Lisboa vai organizar a Jornada Mundial da Juventude. Um evento religioso importante, a realizar em agosto deste ano, para o qual se vai fazer um altar-palco de cinco milhões de euros.
Cinco milhões de euros é muito dinheiro para um país endividado, que não nada em dinheiro e com muitas prioridades, incluindo matar a fome aos pobres.
Lembro que Portugal tem dois milhões de pobres e outros dois milhões que só não são considerados pobres porque recebem subsídios do Estado.
Falamos em cinco milhões de euros para a construção do altar-palco, mas todos sabemos como as obras começam e como acabam. Não tarda e voltamos a discutir as recorrentes derrapagens, o défice, a dívida e a corrupção.
É claro que o palco pode ser um investimento para eventos futuros ou para reabilitar a zona em causa e o retorno compensar os gastos, sendo portanto um negócio lucrativo.
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Foi este o argumento de Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, para justificar tão avultada quantia para um palco a usar num momento específico, uma semana.
Acontece que os portugueses já ouviram estas mesmas explicações aquando da construção dos estádios de futebol para o “Euro 2004”, e por isso têm muitas razões para duvidar da argumentaria.
Basta ver a utilidade do estádio do Algarve, que é basicamente nenhuma, e as despesas de manutenção que exige para se manter ali uma coisa que não serve para coisa alguma, face ao dinheiro que lá foi torrado.
Acreditando que a escolha desta construção é boa, há um aspecto que não pode ser descurado, que é a ética da coisa. E, sendo que a própria Igreja Católica fez exigências para a construção deste altar-palco e nestas dimensões, a questão ética ainda é mais pertinente.
O cristianismo através das suas diferentes Igrejas existe, em teoria, para ajudar os pobres. Por isso, condena a opulência, o desperdício e pede solidariedade dos mais fortes e ricos para com os mais fracos, que quase sempre são pobres e/ou desesperados.
A Igreja Católica, que é uma igreja cristã, tem essa missão e foi exatamente por isso que o imperador Constantino se “aproveitou” do legado de Cristo para unir e dar alento aos romanos e assim tentar evitar a eminente queda do império romano. Uma religião que pensava nos mais desfavorecidos e o exemplo que foi a vida de Cristo eram o ideal.
Conseguiu, contra alguns, institucionalizar o cristianismo e torná-lo a religião oficial do império romano.
Até ali o cristianismo era uma religião de tribos, dispersa geograficamente e em constante conflito.
Portanto, se não fosse Constantino talvez hoje nem soubéssemos quem era Cristo e muito menos se existiria a Igreja Católica.
Dito isto, as cerca de duas mil personalidades que vão pisar aquele altar, incluindo o Papa Francisco, vão entrar em contradição com a mensagem de Cristo.
Não vão estar ao nível dos seus fiéis, não vão dar o exemplo, e mais uma vez a Igreja Católica vai olhar de cima para baixo, do altar para a plateia, do alto das suas regalias para quem as paga sem as ter e sem as questionar: os crentes.
Sim, os “crentes” que também na sua grande maioria são pobres, fracos e necessitados.
Neste caso, o altar-palco é pago por crentes e não crentes: os contribuintes.
Que por estas e por outras caminham para a pobreza, que por sinal dá a razão de existir à Igreja Católica.
Talvez por isso, não interessa acabar com a pobreza!
1 comentário
Tem toda a razão, Damião. Não se compreende esta mostra de riqueza num pais á beira da rotura.