Editorial

Mar de Plástico
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Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

 

Aqui há tempos vi no NETFLIX uma série muito interessante chamada “Mar de Plástico”. Passava-se no Sueste de Espanha e a história decorria num gigantesco emaranhado de plástico onde centenas de imigrantes, agricultores espanhóis e trabalhadores magrebinos produziam uma rica indústria agro-alimentar. Claro que a série não era biológica nem agrícola… era sobre assassínios em série e o tráfico humano que ali se acobertava e constituía o prato forte da corrupção, da justificação dos gangs, da presença duma máfia sérvia e da actividade das ONGS ambientalistas que ali se movimentavam. Um belo thriller que se via com agrado.

Mas porque estou eu a falar-vos agora disto?

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Porque no outro dia atravessei parte do Alentejo de carro e verifiquei que no trajecto já eram imensas as estufas de plástico que encobrem parte da planície, montadas sobretudo por empresas espanholas que cada vez mandam mais nas nossas culturas. E aquilo que vi fez-me recordar a série da TV e ficar triste pelo que aqui vai acontecendo.

Então, porque vem isto a propósito?

Ora, porque acabei de saber que o nosso bem amado governo, antes de se entregar à finalização do negócio do lítio e de satisfazer os franceses com o aeródromo do Montijo, acaba de autorizar o aumento de 3600 para 4800 hectares de plantações em estufas, túneis elevados, túneis simples e estufins no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e na Costa Vicentina. O mar de plástico que ali já existe autorizado por estes nossos queridos governantes passa assim de 30% para 40%, ou seja: para quase 5 mil campos de futebol… Pelas contas feitas por técnicos independentes, a área ali coberta por plástico passa a ser a equivalente a metade do Concelho de Lisboa!

Claro que os ministérios do Ambiente e da Agricultura do nosso imenso governo irão explicar que isto se deve ao progresso e ao sucesso socialista. E obviamente procurarão disfarçar que esta agricultura é massiva em fertilizantes e pesticidas, destruidora da paisagem e incompatível com os objectivos dum parque natural, além de ser explorada em zona protegida.

O que nos vale é que estes nossos bem amados 70 ministros e secretários de Estado são todos climáticos e ambientalistas! Olhem se não fossem!

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