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“A nossa única opção foi o aborto”, relatos de uma gravidez dolorosa em Ponte da Barca

Rita e Pedro são um casal jovem que desejavam muito ser pais e planearam tudo para o ser. Mas nem sempre os nossos planos estão em sintonia com os planos da mãe natureza e aquilo que este casal viveu foi – acima de tudo – uma prova de força e heroísmo!

Há mais de um ano e meio que o casal, natural de Ponte da Barca, viveu uma das situações mais difíceis que já teve de enfrentar.

O teste de gravidez deu positivo, e a alegria invadiu-os. Era uma gravidez planeada e muito desejada. Assistiram à primeira ecografia e tudo parecia correr de feição. O tempo foi passando, a gravidez avançava sem grandes percalços e a alegria invadia dia-a-dia a vida de Rita e Pedro. Até que, numa segunda ecografia, o cenário mudou completamente, receberam uma notícia de que não estavam à espera: “Aquela ecografia revelava que a nossa filha não tinha mãos. Tinha só umas pequenas saliências. Foi um choque, ninguém está à espera de uma notícia destas. Mas nós estávamos dispostos a continuar. Era a nossa filha, e se bem tínhamos a certeza de que vinha sem mãos com uma boa educação e até com próteses poderia ser uma criança feliz. E por isso, decidimos avançar”, relata emocionada Rita.

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A decisão que o casal tomou de continuar com a gravidez não foi compreendida. Como Rita e Pedro recordam “houve pessoas que não perceberam a nossa opção. Muitos não percebiam o por quê de nós avançarmos com a gravidez quando sabíamos que a nossa filha nasceria sem mãos. Nós tínhamos noção que não seria uma tarefa fácil, mas já tínhamos aceite a nossa filha. Ninguém merece morrer só pelo facto de não ter mãos”.

Mas este fator que acabaram de descobrir não seria – infelizmente – a única dificuldade que os pais teriam de enfrentar. “Outro exame que fizeram à nossa bebé revelava que a translucência da nuca – indicador médico utilizado para tentar verificar se a criança pode vir a ter algum grau de deficiência/doença -, também estava alterado. Já não era só o facto de a bebé vir sem mãos. Aquele estudo já revelava mais qualquer coisa por isso, depois desses resultados, começaram os testes e as análises para tentar perceber o que realmente se passava com a nossa filha”, explica Pedro.

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Naquela altura a vida da Rita e do Pedro girava em torno dos exames e as análises que iam surgindo. “Houve muitos possíveis cenários de doença. A translucência de nuca pode estar associada, por exemplo, à Trissomia”, mas nenhum dos estudos feitos concluía aquilo que se estava a passar. Para os jovens pais a situação era desgastante. Era viver sempre à espera de saber resultados; à espera que houvesse um sinal de que tudo estaria bem e que poderiam seguir – apesar dos pesares!

Depois de algumas semanas a fazerem análises “determinaram que a menina também estava por baixo do percentil normal para um bebé daquela idade gestacional. Não estava a desenvolver de forma correta e todos estes indicadores foram fazendo sentido na cabeça da nossa médica a qual – ainda sem qualquer tipo de confirmação – já tinha algumas suspeitas daquilo que se passava”, aclara Pedro.

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Análises ao sangue, amniocenteses, exames genéticos, a realidade, e o dia-a-dia do casal, tinham-se transformado numa espera constante, num dissabor. Eles amavam a sua filha, mas precisavam perceber aquilo que estava a acontecer e “depois de muitos estudos, e de explicarmos à nossa médica a posição que a nossa filha tinha sempre dentro da barriga – que era com os braços sempre encolhidos – esta confirmou aquilo que as análises genéticas também indicavam: a nossa filha tinha o Síndrome de Cornelia de Lange”.

Quando Rita e Pedro foram informados do descobrimento desta doença não perceberam aquilo que imediatamente iriam ter de enfrentar, uma das situações mais difíceis pelas quais qualquer casal, que deseja muito serem pais, pode passar.  “Quando tivemos a confirmação de que se tratava do Síndrome de Cornelia de Lange não sabíamos o que significava. Hoje em dia – infelizmente – quase somos peritos no assunto. Esta doença é considerada uma doença rara. No mundo existem muitos poucos casos. Porque não é uma doença hereditária, mas sim um erro num gene específico, no momento da procriação”, explica Pedro.

A síndrome que foi descoberta à filha do jovem casal, ainda no útero, foi uma raridade. Normalmente esta doença não é detetada no útero, provocando – por vezes – morte fetal, ou caso contrário só se obtém o diagnóstico quando o bebé ainda é um recém-nascido. A história de Rita e Pedro, é caso único – pelo menos em Portugal – ao descobrirem a doença ainda durante a gestão. Quando souberam da situação a gravidez já contava com 30 semanas. A equipa médica que os seguia explicou qual seria o caminho a seguir. O único caminho “foi ali quando nos explicaram o que é aquela doença. Quando soubemos que a nossa filha teria uma esperança máxima de vida de 16 anos, mas que iria ‘viver’ ligada às máquinas para conseguir respirar. Quando nos disseram que seria só um ser vivo, mas que jamais iria poder andar ou comunicar. Explicaram-nos, ainda, que a nossa filha estaria sempre em estado vegetativo, foi quando sentimos a gravidade da situação… e ouvimos aquilo que nenhum pai quer ouvir, a única opção que tínhamos – e que nos deram – foi o aborto. A nossa filha não era um bebé viável”, recordam cor ar abatido.

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Assim, Rita e Pedro, ficaram cientes da situação e tiveram de enfrentaram a dor de perder a filha. “A nossa filha não iria ter qualidade de vida. Ela não ia viver. Foi uma dor muito grande passar pelo processo de aborto, era a nossa filha, mas o sofrimento que ela iria passar não seria justo”.

Ter de enfrentar um aborto é uma situação demais agressiva. Todas aquelas mulheres que são mães conseguem imaginar a angústia – e a dor – que significa perder o mais valioso que se tem, um filho. “Eu agradeço à equipa médica do hospital de Viana. Em todos os momentos foram fantásticos comigo. É uma situação de fragilidade e de muita dor. No meu caso, só foi a dor psicológica. A dor de sentir como – pouco a pouco – a minha filha desfalecia. A dor de saber que não iria para casa com ela. É uma dor muito grande e só se ultrapassa com o amor e o apoio do companheiro, a família e os amigos”, comenta Rita, com lágrimas nos olhos.

Situações como esta pela qual passaram Rita e Pedro não são isoladas. Diariamente, em toda a parte do mundo, haverá uma mãe a chorar a perda do seu filho, pelas mais variadas razões. Mas quando assistimos a uma história como a deste casal, os quais abriram o seu coração para relatar a sua história de vida, a realidade mais dura que lhes tocou viver abre-se imediatamente uma luz de esperança. Ver a Rita e o Pedro, relatar tão duro episódio, acompanhados pela mais recente integrante da família, a Camila – com dois meses de idade – que dorme placidamente nos braços da sua mãe, enquanto ouve a voz que a embalou durante 9 meses, faz-nos acreditar no dia de amanhã. Faz-nos acreditar que – sem dúvida alguma – depois de uma grande tormenta virá sempre a calma.

“Quando soube que estava grávida novamente senti medo. O Pedro ficou muito feliz, mas eu chorei muito, o medo tomou conta de mim, não queria passar outra vez pela mesma situação. Mas o medo pouco a pouco desapareceu e tudo correu muito bem. A nossa filha Camila é uma bebé saudável. É aquilo que de melhor temos”.

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Em homenagem a todas aquelas mães que passaram pela penosa experiência de perder os seus filhos, seja em que situação for…

“A maternidade é uma rosa que também tem espinhos, que nos fazem ser mães mais fortes”

Amanda Ferreira da Luz

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