Editorial

MANUAL DE BOAS MANEIRAS EM DESUSO
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Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

Parece ser moda ninguém se apresentar nem apresentar quem o acompanha. Aquilo que nos ensinaram quando éramos crianças, que não se deve falar a estranhos,  teve contrato a termo certo e há muito que não está em vigor.

Mas reconheça-se que há alguns que fazem um esforço e julgam cumprir a mais elementar regra de boa educação apontando-nos a madama que trazem ao lado e proclamando “esta é a minha senhora”. Normalmente são aqueles que na ausência da “minha senhora” se referem a ela como “a minha esposa”.

Naturalmente que quem assim procede desconhece o ardil do plebeísmo em que está a cair, muito mais grave do que aquele que incorre quem quiser beijar uma amiga nas duas faces, porque se Jesus oferecia a outra face à bofetada, estas recusam o nosso segundo ósculo fraterno para parecerem – julgam elas – menos suburbanas. Nisto de saudações beijoqueiras sou adepto dos russos que continuam a dar quatro beijos, dos franceses que nunca desistiram dos três beijos e das nossas senhoras mais seniores ou do povo que são fiéis ao tradicional par de beijos, um em cada face.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Uma apresentação correcta não pode andar muito longe desta: ”João Silva, que é meu colega na empresa e a Julia que é a minha mulher”. É evidente que o ideal seria : “ Julia, conheces o João Silva que é meu colega na empresa?” Assim, ambos, Julia e João ficariam encantados e ninguém atropelava o bom gosto nem danificava as boas maneiras fossem de quem fossem.

Quem normalmente apresenta “a minha senhora” também nunca apresenta as pessoas com nome e apelido. “É a Vanessa e o Donald”. Mas nem a Vanessa nem o Donald em questão devem ser tão famosos que já ouviram falar de um e do outro a ponto de não necessitarem de sobrenome, a menos que se trate da Vanessa Redgrave e do Donald Trump, mas neste caso penso que ela não teria muito interesse em que lhe apresentassem o cavalheiro.

Diga-se em abono da verdade (verifico isto consultando os nomes das minhas alunas)  que as Vanessas agudizam o problema. Às Vanessas seguem-se as Tânias, as Carlas e as Sónias Cristinas, todas antes de uma lista mais completa de nomes em voga onde não poderiam deixar de figurar as Tâmaras, as Marisas, as Luanas e as Déboras.

Penso que a melhor maneira de castigar esta gente é deixar de lhe beijar a mão, o que não se aperceberão por este hábito estar em desuso. Hoje em dia só se beija as mãos aos padres e bispos. Mas não tenho dúvidas de que o desprezo social ensina mais do que um manual de boas maneiras.

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