Editorial

O Comércio Tradicional está condenado a acabar
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Damião Cunha Velho

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Damião Cunha Velho

Já lá vai o tempo em que ir à loja da esquina era um pretexto para uma conversa, ouvir um conselho e decidir comprar um qualquer artigo.

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A confiança no vendedor era meio caminho andado. Palavra dada, palavra honrada.

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Hoje, o comércio tradicional atende da mesma forma que o das lojas das grandes cadeias e com muitas desvantagens se fizermos a comparação.

Desde logo os horários. Estas lojas estão abertas todos os dias e em alguns espaços até às 23 horas. O comércio tradicional fecha às 19 horas e não está aberto ao sábado de tarde nem ao domingo.

Depois, permitem a troca de artigos ou a devolução do dinheiro num período por vezes superior a um mês após o dia da compra.

No comércio tradicional uma vez feita a compra dificilmente é devolvido o dinheiro, quando muito apenas permitem a troca por outro artigo.

Por fim, quem comprar nestas lojas não se sente constrangido quando vai fazer a troca ou a devolução do artigo, já que não é conhecido do funcionário que atende e nem mesmo esse funcionário faz grandes perguntas sobre o porquê da devolução. Devolve o dinheiro ou permite a troca e pronto.

Este procedimento absolutamente rotineiro nestas lojas também incentiva, por outro lado, às compras impulsivas, que nos acontecem muitas vezes, porque sabemos que uma vez chegados a casa, ao refletir melhor sobre a compra, sempre temos à mão a possibilidade de devolver o artigo comprado.

 

Enfim, o comércio tradicional não está a acompanhar o proposto pelas grandes lojas multinacionais.

Também dificilmente consegue ter preços competitivos, porque compra em quantidades menores que os “grandes”. E, decidir comprar exatamente as mesmas calças entre um e o outro a preços diferentes, o cliente não hesita pelo mais barato.

A tendência será, a meu ver, que o comércio tradicional acabe. Exceto naquilo que as grandes cadeias não oferecem. Na restauração, por exemplo, este novo comércio não faz grande mossa porque ninguém se vai deslocar quilómetros para o almoço do dia-a-dia. Sobrarão, portanto, os cafés, restaurantes e pouco mais.

Também existe agora o grande “supermercado” do mundo através da internet e sem sair de casa, a Amazon, em que num dia se compra e no dia seguinte o artigo é entregue em casa e com as mesmas possibilidades de devolução.

 

Os preços, a possibilidade de devolução e os horários são o grande atrativo destas cadeias multinacionais.

 

Até na devolução dos artigos há um lado de chico-espertice que já observei. Pessoas que compram artigos de manhã com cartão de crédito e os devolvem à tarde. Recebem a devolução em dinheiro e conseguem um crédito a zero juros porque a conta da compra só lhes é apresentada pelo banco no mês seguinte.

 

Tudo converge para que o comércio tradicional deixe de ser atrativo e o poder das associações comerciais perante estes “enormes” tem pouca força.

 

Nos meios pequenos, onde eu vivo, muitos comerciantes quando nos viam com umas sapatilhas compradas nessas lojas ficavam com uma simpatia comprometida, em vez de nos agradecerem por toda a vida lhes termos comprado nas suas lojas.

Também houve tempos em que só existia o comércio tradicional e os lojistas punham em saldo aquilo que ninguém queria. Os “monos”.

Quando um cliente habitual se fazia para um saldo o vendedor não mostrava muito interesse em vender e inventava que não tinha o número que o cliente gastava. Isto porque sabia que aquele cliente era fiel e lá voltaria para comprar fora da época de saldos.

A mim já me aconteceu.

Isto no passado, agora já não é exatamente assim.

Houve anos dourados para muitos comerciantes do comércio tradicional, com as devidas exceções como é óbvio.

 

Esta tendência de comprar mais no não convencional tem a ver com a massificação.

Se repararmos no início dos automóveis só alguns os poderiam adquirir. Henry Ford conseguiu tornar o carro num consumível que hoje chega a todos. O mesmo está a acontecer no turismo com voos e hotéis low cost. Antes viajar era para os ricos agora quase todos viajam. O mundo pode estar a transformar-se num grande churrasco onde todos podem participar. Não é uma crítica, mas uma observação que me parece pertinente, porque só é possível fazer preços acessíveis quando se industrializa o produto ou o serviço. E o retorno está na compra pelo maior número de pessoas – as massas.

 

Fico, de facto, com a convicção que o comércio tradicional, por tudo o que referi, com as exceções citadas, tem os dias contados.

Não sei se para o bem ou para o mal mas há coisas que são imparáveis e quem sabe o mundo no futuro não passe de um gigantesco Big Mac!

 

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