Mente e alma, o diálogo impossível

Vivemos numa cultura masoquista; isto é: será que precisamos mesmo de sofrer para nos sentirmos preenchidos e preparados para prosseguir vivendo? 

Esta auto-inquirição justifica-se porque é comum ouvirmos as pessoas dizerem frases como esta: “o sofrimento é-nos necessário”, “o sofrimento faz-nos acordar para a vida”.

No fundo, as pessoas não conseguem sentir a alegria em toda a sua plenitude, a alegria de ser quem são porque têm dificuldade em sentir o lado positivo da vida. Sentem-se presas a um padrão que parece repetir-se na história, muitas vezes estão focadas, ou melhor; quase fascinadas por sintomas como a obsessão ou a ansiedade.

Na mitologia grega, o sábio Quíron, é representado por um ser parte cavalo – mas um centauro de linhagem – e parte humano. Segundo a lenda, o centauro Quiron exerceu a arte de curar a “psique” e de ensinar essas técnicas numa caverna.

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Daí, que, à semelhança de Quiron os modernos psicoterapeutas usem a palavra “Psicoterapia”. Esta palavra é composta por dois termos gregos: psique (alma) e terapia (tratar).

“Psicoterapia” significa, portanto, “tratar a alma”, considerando que a Psique não é a Mente, que é definida como o pensamento (e comportamento) consciente do individuo.

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Pensar a alma como o sopro de vida em nós, que é imensurávelmente profunda e à qual se atribui uma origem divina.

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Às vezes, é como se fosse o prenúncio de uma primavera, ou a fonte da existência, o que nos faz sentir vivos e nos dá algo como uma direcção e identidade. Até certo ponto, é autónoma, tendo seus próprios objectivos, desejos e intenções.

Numa análise mais profunda, encontramos temas e padrões humanos básicos, o que Platão, além de outros, chamaram “arquétipos.”

A necessidade de amor, o desejo de criar, o alívio do conforto do lar, a exaltante expectativa de uma viagem, essas não são as características de uma pessoa particular. Elas são, no mínimo, formas pelas quais todas as pessoas podem sentir  em si o palpitar da vida. E quando esses padrões de arquétipos se manifestam na vida de uma pessoa, geralmente exercem uma significativa força e fascínio.

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Uma pessoa está mais feliz por estar apaixonada e não pensa noutra coisa. Mas simultaneamente tem mais receio de ficar doente e pensa repetidamente no medo da morte. Essas emoções são-nos comuns tal com os pensamentos que lhe estão associados. Tal como quando alguém vislumbra uma carreira profissional e persegue esse objectivo com paixão…

A alma é-nos íntima, plena de vida e energia, e parece querer a todo o tempo reforçar-se com mais vida e vitalidade, mas parece ser impensável que a mente estabeleça diálogo com ela.

 

O diálogo impossível

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Quando pensamos cuidar da nossa alma, podemos tentar sentir o que ela mais precisa e deseja e ambiciona, e daí que talvez consigamos descobrir convergências com os nossos próprios e conscientes desejos. Mas mesmo sem recorrer a interpretações de base teológica, reconheçamos que esse outro “ser” que coexiste em nós, a alma, é mais vasto que aquilo que nossas limitadas mentes podem explicar.

A alma é portanto um ser com vontade própria, um ser misterioso, e pode por vezes pode constituir-se num adversário real da mente consciente. Também por isso, é mister de cada individuo tentar conhecer a sua própria alma de molde a “cooperar” com ela, e entender que a felicidade e paz no coração dependem de uma resposta positiva e criativa à alma. E assim, a psicoterapia poderá ajudar-nos a viver de uma maneira convergente com esse outro “ser” que nos habita, e os seus propósitos.

 

Conclusão

A alma oferece um sentido profundo e poderoso de identidade, que contraria qualquer tendência que leve à compreensão de valores limitados à família ou à cultura. «Ela deverá esperar que cada um de nós nos tornemos indivíduos com escolhas próprias, não forçosamente identificadas com as estruturas que nos cercam e os padrões que nos limitam. Essa percepção é tão forte que a imaginamos no cenário do próprio renascimento: nascemos integrados numa vida e cultura biológicas e, então, temos que nascer novamente em nossa própria individualidade e exclusividade».

Segundo Sócrates, todos temos de ser auxiliados no nascimento da alma para a vida, o que implica na chegada a uma única pessoa; à união da mente com a alma.

O filósofo escreveu: “Minha preocupação não é com o corpo, mas com a alma que está no fruto do nascimento”.

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2 comentários

  1. BOM DIA EUGÉNIO, li com atenção o seu texto, muito bem escrito, e muito bem explicado o seu ponto de vista, mas não posso deixar nenhum comentário!
    BEIJOS, meu amigo.
    UM FELIZ SÁBADO!
    27/05/2023

  2. BOM DIA EUGÉNIO, li com atenção o seu texto, muito bem escrito, e muito bem explicado o seu ponto de vista!
    BEIJOS, meu amigo.
    UM FELIZ SÁBADO!
    27/05/2023

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