Editorial

Manuel Rodrigues Freitas: Um Hino à Cidadania!
Manso Preto

Manso Preto

Poucos se lembram que durante o período conturbado pós 25 de Abril.

Manuel Freitas, juntamente com mais alguns vianenses, fundou em Viana do Castelo o PPD, agora PSD e foi o primeiro Presidente eleito da Comissão Política Distrital e dirigente nacional.

Presidente da Assembleia Municipal de Viana, eleito por unanimidade, possivelmente terá sido o único a nível nacional que até agora conseguiu tal feito, podendo eu testemunhar tal facto, pois pertenci a esse órgão autárquico de boa memória, sendo também António Cunha – um Homem visionário em termos de turismo e empreendedorismo –, sufragado como o primeiro Presidente da Câmara.

Num período de bastante efervescência política e à revelia do seu PPD a nível central, Manuel Freitas ousou escolher uma Mesa constituída por todos os partidos com assento na Assembleia Municipal: PPD (o presidente M.F.), PS (vice-presidente, Torres Gomes), PCP (secretário, de nome Vaz e funcionário das Finanças) e CDS (2º secretário, Jorge Cruz).

Julgo, por aquilo que tenho observado e apesar do período conturbado que vivíamos – com as posições extremadas e de grande fervor ideológico – que essas Assembleias foram eventualmente das mais fáceis de dirigir, sentindo-se um enorme respeito pessoal entre todos. As reuniões preparatórias eram normalmente feitas à mesa de um restaurante ou na casa de cada um.

Durante cerca de uma década, muitos dos membros desta primeira Assembleia Municipal reuniam-se anualmente num jantar em que eram lembrados, num misto de saudade mas também bonomia, os episódios passados nos plenários. Decorridos mais de 50 anos, ainda hoje recordo com simpatia, carinho e respeito, os entretanto falecidos Daniel Caeiro e Romeu de Sousa, autarcas comunistas (FEPU e depois CDU), com quem eu travei (então um jovem), contundentes argumentos que, de parte a parte, ‘acaloravam’ o debate político sem resvalar para a má criação! De realçar que Manuel Freitas, alguns anos depois, conseguiu juntar grande parte dos autarcas, nascidos nas primeiras eleições e de todos os partidos, com a presença do primeiro Governador Civil, a Capitão de Mar e Guerra, Paulo Teixeira.

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Para os que não se lembram, era muito, mas muito difícil ser-se do CDS ou PSD, pois eram partidos que a Esquerda conotava como reaccionários, saudosistas e empenhados no regresso ao Regime anterior.

Manuel Freias no PPD – tal como o saudoso socialista Oliveira e Silva, um distinto Democrata e pessoa com qualidades invulgares e por todos respeitado -, não tendo nascido em Viana do Castelo, aqui deu aulas, estabeleceu-se e criou raízes, sendo reconhecidamente uma personalidade que não pode ser ‘apagada’ ou menosprezada da História desta região.

Falar do ‘Dr. Freitas’ (basta isso para logo os vianenses ou mesmo os de fora associarem à pessoa!), é também recordar o cidadão exemplar muito, mas muito para além da política, que rejeitou mordomias, nomeações para cargos públicos renumerados de confiança política dos governos do seu partido de sempre.

A sua notoriedade está muito para além das dezenas de entrevistas ou reportagens televisivas nacionais e estrangeiras, como por exemplo ao ser convidado a colaborar com a Casa da Moeda numa edição especial, bem como a expor em Museus além fronteiras onde levou bem alto o nome de Viana e da ourivesaria vianense.

Sendo uma pessoa de vasta cultura, dedicou toda uma vida à sua grande paixão pela ourivesaria tradicional e regional, reconhecido como um ‘expert’, um coleccionador apaixonado de peças de incalculável valor artístico, marcantes no tempo, de valor incalculável, mas também possuidor de uma biblioteca sobre esta temática que doou a Viana na entidade sua representativa – Câmara Municipal.

A sua atitude mais generosa e de elevado sentido afectivo e acrescida estatura moral e cívica, deu-se quando fez a doação à autarquia a sua fabulosa e valiosíssima colecção de peças que permitia que esta criasse para esse feito o Museu do Ouro a ser visitado pelos vianenses, minhotos e povo em geral. E o que fez a Câmara Municipal? Mantém esse legado ‘escondido’  num cofre, longe da apreciação pública, ao contrário do que lhe prometeram…

Há vidas – ao contrário de algumas que por aí pululam numa vaidade esmensurada – que são verdadeiros Hinos à Cidadania e a deste vianense adoptivo merece um lugar de destaque, até como exemplo para as gerações vindouras,  que perdurará na memória de todos.

E a de Manuel Freitas é um ícone, mesmo depois de, há anos, ter fechado os olhos para sempre!

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