Editorial

Marcelo pirou

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Marcelo Rebelo de Sousa será recordado como o pior Presidente da República em democracia. Por várias razões. A mais recente por patetice.

É verdade que Marcelo começou bem o seu primeiro mandato ao repor um clima de paz entre os portugueses depois das políticas da Troika terem deixado pensionistas contra trabalhadores, funcionários públicos contra funcionários do privado ou quem pagava impostos contra quem recebia ajudas sociais. Este ambiente de “guerra civil” foi amaciado pelo afetuoso Marcelo em oposição ao seu antecessor, sisudo e distante, Cavaco Silva.

Depois disso, ao não abandonar o seu papel de comentador, Marcelo foi, pecado atrás de pecado, comentando tudo e mais alguma coisa, desde tática desportiva até assuntos problemáticos.  Assuntos que, dada a sua sensibilidade e importância, exigem reserva, única atitude que o mais alto magistrado da nação deve ter para os resolver e dignificar a “Instituição Presidência da República”.

A última sugestão de Marcelo, “pagar os custos” às ex-colónias por eventuais crimes praticados por Portugal colonial, na forma e no contexto em que foi proferida, é simplesmente patética. Trata-se de um assunto delicado que deve ser discutido em sede própria, de forma ponderada, por académicos ideologicamente isentos, como já o fazem a França, a Holanda e a Inglaterra. Estas ex-potências coloniais europeias, através de uma espécie de diplomacia cultural, equacionam devolver ou trocar, por exemplo, obras de arte com os países que colonizaram, tudo tendo por base aspetos essencialmente simbólicos ou de cooperação e não monetários.

Marcelo, diante de jornalistas estrangeiros, do nada, lançou a questão, que morreu à partida do ponto de vista do debate construtivo e saudável, e que pôs o país inteiro contra o presidente. Marcelo, encostado às cordas, no dia seguinte, ainda insistiu no assunto sem se dar conta do quão inoportuno, despropositado e delicado, este tema é para ser discutido na praça pública. Ou Marcelo pirou ou alguma coisa não está bem com Marcelo!

São muitos os portugueses que vieram das nossas ex-colónias, depois da Revolução de Abril, forçados pelas circunstâncias, que deixaram lá bens e toda uma vida de trabalho. Feridas que ainda não estão saradas e que o elementar bom senso, que não assiste a Marcelo, manda tratar com pinças.

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Importa também salientar que Portugal, comparativamente com outras potências coloniais europeias, não foi um sugador de recursos das suas colónias como fez a Bélgica com o então Congo Belga. O Estado português, talvez por Salazar achar que o nosso Portugal de além-mar seria nosso ad aeternum, investiu muito nas províncias ultramarinas. Nomeadamente, em Angola e Moçambique, contruiu escolas, hospitais, pontes, estradas e até para lá “exportou” as instituições da Santa Casa da Misericórdia sem esquecer a barragem de Cabora Bassa, a quarta maior albufeira de África. Aliás, havia quem defendesse a ideia de Luanda vir a ser a capital de Portugal, ao invés de Lisboa, como defendeu e referiu o general Spínola no seu livro “Portugal e o Futuro”, publicado em fevereiro de 1974.

Não há descolonizações perfeitas. As descolonizações tal como as colonizações (mais condenáveis) não se fizeram com régua e esquadro e no nosso caso em concreto, em África, estávamos em guerra. É óbvio que se cometeram imensos erros, quer para com os nativos, quer para com os portugueses, que fizeram parte desse conturbado período e contexto. Convém também referir que fomos exemplares no acolhimento dos milhares de portugueses que regressaram a Portugal das ex-colónias africanas com uma mão atrás e outra à frente.

Ou seja, é preciso analisar aquilo que hoje achamos condenável à luz da época em que os atos foram praticados. Caso contrário, teríamos de banir do currículo escolar todas as referências a alguns heróis mundiais das artes, da ciência ou da política, porque fizeram coisas que, nos dias de hoje, até são crime e, na época, eram práticas comuns. Ghandi dormiu com meninos e meninas menores, Einstein plagiou teorias científicas da sua esposa, Picasso era um poligâmico compulsivo e Toulouse-Lautrec viveu à custa do dinheiro das prostitutas do Moulin Rouge.

Aliás, a Europa, se seguisse o raciocínio de Marcelo, estaria condenada à falência ao ter de indemnizar os países africanos que “criou” com base num conhecimento muito limitado das regiões, traçando arbitrariamente fronteiras que estão na base de muitos conflitos atuais, dentro e entre esses países. Na época, os europeus praticamente só conheciam os rios e a costa, e nada sabiam do interior, das tribos e das relações sociais de então, que incluíam canibalismo e escravatura, escravatura que existiu também entre negros e não apenas de brancos sobre negros.

Portanto, Marcelo que, tanto quer fazer um ajuste de contas com o passado opressor de Portugal, com a escravatura praticada pelos portugueses em África e no Brasil, também é ele um escravo do seu “Eu-comentador” que em nada encaixa, à luz de hoje e para a grande maioria dos portugueses, com o papel de Presidente da República, que se quer lúcido e recatado!

 

 

2 comentários

  1. Também concordo. Acho que ele está mesmo algo desequilibrado com o que aconteceu com as gémeas.

  2. Os Homens que não “comem” do Tacho começam a acordar!
    E não me vou ficar por criticas “escondidas” vou falar de realidades” Pobres dos Sem Abrigo
    Quem disse que no final do mandato de 5 anos
    Não haveria Sem abrigo em Lisboa e em Todo o País?
    Façam “uma retro visão” das fantochadas aos na televisão, tirem do saco, e mostrem, vá não tenham vergonha e de preferência no início dos telejornais ! Com os “celebres” anúncios televisivos!
    Está no fim do “segundo” e não falta muito para acabar e em Lisboa tem nas principais ruas “um Monte de tendas “para pobres, migrantes, imigrantes, abandonados pelo poder” E o Sr. Presidente “ainda” manda “uns bicatos” sobre tudo incluindo pagar “aos que foram colonizados”!
    Senhor Presidente ! O Senhor é Presidente de Todos os Portugueses dentro e fora do País!
    Critica o “seu Ante- sessor” pois Eu penso que sabe mais Cavaco Silva a dormir que o Senhor Acordado!
    Vá a “correr” fazer mais “uma farra” ao banco alimentar, pois digo-lhe com franqueza., Pois sempre foi e será o meu lema, pobre mas limpo! E fique ciente que deveria ser o Governo que devia dar o Pão aquém não tem dinheiro para o comprar,! Não o povo!

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