Melgaço: Branda da Aveleira reafirma património com Museu da Transumância

“Quem nasce no monte volta pró monte, como o melro puxa à silvareira.

O monte é mais bonito porque fica mais perto do céu.

Aqui há silêncios, ar puro, contacto com a natureza, não há poluição… Aqui deixa-se correr o tempo, olha-se o gado e as flores lindas. Bebe-se água fresca e dorme-se uma soneca e assobia-se um pouco. É bom!

Não quero outra “bida” de maio aos fins de Outubro. Os brandeiros  quando lhes apetece, e há forças, fazem alguns labores com lugões, arranja-se a couçoeira, conserta-se o tarambelho ou arruma-se a bezerreira.”

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HOMENAGEM MERECIDA

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No primeiro sábado de Agosto comemorou-se na Branda da Aveleira o Dia do Brandeiro.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Realizou-se uma homenagem a todos aqueles que através do tempo secular, contribuíram para a comunidade agro-pastoril a 1120 metros de altitude, partindo da freguesia da Gave, concelho de Melgaço, proporcionando pastagens ao gado bovino, ovino e cavalar, de Maio a Setembro.

Viviam com as belezas naturais onde a água é cristalina e os ares leves.

Foram protagonistas de vivencias onde o convívio se conjugava com a solidariedade ativa.

A participação de antigos brandeiros, familiares e forasteiros foi superior aos anos anteriores.

Eram os sons da concertina e as castanholas que animavam os numerosos participantes, não faltando quem bailasse “as modas antigas”.

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CORTEJO ETNOGRÁFICO

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Do programa destacamos o cortejo etnográfico, verdadeiro tratado de tradições.

Aqui e acolá os avos explicavam aos netos, cobertos com chapéus de palha, o que eram as vivencias da paisagem cultural, onde se comiam as “batatas solteiras e o caldo na soleira da cardenha”.

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E as estórias iam sendo contadas com grande emoção.

E ouvimos a poesia do antigo brandeiro José Maria Rodrigues: “Da Peneda até ao Mouro/ Tudo é teu ó minha terra / Tens a frescura do rio / E o verde escuro da terra.”

E ainda referente às cardenhas: “Estas paredes erguidas / Pelas mãos dos nossos avós, / São muitas vidas sentidas / Que falam dentro de nós”.

A geógrafa Andreia Amorim Pereira concretizou uma comunicação a que deu o titulo: “Branda de Aveleira – Da transumância às novas itinerâncias do conhecimento e do turismo”, dando consistência ao futuro “Eco-Museu da Transumância”.

A revitalização do “forno da telha” e outros testemunhos culturais do espaço da Branda deram lugar aos primeiros sinais da concretização do projeto “Eco-Museu da Transumância”.

E ouvimos: “É por aqui! Respeitamos a tradição dos nossos antepassados. Queremos a continuidade da vida cultural dos lugares de memória e sentir a alma grande dos lugares.”

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PENSADOR LEONARDO BOFF

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Na vídeo conferência realizado no ano 2021, o filósofo, teólogo e ecologista Leonardo Boff propôs que devemos seguir com eficácia os conceitos do “cuidar e da fraternidade para caminhar com esperança no futuro das sociedades humanas”.

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TEXTO MARCANTE

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Celebre no âmbito ecológico ficou a Carta do chefe Seattle, escrita em 1854 e endereçado ao então presidente americano Franklin Pierce como resposta à proposta de compra de uma grande extensão de terra índia, feita pelo grande Chefe branco de Washington.

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… Por fim, talvez sejamos irmãos…

… Cada parcela desta terra é sagrada para o meu povo…

… Somos parte da terra e do mesmo modo ela é parte de nós próprios. As flores perfumadas são nossas irmãs, o veado, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos; as rochas escarpadas, os húmidos prados, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos pertencemos á mesma família…

… A água cristalina que corre nos nossos rios e ribeiros não é somente água; representa também o sangue dos nossos antepassados…

… Que seria dos homens sem os animais? Se todos fossem exterminados, o homem também morreria de uma grande solidão espiritual. Porque o que suceder aos animais, também sucederá ao homem. Tudo está ligado.

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Devem ensinar aos vossos filhos que o solo que pisam são as cinzas dos nossos avós. Ensinem aos vossos filhos que a terra está enriquecida com as vidas dos nossos semelhantes, para que saibam respeita-la. Ensinem aos vossos filhos aquilo que nós temos ensinado aos nossos, que a terra é nossa Mãe.

Tudo o que acontecer à terra acontecerá aos filhos da terra.

 

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DECLARAÇÃO PATRIMONIAL DA BRANDA DA AVELEIRA

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Propomos para o espaço geo-cultural da Branda da Aveleira:

1- Que a mesma seja classificada como paisagem protegida;

2- Que se proceda a uma florestação equilibrada com espécies autóctones e protegidas, como o carvalho, o vidoeiro, o castanheiro, o azevinho e outras;

3- A criação de um eco-museu em que as cardenhas ocupem um lugar de destaque;

4- Aproveitar a Branda para o turismo serrano e cultural, mas moderado;

5- Que se promova todos os anos o Dia do Brandeiro, aproveitando para o convívio e contributo valioso para a resolução dos problemas que os preocupam e para a preservação e promoção destes espaços;

6- Fomentar a educação patrimonial para “olhar o futuro do passado”.

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Acrescentamos à Declaração de 1996:

7- De acordo com a Carta da Terra (2000) “transmitiremos às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem, a longo prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológica da Terra;

8- Perspectivamos “adoptar em todos os níveis, planos e regulamentações ao desenvolvimento sustentável que façam com que a conservação e a reabilitação ambiental sejam parte integral de todas as iniciativas do desenvolvimento;

9- Sugerimos o objectivo do Ano Internacional das Montanhas (2002) que preconiza “incrementar a consciência e o conhecimento dos ecossistemas de montanha, suas dinâmicas, seu funcionamento e sua importância decisiva em proporcionar alguns bens e serviços estratégicos para bem-estar dos habitantes das terras altas e das terras baixas, tanto no contexto urbano como rural, particularmente o fornecimento de água e segurança alimentar”;

10- Conforme doutrina expressa na Encíclica “Laudato Si” (Sobre o cuidado da casa comum) (2015), do Papa Francisco: “integraremos a história, a cultura e a arquitectura de um lugar, salvaguardando a sua identidade original”.

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Esta Declaração Patrimonial do ano 2016 vai ser assinada pelas autoridades presentes, pelos representantes de instituições e por todos os participantes no festivo Dia do Brandeiro.

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