Editorial

O BUSÍLIS E O “A VER VAMOS”
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Joaquim Letria

Joaquim Letria

Professor Universitário

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As mensagens sobre a pandemia e os cuidados para nos defendermos confundem as ideias de muita gente que por vezes não compreende aquilo que as autoridades transmitem.

A história das máscaras é uma história antiga mas é o retrato da confusão oficial das mensagens. Começámos por ouvir que a máscara até era contraproducente, depois recomendaram-nos o seu uso em transportes públicos, a seguir em recintos fechados e finalmente desembocámos no uso obrigatório das máscaras, o qual felizmente hoje é praticado por quase toda a gente mais cuidadosa.

Durante semanas a fio ouvimos recomendarem-nos o confinamento, o qual serviu para demonstrar o civismo do nosso povo, merecedor de justos elogios e a razão principal da contenção verificada em mortes, contágios, internamentos e ingressos em cuidados intensivos.

Passámos por dois estados de emergência e estamos a sair dum estado de calamidade. De repente, o Primeiro  Ministro vai tomar o pequeno almoço a Benfica, leva um amigo a almoçar ao Bairro Alto e vai com a mulher às compras na Baixa. Mesmo com todas as recomendações para sairmos, para consumirmos, para comermos fora, para passearmos pela cidade, não se verificou grande resultado porque para além daqueles que saem por necessidade absoluta, para trabalharem e abastecerem-se, a maioria das pessoas ainda não larga a casa porque o seguro morreu de velho.

Evidentemente que eu compreendo a necessidade do regresso ao trabalho, a escolha entre as aulas presenciais ou virtuais, as fábricas e empresas a trabalharem para se salvarem como o Presidente da República e o Primeiro Ministro mostraram na Auto-Europa, toda ela preparada para receber em segurança milhares de trabalhadores. O busílis de toda esta questão são os pormenores, a falta de educação e o desleixo de muitos de nós.

À porta dum talho assisti a um cavalheiro sem máscara a escarrar para o chão, noutra ocasião tive grande dificuldade em afastar a minha cadela dum lenço cheio de sangue que alguém jogou dum automóvel, assisti ao problema duma lojista em afastar um cliente que abria os cotovelos em cima do balcão e mexia com as mãos nuas nos produtos expostos e sei duma empregada doméstica que não usa máscara e acha estes cuidados todos um exagero.

O ministro do Ambiente diz que a praia pode ter semáforo vermelho mas ninguém está proibido de lá ir. Vai haver segundo surto? Uns dizem que sim, outros dizem que não. Em quem acreditar? É o caso dos “briefings” que saúdam resultados positivos e o desabafo duma médica de família dum amigo meu: ”Oh meu caro senhor! A procissão ainda vai no adro…”

 Muito cuidado e saúde para vocês todos! Atentos  ao  busílis, para nos safarmos. A ver vamos…

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