Editorial

O feitiço e o feiticeiro na greve dos professores
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Damião Cunha Velho

Os professores começaram, com greves e manifestações de rua, uma luta justa por melhores salários e melhores condições de trabalho.

Já escrevi aqui que lamento que os professores não reivindiquem também algo que foram perdendo ao longo das últimas três décadas e que sem a qual não se educa: a autoridade do professor.

É claro que a autoridade não se decreta, conquista-se. No entanto, há medidas que o Ministro da Educação pode tomar no sentido de ajudar os professores a serem mais respeitados pela sociedade. Poderia citar várias medidas, mas fico-me pela principal, sendo que todas as outras, a meu ver, convergem para esta: tornar a carreira docente atrativa, prestigiada e disputada.

 

A greve é um direito, um direito que foi difícil de conquistar, extremamente importante, que caracteriza qualquer democracia madura.

 

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Há setores de atividade que só muito recentemente o conquistaram, como é o caso dos polícias. É da memória de todos as lutas entre polícias fardados e polícias à civil naquilo que ficou conhecido como “secos e molhados”.

 

As greves, para surtirem efeito, têm que ter impacto e até causar um prejuízo momentâneo nos setores em causa.

No caso da greve dos professores, quem mais está a sofrer as consequências são os alunos.

Apesar dos constrangimentos também causados para a maioria dos pais, a verdade é que os pais e a grande parte da sociedade civil têm estado ao lado dos professores.

 

Independentemente da forma como o governo está a negociar com os professores, concordo com a requisição civil de professores.

É que a requisição civil é extremamente importante porque baliza o direito à greve no sentido em que impede abusos. Pois se a greve fosse um ato abusivo perdia toda a legitimidade e seria ilegal.

 

Repare-se que existem profissões que pura e simplesmente não podem parar totalmente e a dos professores não é exceção. Se isso acontecesse por um período excessivo de tempo a educação de uma geração poderia ficar comprometida para sempre.

Por exemplo, se todos os profissionais de saúde fizessem greve ninguém poderia adiar a morte até que eles voltassem ao trabalho. Daí a requisição civil para garantir os serviços mínimos.

 

É certo que os governos não se podem refugiar no argumento jurídico da requisição civil para fazer mais do que os serviços mínimos, porque isso também seria um abuso de um direito e outra ilegalidade.

Assim, sem a requisição civil, o direito à greve podia ser mais do que um direito quando esse direito fosse excedido, o que no limite poderia até configurar um crime. Basta pensar numa greve total na Saúde e as mortes evitáveis que iriam acontecer.

 

Dito isto, se os professores prolongarem por muito mais tempo esta greve, comprometendo com isso as notas dos alunos nos exames nacionais para acesso ao Ensino Superior, muito provavelmente os pais e a sociedade em geral, que os têm apoiado até aqui, deixará de os acompanhar.

 

Cabe, portanto, aos professores fazer esta ponderação sob pena de o feitiço se virar contra o feiticeiro!

 

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