Editorial

NINGUÉM É A VOZ DOS POBRES
Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

Esta é a minha crónica número 50 para o Minho Digital. Todas as semanas sem falhar. Mais meia dúzia e cumpro um ano a dizer coisas para os meus amigos do Alto Minho e não só. E não vou festejar esta crónica número 50, antes pelo contrário, eis-me aqui falando de impostos que muitos prefeririam que eu não lhos lembrasse por constituírem algo muito caro aos portugueses. Literalmente…

Devo confessar que não é pagar impostos que me penaliza. O que me custa é ver onde eles vão parar, como são desbaratados e como tanta felicidade que podiam ajudar a construir é tão impunemente desperdiçada.

O governo do Sócrates deixou-nos com o tutano à mostra e o anterior a este apertou-nos por todos os lados para alegria da troika e empenho dos ministros Gaspar e Maria Luís Albuquerque, que bem singraram na vida, quer olhando-nos do FMI, quer  trabalhando  em parte time e parte certa numa financeira bem agradecida.

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Agora, vemos a receita aumentar graças aos impostos indirectos, que os directos António Costa prometeu baixar e pelo menos nisso está a cumprir. O problema é que os impostos indirectos são aqueles que os pobres pagam porque os directos são estipulados ao nível dos rendimentos. Embora o nosso imposto possa ser injusto, ele está focado no que a gente ganha, enquanto nós todos pagamos o indirecto sempre que compramos qualquer coisa.

Os ricos sempre souberam fugir dos impostos directos e os pobres pagavam-nos por não conseguirem fugir. Mas os impostos indirectos são ainda mais injustos. Esta solução é contra a justiça social porque são os impostos que somos levados a pagar sem darmos por isso.

Mas a esquerda não se queixa disso. Ela está cada vez mais centrada nas grandes multinacionais, mas também agarrada pelos sindicatos e pela função pública e pensionistas porque estes são os seus eleitores que lhe importa tratar bem para as eleições seguintes. Em Portugal os pobres e os imigrantes não têm voz, os chamados partidos de esquerda não os deixam falar e a Igreja anda distraída com outras coisas.

Portugal continua a ser o País mais desigual da Europa e também ninguém fala nisso. A história do salário mínimo é uma falácia. Ninguém que trabalhe no Estado recebe abaixo do salário mínimo. Logo, o aumento deste pouco ou nada custa ao Estado. Quem tem de subir os salários mínimos são as empresas. Verdade que muitas destas pagam miseravelmente, mas também muitas micro e pequenas empresas não aguentam esse aumento. E se estas tiverem de fechar as portas atiram com mais gente para o desemprego.

Ao se dizer que se deseja justiça e que se é a favor dos mais pobres pode estar-se a agravar ainda mais a situação dos mais necessitados. Muito cuidado com isso e não julguem – políticos e sindicatos – que o povo não percebe o que se passa. Topam-vos a milhas.

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