Joaquim Letria
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Os espanhóis têm o viño de Verano que é uma espécie de água pé às três pancadas destinada a ser bebido sem exigências e a acompanhar comida insípida e incolor desta estranha época primavera-verão.
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Com a proximidade do estio e seus abençoados calores, os media abrandam nos escândalos e não resistem a dedicar-se aos conselhos dietéticos das suas e seus leitores, ouvintes e espectadores.
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Antes de mais, vêm os avisos nutricionistas, geralmente acompanhados pelas moradas de alguns ginásios com PTs (treinadores personalizados) frequentadores das páginas da Imprensa cor de rosa por saírem com esta e com aquele.
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Mil e uma maneiras agradáveis de perder quilos, adelgaçar a cintura, estreitar as ancas, derreter as nádegas. A seguir vem a ameaça gritada do cancro de pele, ordens para nos untarmos com todas as loções e cremes protectores, ungindo-nos religiosamente para não sermos sacrificados aos malefícios da diferença real da hora solar nem sermos engolidos pelo buraco do ozono.
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Quero eu dizer com estas divagações que de meados da Primavera até ao fim do Verão, os media entendem que o corpo humano desnudado e na sua melhor forma de apresentação, é um factor muito positivo para as respectivas vendas e audiências. Ou seja, as direcções e administrações dos media sabem melhor do que ninguém que os seus consumidores gostam de ver corpos bonitos e, de preferência, desnudados.
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O fenómeno não é de hoje. Nem esta preferência deve ser condenada. O pincel florentino de Cosimo Tori, o “Bronzino” (1503-1572) mostrou-nos o encontro entre Eros e Afrodite dum modo único, inesquecível e irrepetível. A comunicação de Tori é capaz de ser mais lenta do que os pixels de agora. Mas é mais profunda e eficaz.
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Os corpos é que são definitivamente diferentes. A carne de hoje afirma a sua prioridade com o despudor da decadência de quem não viveu o apogeu, descuidada da harmonia e desproporcionalidade que domina o exibicionismo sexual do pintor toscano.
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Importantes segmentos da sociedade afluente gostam de se comportar desta maneira – exibindo o corpo e babando suas alegadas proezas e conquistas sexuais. É interessante verificar como através dos tempos aqueles que dominam os outros procuram que a coisa pública se passe cada vez mais em privado, enquanto os simplesmente notáveis adoram tornar públicas as suas coisas privadas.