Editorial

O ADN DAS NAÇÕES
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Dina Ferreira

Vivemos tão focados no curto prazo que nos esquecemos de fazer leituras transversais da nossa história, o que nos priva de uma certa sabedoria, tão importante para relativizarmos o momento presente ou, sobretudo, para não o estranharmos.

A centralização e o paternalismo fazem parte do ADN português desde sempre, sendo que as poucas exceções vêm apenas confirmar a regra.

Refira-se o exemplo de, na Idade Média, não termos assistido ao feudalismo (que dava, noutras geografias, amplos poderes aos senhores e foi enfraquecendo as casas reais), mas antes ao senhorialismo, pois quase sempre registámos uma forte centralização do poder real.

Do mesmo modo, nas gestas quinhentistas, não foram os mercadores que se aventuraram mar adentro e por sua conta. Não, senhor. A magnífica frota lusitana partia a expensas da coroa, que arriscava, mas não sem retorno. Risco não é connosco, o povo, como também não é a iniciativa que o risco pressupõe, ou a responsabilidade pelos logros (ou mesmo pelos louros).

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Mas não vamos muito longe, porque isso começa por casa. Os pais portugueses são aqueles que menos deixam os seus filhos arriscar e os filhos portugueses são dos últimos a sair da casa (depois dos 30), onde aliás são estimulados a fazer bem pouco.

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De autonomia e responsabilidade nada se ensina desde o berço e até tarde, gostando os pais portugueses de passar o exemplo de funcionários exemplares, de horários exemplares, de rotinas exemplares e para a vida.

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Se tivermos emprego certo, com salários pagos a 14 meses (temos a noção que são raros os países em que os empregadores pagam 14 vezes ao ano?) e se nem tivermos de nos maçar tratando dos descontos, tanto melhor! Quanto menor a maçada do processo, menos queremos saber o que ele significa, mesmo que seja um roubo infame.

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Quando há uns anos se tentou dar autonomia às escolas públicas gerou-se um enorme bruaá. As escolas não quiseram. Autonomia? Autonomia quer dizer responsabilidade, quer dizer avaliação, quer dizer consequências. Nem pensar.

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E assim vamos reproduzindo modelos do passado em que “tudo se há de resolver” ou, melhor dito, em que “alguém há de resolver” e “no fim vai dar tudo certo”.

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Mas não, não tem dado tudo certo. Desde os abusos de poder porque não há quem o controle (ou há, mas os mecanismos estão enviesados) a esta estatização insidiosa que toma conta da nós e nos persegue sufocando-nos das tais “taxas e taxinhas”, porque obviamente que quem gere a nossa vida se faz pagar bem por isso.

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A geração dos nossos filhos sai e não espera voltar tão cedo. Vemo-los partir como outros pais viram partir os seus filhos desde há séculos à procura de melhor vida, onde possam cumprir plenamente os seus sonhos e o seu potencial, porque aqui é curto, sem perspetivas, e tão lento que ninguém ousa esperar.

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O ADN de uma nação não se muda da noite para o dia, quanto mais quando ele já leva mais de 800 anos bem consolidado.

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O mundo todo aqui tão perto pede-nos para acordarmos desta letargia infantil e nos tornemos pessoas conscientes e capazes de conduzir por si mesmas o seu próprio destino. E para isso podemos começar por aplicar na nossa esfera uma regra bem simples, mas capaz de gerar um resultado poderoso: Não deixar que o Estado faça o que podemos fazer por nós mesmos (ou com outras famílias ou grupos), e não fazer por nós mesmos o que os nossos filhos (ou quem depende de nós) podem fazer. Chama-se subsidiariedade, e gera maturidade.

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