinge só ao facto religioso. Para muitas pessoas no Norte de Portugal, a colocação da giesta amarela nas portas e janelas das suas casas significa protegerem-se dos espíritos maus ou até, dar as boas vindas ao renascer da natureza com o desabrochar das flores e das Maias, que só florescem nesta altura do ano.

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A propósito desta tradição procurámos outras tantas que, com o passar do tempo, caíram em desuso, mas ainda perduram na memória daqueles que fizeram parte delas e relembram-nas – ainda hoje – com saudade. Os povos viviam a sua cultura de uma maneira vivaz e com orgulho. “Antigamente não era nada como hoje em dia. Cada festa era vivida com alegria. Tudo fazia sentido, hoje em dia tudo se tornou banal. No nosso tempo tudo era mais bonito”, afirma dona Maria.

Praticamente para cada ocasião: nascimento, batizado, compromisso, casamento, havia uma tradição. “No meu tempo quando um casal decidia casar tinha de deitar os banhos…e sabe o que era isso, menina? Era anunciar na Missa de domingo que fulano de tal iria casar com fulana de tal e essa informação era afixada num papel, nas portas da Igreja. Assim todo o povo ficava a saber do compromisso e futuro casamento”. Dona Maria relata que esta tradição de deitar os banhos. “Era muito importante. Era o compromisso que se assumia perante a aldeia toda. Naquele tempo namorar era uma coisa muito séria. E a partir do momento que se deitavam os banhos já era como se estivéssemos casadas, havia muito respeito”.

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Os namoros e os compromissos sucediam-se com muita naturalidade, mas também com muito decoro. “Eu tive muitos namorados – modéstia à parte – os rapazes vinham ter comigo de outras aldeias vizinhas. De Vila Chã, de São Miguel, de Touvedo, até de Lindoso! Mas não havia cá encostos. Namorávamos por baixo da soleira da porta da casa dos meus pais. Eu era a mais velhas dos meus irmãos por isso quando namorava, estava sempre debaixo de olho da minha mãe ou então, de algum dos meus irmãos mais novos”. O meio de comunicação mais utilizado para namorar naquele tempo eram as cartas. “Tive muitos namorados. Alguns deles iam para fora, ou então, trabalhavam em Lisboa ou no Porto, e mandavam-me cartas. Namorávamos assim. Eu cheguei a namorar com três ou quatro rapazes ao mesmo tempo. Mas era tudo muito inocente. Eu respondia às cartas que recebia e a minha mãe dizia: minha filha, coitados dos rapazes, respondes a todos, assim eles ficam iludidos…e eu respondia: não se preocupe minha mãe, que quando for para casar, falarei só a um”, recorda divertida.

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Os dias eram passados a trabalhar no campo, e no fim-de-semana, ao Domingo “íamos à Missa. E depois, fazia-se um bailarico na aldeia, ao pé da fonte. Era uma alegria. Todos conviviam com todos. Éramos todos unidos. Havia muita juventude, era rara a família que tivesse só dois filhos. E assim a juventude reunia-se à volta da fonte para dançar, cantar, namorar e desfrutar a vida”.

Como a dona Maria refere, antigamente era rara aquela família que não tivesse muitos filhos e conta que, até para escolher o padrinho/madrinha da criança havia uma tradição: “escolher o padrinho e a madrinha para os filhos era uma decisão muito importante. A tradição mandava que o recém-nascido se era menina, levasse o nome da madrinha, se fosse menino, o nome do padrinho, assim era a tradição”.

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Nas famílias numerosas por vezes os padrinhos, ou madrinhas, dos mais novos da casa eram os irmãos mais velhos. “Nas famílias muito grandes onde por exemplo, só existem filhos de género masculino – ou só género feminino – os padrinhos/ madrinhas seriam os irmãos (as) mais velhos. Era assim que a tradição mandava”.

Todas estas tradições, usos e costumes da nossa terra – apesar de terem caído no desuso – foram parte da história e constituíram a nossa cultura popular. Como diz Marcus Harvey “um povo sem o conhecimento da sua história, origem e cultura é como uma árvore sem raízes”.

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