Editorial

O CUIDADOR INFORMAL: “AMOR COM AMOR SE PAGA”!
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Sara Filipa

Sara Fernandes

Médica

 

 

O aumento da longevidade e as alterações demográficas, com tendência progressiva para o envelhecimento populacional, traduzem-se também num maior número de patologias crónicas e de dependência. São crescentes as necessidades de cuidados por longos períodos.

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É um problema social acentuado, um desafio a enfrentar. A institucionalização não deverá ser a única resposta, é premente racionalizar os recursos da sociedade e enfatizar o papel do cuidador informal.

O cuidador poderá ser um familiar, mas também um amigo, um vizinho ou mesmo alguém sem vínculo familiar. É, amiúde, não remunerado e presta cuidados a alguém, por motivo de doença ou necessidade prolongada de cuidados. Pode auxiliar nos cuidados pessoais, na gestão financeira, toma medicamentosa, entre muitas outras funções.  O seu valioso trabalho deve ser valorizado e aproveitado.

     

Cada pessoa é um ser único, com caraterísticas individuais dinâmicas; e o padrão de declínio é heterogéneo. Na terceira idade há uma diminuição das capacidades físicas, mentais e sensoriais. A vulnerabilidade é frequente. O cuidador informal será preponderante para que sejam respeitados os valores, os princípios, os contextos de vida e a dignidade do idoso que necessita de cuidados. Facilitará a compreensão do sofrimento que este poderá estar a passar diariamente e influenciará positivamente para que as intervenções sejam as mais ajustadas e personalizadas.

O cuidador tem um papel fundamental na equipa de saúde.

Patologias neurodegenerativas são mais frequentes nos idosos. São inerentemente associadas a dependência e limitações. O cuidador que apoia o idoso diariamente terá plena noção destas necessidades e dificuldades. Poderá explicar com mais clareza a condição do idoso, o que será proveitoso para o profissional de saúde estruturar o plano de intervenção mais apropriado.

O cuidador informal conseguirá explanar, relativamente ao idoso, as atividades que este consegue executar, qual o grau de preservação da memória a curto e longo prazo; detetará possíveis alterações do estado de consciência ou da personalidade, uma vez que executa uma supervisão e acompanha as rotinas do dia-a-dia.

 

O cuidador informal terá conhecimento do controlo de eliminação urinária e fecal por parte do idoso.

Esta informação ao ser veiculada ao profissional de saúde, levará a que o mesmo estruture uma intervenção diferente, por exemplo, a nível dos fármacos prescritos.

Os cuidadores poderão estimular as pessoas idosas e a torná-las mais autónomas.

Sabendo que a inatividade física é fator de risco para doenças crónicas, o cuidador informal poderá ajudar a incentivar à prática de exercício e à adoção de hábitos saudáveis, essenciais para uma vida com qualidade e bem-estar. O cuidador tem uma posição estratégica, o seu incentivo e companhia poderá ser fulcral para o idoso inicie ou mantenha a atividade física. Ajudará certamente, a cumprir as orientações do profissional de saúde. 

Os mesmos princípios se aplicam na alimentação saudável. A ajuda na confeção das refeições e o convívio à mesa é primordial, não só para colmatar uma necessidade física, mas ainda a este momento de partilha acrescem benefícios a nível cognitivo e emocional. Além de cooperar com o profissional de saúde para a instituição de uma alimentação saudável, o cuidador agirá para que o idoso cumpra um número adequado de refeições e ingira a quantidade água recomendada. Se o idoso estivesse sozinho seria provável que saltasse refeições e não tivesse um bom nível de hidratação, porque, muitas vezes, há uma diminuição da perceção de sede.

A polimedicação é muito frequente nesta faixa etária, sendo difícil para o idoso cumprir autonomamente o plano terapêutico. O cuidador informal é muito vezes quem faz a gestão dos horários das tomas e evita os eventuais esquecimentos. Estará também atento a possíveis reações adversas, que além de serem mais comuns nos idosos, também haverá uma maior probabilidade de sucederem quanto maior for o número de medicamentos ingeridos.

Quanto à prevenção de quedas e lesões, o cuidador, em articulação com o profissional de saúde, organizará o domicílio para o risco seja o menor possível e a mobilidade seja facilitada. Caso alguma queda ou lesão suceda, ajudará na devida reabilitação, no sentido de promover o máximo de autonomia possível.

Pode-se mencionar igualmente a área das tecnologias. O cuidador informal poderá ensinar o idoso a utilizar o telemóvel, a internet, a comunicar por chamadas de som/vídeo, etc. Poderá conseguir que este tenha um contacto mais direto com o seu profissional de saúde, por exemplo através do telefone ou email. Uma das possibilidades será também o contacto com familiares ou amigos, o que levará a que o idoso se sentia mais incluído e satisfeito com a sua vida.

Além do supracitado, o cuidador informal colaborará no planeamento e nas tomadas de decisão quando são modificados os planos terapêuticos ou introduzidas novas intervenções.  Ter uma pessoa de sua confiança a participar nestas prescrições, capacitará o idoso para a adesão.

De facto, o cuidador informal tem papel relevante em inúmeras áreas de intervenção, no entanto, é necessário estar atento a sinais de stress ou depressão, que poderão surgir associado ao número elevado de tarefas desempenhadas, e que, por vezes, representam um trabalho de 24 sobre 24 horas. As redes de apoio a cuidadores são imprescindíveis para que este possa ter suporte quando se sinta sobrecarregado e encontre soluções para os desafios e frustrações diárias. 

Em epítome, a coordenação entre o cuidador informal e o profissional de saúde permite conhecer com abrangência a condição de saúde do idoso e, assim, facilitar a adesão à prescrição em saúde.

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