Mar de Portugal
Ah, este mar do meu país natal
Que há nove séculos ouve Portugal
Nos marulhados ecos de uma gesta
E desses ecos lhes conhece a glória
Que se extasia de partilhar a história
E até ignora Eolo que o molesta.
Ah, este mar que me fez português
Que chorou com as lágrimas de Inês
E exultou liberto de grilhões
Que das conquistas soube do direito
E aos mártires e heróis lhes presta preito
Quando se lança à costa em vagalhões.
Ah, este mar enorme, ocidental
Que banha todo o nosso Portugal
Com respeito pelo povo que conhece
Que d’Isabel aprendeu a piedade
E sabe que é um velho sem idade
Amado ao sol da pátria que o merece!
A Portugal
Porto
o especial perfume de uma bela cidade
Qual punho afundado na rocha espargindo casario monte acima, esta é a primeira visão que tem do Porto quem o demanda vindo sul por qualquer das pontes que o ligam a Gaia. Lá em baixo, o Douro vigoroso e triunfante, corre para a Foz, que o cinge num apertado abraço antes de o deixar cumprir, finalmente, a sua missão, numa gloriosa união doce e salgada com o oceano.
Já nas ruas da invicta cidade, o forasteiro entontece-se com o afã das gentes que se movimentam a pé e motorizadas, cruzando, numa difícil fluidez, as artérias por onde corre o bulício de um povo laborioso e nobre.
Diz-se da grande urbe nortenha que ela é a capital do trabalho desta nação portuguesa espreguiçada ao sol e tendencialmente “a banhos”, pela força do seu clima e da sua vasta orla costeira beijada pelo sempre majestoso Atlântico. Na realidade, a grande concentração industrial
da região e a proverbial vitalidade das suas populações, parecem justificar-lhe o atributo.
Uma vez mais a visitei e uma vez mais me encantei com a simpatia e afabilidade de quem serve o público, a alegria, a palavra espotaneamente brejeira e o sorriso gaiato do povo, a dinâmica da iniciativa autárquica e privada. De novo me deliciei com o apuro da gastronomia, o requinte das unidades da restauração e da hotelaria e o bom gosto e adequado dimensionamento dos novos centros comerciais e hipermercados da cidade. Tudo ali parecia querer (teimosamente) contrariar, com brilhantes policromias natalícias, os tons cinza da crise que se arrasta no país, que vai deixando fundas rugas de preocupação às maiorias, cada vez mais despojadas, da outrora (justamente) classificada classe média, uma qualificação que hoje parece excessiva, pela míngua das suas poupanças.
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Vale a pena ir (ou voltar) ao Porto; pela sua espectacular e bem conservada monumentalidade, pela sua exuberante actividade cultural, pela beleza da sua marginal ribeirinha, pelo Douro que por ela serpeia e nos deslumbra, pelo convívio com a sua população, pela profusão dos seus eventos culturais, e por tudo o mais que atrás referi.
Dezembro de 2007
Vinho Novo
Dezembro é quase chegado
e com ele, o vinho novo
traz novos prazeres ao povo,
os do corpo, que os da alma
ficaram pelas encostas
onde os estios e a calma
a tons de oiro bordaram
as cepas que nas vindimas
os cestos glorificaram.
Prodígios de gestação
da terra voltada aos sois
e foi nesses arrebóis
que a terra fez doação
do seu ventre, o mais que tem,
com o carinho de uma mãe;
vinho do seu coração!
De Braga a Ponte do Lima
de Fózcoa a Valdevez
correm os tintos e os brancos
uns e outros dos mais francos
que este Portugal já fez.
Crescem na mesa os presuntos,
os enchidos defumados,
o bom queijo amanteigado…
E alapados os grelhados
na alvura das travessas,
não há quem lhes peça meças
regados com vinho e fado.
Casqueiros a fumegar,
As carnes de vinho e alho…
E aquecido ao borralho,
já tonto de paladares,
o povo corre às tasquinhas
p’ro vinho novo provar!